A quantidade de crianças diagnosticadas com miopia infantil - problema de saúde que torna a visão de longe embaçada - tem preocupado os médicos oftalmologistas. O cenário se torna ainda mais preocupante quando, no exercício da profissão, eles percebem que garotas e garotos abaixo de 10 anos estão sendo afetados precocemente por essa doença que, dentre as consequências, está o crescimento anormal do globo ocular, ou seja, os olhos crescem mais do que deveriam.
São muitos os fatores que contribuem para o desenvolvimento da miopia, mas, segundo a oftalmologista Carla Cordeiro, o uso excessivo das telas é um dos principais causadores. "De um modo geral, basicamente, o estirão de crescimento aparece mais na faixa etária de 10 e 12 anos. A grande preocupação é justamente porque esse problema tem aparecido em idades muito precoces. Então tem crianças de 5, 6 anos já com graus bem altos, e as telas contribuem, sim. Quando a criança fica muito tempo na tela, a luminosidade causa um borramento visual atrás da retina e faz com que o olho entenda que ele precisa estar crescendo cada vez mais. Então a gente está tendo um aumento de miopia facilitado pelas telas nesse público infantil. A nossa grande preocupação é por ser um público muito novo e por saber que, se ele já é miope sendo criança, imagine na vida adulta. E, por causa disso, ele pode se tornar um adulto com várias complicações", disse a especialista.
Kauan Gabriel França de Oliveira ainda não está na fase adulta. Ele tem apenas 9 anos, mas já sofre com as consequências da miopia. Por causa dessa condição de saúde, ele é totalmente dependente do óculos que, por sinal, por causa da gravidade, as lentes já estão no grau seis. O garoto, que foi diagnosticado com a doença em 2019, é apaixonado por futebol e sonha em seguir essa carreira. Mas, infelizmente, por causa desse problema na visão, Kauan enfrenta limitações para praticar essa modalidade esportiva.
"Ele gosta de futebol e basquete, mas sem o óculos não consegue jogar. Então, ele não pode nem participar de um escolinha de futebol, não pode competir. Ele não pode porque de futebol não usa óculos dentro do campo porque pode se machucar. Enquanto ele depender dos óculos, não vai poder ser jogador, e a médica falou que a cirurgia só poderá ser feita a partir dos 18 anos", relatou a avó do garoto, Josefa Gonçalves da França.
Porém, além de passar muito tempo na frente dos tablets, celulares, computadores, TVs e videogames, a médica alerta que há outros fatores que podem ocasionar o surgimento da miopia. "Além das telas, a gente tem a baixa atividade ao ar livre. As crianças, hoje, quase não estão tomando sol, e o fator genético, que também é muito importante. Então, pais míopes têm que ficar ainda mais atentos, porque a genética também contribui muito", pontuou a oftalmologista.
Como no caso do pequeno Kauan, os óculos são um dos principais tratamentos para quem tem miopia, mas há outros métodos também. "Hoje, a gente tem várias marcas e desenhos de óculos diferentes que ajudam a desacelerar esse crescimento do olho, e todos os tratamentos visam desacelerar esse crescimento. Tem um colírio que a chamamos de colírio de atropina, que também é um dos tratamentos para diminuir essa progressão. Temos outros dois recursos que são as lentes de contato. Um deles é uma lente de contato gelatinosa, de descarte diário, que tem um desenho especial para controlar a progressão. E a outra é uma lente de contato que a criança dorme com ela. Ela consegue corrigir o grau da criança enquanto ela dorme e, junto com isso, também acaba segurando a progressão desse grau, segurando o alongamento desse olho", destacou a médica Carla Cordeiro.
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