
Uma pesquisa sobre dermatite atópica (DA) realizada pelo Instituto Lumini a pedido da Pfizer, revelou que um dos principais impactos da doença é ansiedade e depressão. Intitulado “A vida com dermatite atópica no Brasil”, o levantamento foi lançado ontem com resultados inéditos que mostram as consequências da doença, pouco conhecida no país. Na oportunidade, a Pfizer também lançou o medicamento Cibinqo (abrocitinibe), para tratamento da DA.
A apresentação da Dra. Mayra Ianhez, dermatologista e professora da Universidade Federal de Goiás, aclarou que a dermatite atópica é uma doença crônica (que não tem cura), e não possui até então uma medicação para o controle adequado dos sintomas. “É uma doença caracterizada por lesões e coceiras intensas com pele seca, geralmente existe um histórico familiar e tem novos tratamentos chegando como uma revolução da doença, porém, ainda existe uma proporção considerável de pacientes que continuam sem um controle adequado”, explicou.
A Dra. Adriana Ribeiro, diretora médica da Pfizer, apresentou a pesquisa e seus resultados. O levantamento foi realizado com 856 pessoas a partir de 10 anos de idade, em dois grupos: adultos e responsáveis por crianças e adolescentes com DA grave e moderada. Dentre as informações mais importantes, a pesquisa mostra que durante as crises, a doença chega a abranger mais de 40% do corpo para 28% das crianças e jovens. Dos entrevistados, 14% dos pacientes infanto-juvenis tiveram que ser internados, passando em média 5 dias no hospital.
A pesquisa também revela que apenas 37% dos pacientes receberam um diagnóstico inicial correto. “Os outros diagnósticos diferenciais são coceira de pele, dermatite de contato, dermatite seborreica e etc, nisso também se revela a subestimação da doença pelos médicos”, completa Adriana. Além dos impactos físicos, a pesquisa revela os impactos emocionais. 72% dos pacientes adultos sentem que sua aparência física é afetada negativamente pela doença e 67% consideram que o estado emocional é abalado. Para 72% dos cuidadores de crianças e adolescentes, a saúde emocional desses jovens e crianças é comprometida pela doença, 45% destacam o impacto na aparência física.
“Esses dados são importantes e precisam ser reconhecidos, essas pessoas estão sofrendo e aqui fica muito claro, a doença traz choro, irritação, sentimento de depressão, a pessoa não consegue dormir de maneira adequada, ela não vai estar bem na escola, no trabalho, ter que conviver com a sociedade escolar e a vergonha de ir com escoriações na pele, tudo isso afeta”, destaca a Dra. Mayra. Ela informa ainda que a doença pode, inclusive, afetar a vida amorosa e sexual, já que muitos adultos restringem o contato com as pessoas e fogem de atividades coletivas.
Como alternativa a esses problemas, algumas pessoas podem recorrer a remédios genéricos como corticoides, que não precisam de prescrição médica, e soluções caseiras. Adriana afirma que “esses tratamentos podem trazer riscos para a pele e para a saúde como um todo, impactando no manejo da própria doença”. A pesquisa revela que 59% dos adultos usam algum tipo de corticoide nas crises e 38% usam a medicação mesmo quando a doença está controlada. Os números são maiores em crianças e jovens, que apresentam 70% de uso do remédio nas crises e 48% de uso regular.
O medicamento Cibinqo, apresentado pela Pfizer, deve passar a ser comercializado ainda neste mês. De ministração oral, a droga deve ser ingerida uma vez ao dia conforme a prescrição médica. É indicado para pacientes candidatos à terapia sistêmica, quando é necessário o uso de medicamentos além das pomadas e cremes já usuais da prescrição. O Cibinqo foi testado em mais de 1600 pacientes e apresentou eficiência máxima com alívio rápido da coceira em até 24h, e controle das lesões na pele. O medicamento também auxilia os sintomas de ansiedade e depressão após 12 semanas de uso.
Uma pesquisa de 2021 apresentada pela Dra. Mayra mostrou que 2,2% dos brasileiros convivem com a doença. Ela explicou ainda que vários fatores podem levar a dermatite atópica. “Se o paciente tem uma barreira cutânea danificada, se toma muito banho e usa muita bucha, a pele fica ressecada e permite a entrada de alérgenos e irritantes”, informa. Ela explicou também que o principal sinal da doença é a coceira, que acompanha vermelhidão na pele, escoriações, fissuras e dor. “Tenho uma paciente que foi internada e me lembro dos gritos dela, enquanto tomava banho, porque até a água caindo na pele dói”, relatou.
Os impactos da doença vão além das lesões físicas. De acordo com a doutora, “depressão, ansiedade e ideação suicida devem ser considerados pelos médicos no tratamento de pacientes com DA”. Esses sentimentos se relacionam com outras consequências da doença como noites sem dormir e o relacionamento com a sociedade que é afetado. “Já precisei escrever relatórios dizendo que a doença não é contagiosa para que as escolas deixassem as crianças frequentarem as aulas. Tratei duas adolescentes irmãs que já havia 5 meses não iam para a escola por causa da doença”, conta. Pacientes adultos também são acometidos no trabalho com falta de concentração e retração dos colegas por preconceito às escoriações na pele.
A Dra. Mayra revelou ainda que pelo SUS, os remédios disponibilizados para tratamento da dermatite atópica são corticoides tópicos distribuídos de forma irregular pelo governo. “Recentemente o SUS incorporou a ciclosporina oral e dois corticoides tópicos, mas esses ainda vão demorar alguns meses para serem liberados na prática. Corticóide oral também existe no SUS, mas com todos os efeitos colaterais que conhecemos”, completa.
O lançamento da pesquisa contou ainda com a presença de Márcio Fernandes, paciente com DA e pai de uma menina com a mesma doença. Márcio foi diagnosticado com 3 meses de idade, e conviveu com todos os sintomas da doença apresentados na pesquisa.
“Não conheço a vida sem dermatite, em relação ao preconceito e falta de informação preferi me isolar a lidar com as perguntas”, revela. Ela afirma também que existe uma diferença na qualidade de vida antes e depois do tratamento, principalmente se a doença já foi mal diagnosticada anteriormente.
Márcio revela que recentemente descobriu que não gostava de parque aquático por conta da DA. “É um ambiente em que a pele precisa estar exposta, tem contato com a água, e acaba deixando de ser prazeroso”, relata. Márcio também relaciona seu jeito de ser ao convívio com a doença.
“Sou muito discreto, talvez se não tivesse a dermatite, seria uma pessoa mais extrovertida, hoje trabalho isso com a minha filha pra que ela saiba que pode ser como ela quiser”, relata. “Tenho em mente que não posso deixar que o meu passado seja o futuro dela. Vai fazer um ano que ela está na creche e sei que ela precisa lidar com as questões dela, mas escrevemos uma carta gigante pra a escola explicando o diagnóstico e tudo que já passei para saber se a escola conseguiria lidar com isso”, conclui.