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Fique sabendo - 14/07/2024, 06:45 - Paola Pedro

É possível engravidar já estando grávida! Entenda a superfecundação

A especialista Sofia Andrade contou ao MASSA! detalhes e mitos sobre gestação múltipla

Fenômeno raríssimo é abordado na novela “Pedaço de Mim”, original da Netflix
Fenômeno raríssimo é abordado na novela “Pedaço de Mim”, original da Netflix |  Foto: Divulgação/Netflix

Desejada por muitas mulheres e o maior medo de outras, a gestação é um período de muitas surpresas, emoções e cuidados. Enfrentar nove meses de descobertas e novas sensações pode parecer assustador e, na maioria das vezes, o misto de sentimentos acontece logo ao encarar o resultado positivo de um teste de gravidez.

Mas já imaginou descobrir que está esperando um bebê e logo após descobrir que está aguardando outro bebê? Confuso, não é?! Isso é mais ou menos o que acontece com a personagem Liana, da nova novela original da Netflix, “Pedaço de Mim”.

Na trama, a terapeuta ocupacional interpretada pela atriz Juliana Paes precisa lidar com uma gestação gemelar, na qual cada um dos fetos foi fecundado por um homem diferente: Tomás (Vladimir Brichta), seu marido, e Oscar (Felipe Abib), melhor amigo de seu falecido irmão e seu abusador. Porém, até que ponto a trama da série que atingiu o 3º lugar das produções mais assistidas em todo o mundo deixa de ser real e se torna apenas ficção?

O Portal MASSA! ouviu a médica ginecologista Sofia Andrade, especialista em Fertilidade e Reprodução Assistida e doutoranda em Genética Embrionária, para esclarecer os mitos e verdades dessa condição pra lá de esquisita.

Antes de desvendar todos os questionamentos relacionados ao assunto, a médica fez questão de ressaltar que as produções audiovisuais têm a liberdade poética de abordar assuntos reais com pitadas de ficção e isso não invalida o produto, mas faz chamar atenção para que as pessoas procurem orientação especializada em casos de dúvidas.

“Nem todas as informações colocadas na série são completamente reais. Por exemplo, não tem como ter a ciência e/ou certeza da heteropaternidade de maneira intrauterina. Vários exames genéticos podem ser feitos, mas não é indicado realizar procedimentos desse tipo [retirada de líquido amniótico, como retratado em “Pedaço de Mim”], porque é perigoso, muito invasivo. Exames de sangue não conseguem esclarecer a paternidade e, por isso, geralmente são realizados após o nascimento”, explicou a doutora Sofia.

Sofia Andrade é médica ginecologista, especialista em Reprodução Assistida e Fertilidade, doutoranda em Genética Embrionária e professora da UNEB
Sofia Andrade é médica ginecologista, especialista em Reprodução Assistida e Fertilidade, doutoranda em Genética Embrionária e professora da UNEB | Foto: Arquivo Pessoal

A especialista em Fertilidade e Reprodução Assistida confirmou que casos de super (ou hiper) fecundação natural são extremamente raros, principalmente quando há o acompanhamento apropriado de profissionais, com ou sem o processo de fertilização in vitro (FIV). Apesar da baixíssima incidência, ela reforçou que, caso ocorram, as situações devem ser acompanhadas por profissionais capacitados.

Sofia Andrade afirmou que atualmente existe uma preocupação na comunidade médica em implantar apenas um óvulo nas pacientes de FIV, para que se evite gestações gemelares, principalmente múltiplas, com a formação de trigêmeos, quadrigêmeos ou mais bebês, porque “não tem vantagens, só riscos”.

“Quando não se utiliza nenhuma medicação, na maioria das vezes a mulher vai ter apenas um óvulo disponível a cada mês. Apesar de termos vários folículos no ovário, os colocamos em uma espécie de vitrine para o organismo escolher um e desenvolvê-lo, para se romper e a mulher ovular. Utilizando medicações que estimulam os folículos, a gente consegue fazer com que mais de um folículo cresça e, quando chega no período fértil, ela tem vários, dependendo da dose medicamentosa”, esclareceu.

“Seguindo para um tratamento como fertilização in vitro, eu estimulo bastante e tenho o controle dos óvulos no laboratório, não deixo que ela ovule espontaneamente. Assim, não ocorre risco de superfecundação. Já em ciclos de coito programado, pode ser que ela tenha mais folículos estimulados. Se ela ovula cinco óvulos, por exemplo, corre o risco de cada um encontrar um espermatozóide e ocorrer gestação múltipla, o que não é desejado por conta dos riscos”, continuou.

Durante a fertilização in vitro, os óvulos são monitorados em laboratório e controlados por profissionais
Durante a fertilização in vitro, os óvulos são monitorados em laboratório e controlados por profissionais | Foto: Reprodução/Freepik

A médica Sofia Andrade expôs ainda quais implicações os fetos gerados em momentos diferentes podem ter durante seus desenvolvimentos. De acordo com a médica, esses bebês e a mãe vão encarar as dificuldades de uma gestação múltipla “comum”, com o aumento das possibilidades de aparecimento de diabetes gestacional, hipertensão, óbito, nascimento prematuro, sangramentos e cesárea.

“Na maioria das vezes, essa situação de idade gestacional diferente não é tão relevante assim. Quando a paciente engravida, de fato há uma tendência do ovário entrar em repouso, então dificilmente essa fecundação vai ocorrer em outro ciclo menstrual. A diferença de tempo não costuma ser um grande problema”, disse.

Casos da vida real
A doutora Sofia compartilhou com o Portal MASSA! sua vivência com casos de superfecundação, mesmo sendo um fenômeno raro. Pelo menos duas situações chamaram atenção da especialista, que tem um currículo vasto na área.

“Uma das nossas pacientes teve uma gestação ectópica, na qual o bebê estava se desenvolvendo fora do útero. Com o passar do tempo, ele não conseguiu mais se desenvolver e entrou em abortamento, mas, pra nossa surpresa, ela conseguiu fecundar outro óvulo e desenvolver uma gestação tópica, com um parto saudável”, relatou.

“Em outro caso, a paciente ovulou e sabíamos que existia outro folículo menor em crescimento. Inicialmente, ela ovulou apenas do maior, mas o menor continuou crescendo. Durante os exames de Beta HCG, percebemos que ele continuava aumentando e o resultado era incompatível com apenas um feto. Descobrimos que aquele folículo menorzinho também havia sido fecundado depois”, contou.

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