
Em um mundo cada vez mais apressado, onde o tempo escorre pelos dedos, entre compromissos, telas e distrações, o afeto parece ter se tornado artigo de luxo. Mas, para o poeta e escritor Fabrício Carpinejar, é justamente nesse tempo contado que o carinho, o cuidado e a atenção podem e devem se tornar ferramentas de cura para os males da atualidade.
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“Se você está apressado, você não enxerga quem está ao lado nem a si mesmo”, afirma Carpinejar, em entrevista exclusiva ao MASSA!. O poeta defende que a pressa é o oposto do afeto, porque nos tira do presente.
“Você está no passado, lamentando o que perdeu, ou no futuro, planejando o que virá. Nunca está no presente. E o afeto depende da atenção. Ou seja, de estar com a mente e o corpo no mesmo lugar”, explica.
Ao falar de saúde mental, Carpinejar aponta que o sofrimento emocional contemporâneo está diretamente ligado à maneira como tratamos o tempo e as relações. “A falta de tempo é, na verdade, falta de vontade. Falta de prioridade. A gente se ocupa para não fazer aquilo que realmente interessa. Fugimos do nosso propósito”.
O poeta acredita que a cura possível vem do que chama de “visitas curativas”, pequenos gestos de presença que têm um poder transformador. É sobre oferecer dez, quinze minutos ao outro, que podem mudar o rumo de um relacionamento. Podem fortalecer um afeto máximo. A gente perdeu o valor das visitas rápidas, dos encontros simples. Nem tudo precisa ser longo, mas precisa ao menos ser.
Além do tempo, a escuta é outro pilar central no pensamento do poeta. Mas ele alerta: escutar verdadeiramente exige disposição e interesse pelo outro. “A gente não quer escutar. Quer apenas passar, escutar só o que nos interessa. É uma escuta egoica”.
No meio do que chama de “Alzheimer digital”, em que mal lembramos o que fizemos ontem, Carpinejar observa um fenômeno ainda mais triste: a erosão da saudade. “Antes a gente morria de saudade. Hoje a gente só sente falta. Porque para ter saudade, precisa ter memória, mas não criamos memórias de nada, porque não damos atenção a nada”, reflete Carpinejar.

Quando questionado sobre o futuro das relações humanas sem o resgate do afeto como valor central, o poeta é direto sobre o que acredita que se perpetuará: crise de pânico, de ansiedade, síndrome de burnout. Estaremos cada vez mais aflitos.
Mas Carpinejar também oferece um caminho: presença, pausa e sensibilidade. “As pessoas não querem seu conselho. Elas só querem que você diga que elas não estão loucas”, resume. As pessoas não querem ser vistas, querem ser percebidas.“Ver é esquecer. Perceber é memorizar. Ver é não parar. Perceber é se concentrar”.
Como cita o cantor Lenine, “enquanto o mundo gira cada vez mais veloz, a gente espera do mundo, e o mundo espera de nós um pouco mais de paciência”. E o mundo espera um pouco mais de percepção também. Pensar nisso é um convite a parar, a respirar e a perceber.
Palestra em Salvador
Em Salvador, a palestra “Cura pelo Afeto” promete ser uma experiência sensível e impactante. A apresentação do poeta Fabrício Carpinejar mistura contação de histórias, poesia e reflexão profunda sobre os sentimentos que nos atravessam. “É impactante. Porque você não sabe bem o que eu sou. Ser uma palestra, ser teatro, ser catarse”, define Carpinejar. Segundo ele, o formato se aproxima de um monólogo, pela entrega emocional e intensidade de cada relato compartilhado.
Além da reflexão, Carpinejar também convida à presença: “Traga a família, traga os amigos, traga mesmo gente, porque você vai querer depois da palestra ou teatro dividir suas impressões com alguém”.
O evento será no próximo dia 24 de maio (sábado), às 19h, na Casa Salvatore, localizada no bairro do Cabula. Os ingressos estão à venda na plataforma Sympla, e ao final da apresentação, o poeta atenderá o público para fotos.