
O câncer colorretal é o segundo mais frequente entre homens e mulheres no Brasil, ficando atrás apenas do câncer de mama e de próstata. Em meio ao Março Azul-Marinho, campanha de conscientização sobre a doença, especialistas reforçam a importância da prevenção e do diagnóstico precoce para aumentar as chances de cura.
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De acordo com o oncologista Dr. Eduardo Moraes, do Grupo Oncoclínicas, qualquer pessoa pode desenvolver a doença, mas alguns fatores elevam significativamente os riscos. “A idade é o principal fator. O risco aumenta a partir dos 50 anos, mas estudos recentes indicam um crescimento dos casos em pacientes mais jovens, a partir dos 45 anos”, explica o médico. Além da idade, o histórico familiar e doenças como a síndrome de Lynch e condições inflamatórias intestinais são aspectos que podem favorecer o desenvolvimento do câncer colorretal.
Apesar da predisposição genética ser um fator determinante para alguns casos, a grande maioria dos diagnósticos, cerca de 80%, está diretamente ligada a hábitos de vida. “O consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, como carnes embutidas, salsichas e presuntos, além da obesidade, sedentarismo, tabagismo e o consumo exagerado de álcool, são fatores ambientais que aumentam o risco da doença”, destaca Dr. Moraes.
O médico ressalta que a mudança de hábitos pode reduzir consideravelmente as chances de desenvolver o câncer colorretal. “Diferente dos fatores genéticos, que não podem ser alterados, a adoção de uma alimentação saudável e a prática regular de atividades físicas são medidas eficazes de prevenção”, reforça.
Os sintomas iniciais do câncer colorretal podem ser confundidos com problemas intestinais comuns, o que muitas vezes retarda o diagnóstico. Alterações no ritmo intestinal, como diarreia ou prisão de ventre persistentes, presença de sangue nas fezes, anemia inexplicável e perda de peso são alguns dos sinais de alerta.
“O sangue nas fezes é um sintoma importante, mas muitas pessoas o associam apenas a hemorroidas e não procuram ajuda médica. Quem tem mais de 50 anos ou histórico familiar da doença deve realizar exames preventivos, como a colonoscopia”, enfatiza Dr. Moraes.
A colonoscopia é um exame fundamental para a detecção precoce do câncer colorretal, sendo recomendada para pessoas acima de 50 anos, mesmo sem sintomas. Nos Estados Unidos, já há recomendações para que o exame seja feito a partir dos 40 anos, tendência que começa a ser seguida por algumas sociedades médicas no Brasil.
Apesar dos avanços no diagnóstico e no tratamento da doença, o acesso à colonoscopia e a outros procedimentos ainda é um desafio no Brasil, principalmente no Sistema Único de Saúde (SUS). “O SUS enfrenta dificuldades na oferta desses exames, e os pacientes muitas vezes aguardam meses na fila para conseguir atendimento. No câncer, o tempo é essencial, e essa demora pode comprometer o sucesso do tratamento”, alerta o oncologista.
Outra barreira enfrentada por muitos pacientes é o custo das medicações mais modernas para os casos avançados da doença, que ainda não estão amplamente disponíveis no SUS ou nos planos de saúde.
Nos últimos anos, a medicina tem avançado no combate ao câncer colorretal. Cirurgias minimamente invasivas, como as laparoscópicas e robóticas, reduzem o trauma cirúrgico e aumentam a precisão na remoção dos tumores. Além disso, novas técnicas de quimioterapia e radioterapia permitem um tratamento mais eficaz e com menos efeitos colaterais.
“A quimioterapia evoluiu bastante. Hoje, conseguimos minimizar sintomas como enjoo e diarreia, e, em muitos casos, o paciente não sofre queda de cabelo”, explica Dr. Moraes. Ele também destaca o papel da imunoterapia, tratamento que estimula o próprio sistema imunológico a combater as células cancerígenas, com resultados promissores para alguns subgrupos de pacientes.
As chances de cura do câncer colorretal variam conforme o estágio em que a doença é diagnosticada. Nos estágios iniciais, quando o tumor ainda está localizado, as chances de cura são bastante altas, podendo chegar a 90% ou até 95%. Se detectado em uma fase inicial, mas já com um pouco mais de progressão, essa taxa pode variar entre 85% e 90%.
Já nos casos em que o câncer se encontra em estágio avançado, as chances de cura diminuem significativamente, variando entre 30% e 80%, dependendo do nível de disseminação da doença e da resposta ao tratamento.
Mesmo com esses avanços, o melhor caminho continua sendo a prevenção. “O câncer que não acontece é o melhor de todos. O cuidado com a alimentação, a prática de exercícios e os exames preventivos são as armas mais eficazes contra a doença”, conclui o especialista.