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Dia do Combate ao Fumo - 29/08/2024, 06:15 - Paola Pedro

Tabagismo compromete saúde e relações familiares de viciados

O MASSA! ouviu fumante, ex-fumante e profissional especializada para entender a relação de pacientes e cigarro

Comemorado nesta quinta (29), Dia Nacional do Combate ao Fumo alerta para consequências trágicas do tabagismo
Comemorado nesta quinta (29), Dia Nacional do Combate ao Fumo alerta para consequências trágicas do tabagismo |  Foto: Reprodução/Freepik

Com uma nota de R$ 10 é possível abrir portas para um mundo repleto de malefícios físicos e sociais, que quase sempre destrói a vida de alguém: o tabagismo. Apresentando consequências muitas vezes irreversíveis, a longo prazo, o hábito de fumar foi responsável por pelo menos 8 milhões de mortes, por ano, no mundo. Cerca de 1,3 milhão das vítimas nem precisou levar um cigarro à boca.

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De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), do Ministério da Saúde, a fumaça do tabaco contém mais de 7 mil compostos químicos, sendo 69 deles cancerígenos. Essas substâncias atingem, principalmente, jovens de 18 anos ou mais, que, segundo pesquisa do Inca, registra a incidência de 10,3% de fumantes da faixa etária no Nordeste.

Um desses jovens registrados no levantamento do instituto é Felipe*, de 24 anos, que fumou por 6 anos consecutivos. Ele contou ao Portal MASSA! que tem procurado ajuda para se livrar do vício, mas não tem sido uma tarefa tão fácil.

“Meu primeiro contato com o cigarro foi devido a amizades. Queria parecer ‘descolado' na roda de amigos, então sempre que bebia eu procurava fumar para aparentar uma imagem de ‘rebelde'. Hoje eu sei que foi o maior erro da minha vida, pois se livrar do vício é um inferno”, relatou.

O estudante universitário apontou que o uso do cigarro já teve impactos imensos em sua vida social, apesar de ainda não apresentar consequências clínicas. “Decidi parar de fumar quando eu vi que não era isso que queria para meu futuro, vendo minha avó sofrer devido ao uso, vendo meu tio não poder ficar com o filho recém-nascido pois estava o puro cheiro de cigarro e a longo prazo eu notei que seria o próximo nessa longa lista”, falou.

Felipe* apontou ainda que “o passo mais difícil é realmente o primeiro passo” e para isso, os fumantes precisam de uma rede de apoio. “Já diminuí drasticamente o consumo, mas tive que me submeter ao pod para manter a nicotina no organismo. Tentei parar de vez, mas vivi em estresse imenso”, detalhou.

Lutando contra o vício, o universitário, agora ex-fumante, aproveitou para aconselhar outros jovens: “Não cometam esse erro! Vocês vão começar a querer fumar quando bebe, depois vão fumar sem beber e, quando menos esperar, vão estar refém de um vício horrível de controlar. Vai feder, vai ser ‘mal visto’ na sociedade, vai incomodar outras pessoas e podem perder uma vida imensa pela frente.”

Carlos* tentou seguir um conselho parecido, mas acabou se rendendo novamente aos efeitos do tabagismo. Aos 38 anos, o produtor retomou o vício em 2018, quando encontrou no cigarro uma “alternativa” para o tratamento de ansiedade.

“Meu primeiro contato com cigarro foi através de meus pais, que sempre fumavam. Mas não foi amor à primeira vista: com 13 anos comecei a fumar para parecer mais velho e descolado no colégio, mas parei ao ver que não tinha fundamento. Voltei a fumar aos 33 anos de idade para evitar de tomar remédio para ansiedade. Procurei maconha (não me fez bem), paieiro (me deixava com pigarro) e até tabaco (peguei uma laringite)... a única coisa que me fazia ‘bem’ era cigarro”, detalhou ao Portal MASSA!.

O fumante contou que se preocupa com a saúde e costuma ir ao médico regularmente, mas nunca motivado pelo consumo de tabaco. Ele afirmou que, mesmo não considerando viver nenhuma consequência drástica relacionada ao vício, em “determinadas épocas do ano, tenho pigarro e tosse seca. Acredito que sejam ligados a fatores climáticos, mas sinto que se não tivesse o cigarro passaria mais tranquilo”.

Carlos* confessou que já tentou parar de fumar várias vezes, mas a influência, rotina e trabalho não colaboram para que ele largue o vício de vez. “Já fiz propósito, promessa… sinto que ainda não estou preparado pra deixar esse grande amigo, mas tenho consciência que tenho que parar”, finalizou.

Comemorado nesta quinta (29), Dia Nacional do Combate ao Fumo alerta para consequências trágicas do tabagismo
Comemorado nesta quinta (29), Dia Nacional do Combate ao Fumo alerta para consequências trágicas do tabagismo | Foto: Reprodução/Freepik

A relação dos pacientes com esse “grande amigo” é clinicamente observada por Ninna Beatriz Freitas e toda a equipe de Atendimento Integrado da Secretaria de Saúde de Salvador (SMS). A assistente social que atua nas Unidades de Saúde da Família da Boa Vista do Lobato e Jaqueira do Carneiro dividiu com o Portal Massa! que atende fumantes há quase 10 anos de cumprimento do Programa Nacional de Combate ao Tabagismo (PNCT).

A equipe formada pela assistente social, juntamente com uma psicóloga, uma dentista, um preparador físico e uma fisioterapeuta, precisou se adaptar à realidade local para alcançar os pacientes da região. Ninna contou que são recebidos na unidade os mais variados perfis de cidadãos, desde jovens a idosos, homens e mulheres.

Imagem ilustrativa da imagem Tabagismo compromete saúde e relações familiares de viciados
Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

“Já percebemos que para começar o programa, realmente precisamos ter os adesivos de nicotina na farmácia da unidade. A partir dos insumos, a gente faz nossa programação. A gente sempre tem reunião primeiro de planejamento para ver quantos pacientes a gente vai conseguir atender de acordo com a quantidade de adesivo que tem no posto. O próximo passo é acionar os agentes comunitários de saúde. A gente divulga que vai abrir a inscrição no período de, geralmente, uma semana”, detalhou.

“Pela experiência do grupo, sabemos que não adianta outra pessoa inscrever a não ser o próprio paciente que deseja parar de fumar, porque às vezes a gente vê que tem muita pressão da família para se inscrever e a pessoa não vai. Então, a gente pede pros agentes olharem que, se o paciente tem realmente interesse, que venha na recepção da unidade colocar o nome e contato”, continuou.

A assistente social também dividiu os novos desafios que aparecem no dia-a-dia dos profissionais, como a difusão dos cigarros eletrônicos, principalmente entre jovens e adolescentes.

“Agora vem os vapes, que a gente não trabalhava, mas está tendo que se adaptar, porque está sendo usado principalmente pelos jovens. Temos visto muita adesão de jovens ao uso desses cigarros eletrônicos e sabemos que é um mal ainda maior do que o cigarro convencional”, disse.

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Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

“Nesse último encontro, um paciente até chorou, porque ele brigou com a esposa e com o filho por causa do cigarro. Muita gente vem e fala ‘meu filho ou neto não me abraça porque estou com o odor do cigarro’ ou ‘se estou em uma festa, tenho que sair pra fumar porque naquele ambiente não tem nenhum fumante’. Então vários sentem essa exclusão social, tanto com amigos quanto com família”, contou.

“Às vezes são os familiares que ficam querendo que a pessoa pare de fumar, [fazendo] aquela pressão psicológica muito grande e isso é um sofrimento. Alguns já trouxeram filhos, sobrinhos e netos para participar do grupo e dar um apoio de forma mais ativa, porque a pressão realmente não funciona. Ao contrário, sente mais vontade de fumar e aí acaba tendo uma recaída. Para tentar da forma mais tranquila possível, o adesivo vem justamente para combater a dependência da nicotina, que também se torna física, comportamental e emocional. O cigarro se torna um amigo deles a vida toda, como se fosse membro da família”, continuou.

Apesar dos desafios, também ligados às relações dos pacientes com suas respectivas famílias, amigos e conhecidos, Ninna Freitas pôde relatar casos bem sucedidos de recuperação ou bom desempenho na caminhada contra o vício em cigarros.

“Deixando os profissionais desempenharem seu trabalho, a família pode dar o apoio sem ser um fator de estresse, para que o paciente não fique ansioso e recorra ao cigarro. Esse mesmo [paciente] falou, que ‘olha, agora meu filho me abraça e me beija. Antes ele não fazia, porque eu só fedia a cigarro’. Então você vê como até um vício atrapalha as relações familiares e sociais, e quando a pessoa consegue se libertar desse vício se percebem mudanças físicas e, principalmente, psicológicas. E aí é benefício para todo mundo: para o paciente, para toda a família, amigos, enfim, desencadeia em toda relação”, finalizou a profissional.

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Foto: Divulgação/Ministério da Saúde

No Dia do Nacional de Combate ao Fumo, comemorado nesta quinta-feira (29), a campanha 2024 foca em alcançar gestantes. Com o tema “Tabagismo: os danos para a gestante e para o bebê”, a campanha alerta para os malefícios que o cigarro pode causar tanto para a futura mamãe quanto para o bebê, como o parto prematuro, baixo peso, malformações congênitas e síndrome da morte súbita ao nascer.

*Os nomes utilizados nesta matéria são fictícios

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