Com menos de 50% da cobertura da vacina isolada da varicela, mais conhecida como catapora, no estado, enquanto a meta preconizada pelo Ministério da Saúde (MS) seria em torno dos 94%, a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) e especialistas da área estão preocupados. Com isso, alguns municípios baianos estão em alerta para surto de catapora, enquanto os especialistas apontam a importância da vacinação na idade certa.
Segundo dados da Sesab, em 2023, foram notificados 473 casos de catapora em 110 municípios até o momento, com a maior concentração em Salvador (132), Feira de Santana (30), Santo Estêvão (17) e Maraú (17). No mesmo período do ano anterior, foram notificados 523 casos. A coordenadora de Imunização da Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Divep), da Sesab, Vânia Rebouças, comenta que o alerta está relacionado ao período de sazonalidade da doença nestes meses de agosto e setembro.
“Comparando ao mesmo período do ano passado, tivemos uma diminuição. No entanto, vale fazer o alerta mesmo com um aumento de casos esperado neste período. Nós já estamos registrando notificações de surtos nas unidades escolares nas últimas semanas. Por isso, emitimos o alerta para toda a rede se sensibilizar sobre a importância da vigilância, notificando imediatamente os casos suspeitos às autoridades”, afirma Vânia.
Emitido na terça-feira, o documento da Sesab aponta as condutas e as medidas de prevenção e controle da doença a serem tomados. Dentre elas, estão: a permanência no domicílio até que as lesões evoluam para crosta; o bloqueio vacinal (vacinação seletiva de pessoas sem histórico anterior) que deve abranger os contatos de casos suspeitos ou confirmados em creches, escolas, ambientes hospitalares e comunidades indígenas; a intensificação da vacinação de rotina, com busca ativa; e monitoramento de novos casos.
Vânia chama a atenção para a baixa procura registrada na Bahia, que representa um risco iminente para a ocorrência de surtos, casos graves e, consequentemente, aumento das internações. Com o coeficiente de incidência em 3 casos/100.000 habitantes, os maiores estão entre as crianças menores de um ano de idade (16,9 casos/100.000 habitantes) e na faixa de um a quatro anos (8,69 casos/100.000 habitantes). Este cenário justifica a intensificação das ações de assistência e vigilância, além do incentivo à vacinação.
“A vacina contra a varicela está disponível em todas as salas de vacina da rede pública da Bahia para o público-alvo de um ano e três meses na primeira dose e a dose de reforço de um a quatro anos, coincidindo com as faixas etárias que mais registram casos no estado. Se as crianças não estão vacinadas, elas estão susceptíveis a se contaminarem com o vírus, desenvolverem a doença e adoecerem. Para ter uma maior proteção, é necessário melhorar a cobertura vacinal e diminuir o número de susceptíveis”, aponta Vânia.
Vacinação
Disponível nos postos, a vacina está sendo ofertada para crianças entre 15 meses a 6 anos, 11 meses e 29 dias, além da população indígena a partir de um ano e os profissionais de saúde que atuam na assistência direta de pediatria ou de pacientes imunossuprimidos. Na capital baiana, todos os 160 postos da rede da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), entre Unidades de Saúde da Família (USF) e Unidades Básicas de Saúde (UBS), estão aplicando a vacina, que faz parte do calendário básico do MS, mediante à demanda espontânea de segunda a sexta-feira, das 8h às 16h.
A estagiária da área de saúde, Cristina Pontes, precisou tomar uma dose ontem no 5º Centro de Saúde, nos Barris, para continuar no estágio. “Eu já havia tomado antes porque sou da área da saúde, em que todo profissional precisa se proteger, assim como qualquer vacinação é necessária e indispensável no sentindo de evitar a doença. No 5º Centro, estava bem movimentado e o atendimento de forma solícita”, comenta.
Com o Brasil como referência mundial no Programa Nacional de Imunização (PNI) e sem dificuldade de oferta de vacinas por parte do estado, segundo o Conselho Estadual de Saúde (CES), a varicela é um vírus que causa inflamação visível na pele, dor de cabeça, pneumonia e infecção no ouvido, além de se propagar de forma muito rápida e podendo ser grave se migrar para os órgãos internos. A vacina auxilia para conter a propagação.
O presidente do CES, Marcos Sampaio, salienta a urgência na realização de ações e estratégias de incentivo e chamamento de crianças para se vacinarem nos postos, em escolas ou nas próprias casas, com a cobertura vacinal em Salvador de 33,95% do público elegível, segundo dados do Tabnet. “Além das ações de incentivo dos municípios, é preciso que os pais também estejam atentos a necessidade de manter a caderneta de vacinação dos filhos em dia”, pontua.
O infectologisa e professor da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Robson Reis, também demonstra a preocupação do setor não somente com a varicela, mas com todas as doenças infecciosas, porque as taxas de cobertura vacinal têm caído, gerando o retorno de doenças que eram consideradas erradicadas e controladas. “As vacinas sofrem com seu sucesso. Muitas pessoas, hoje, não conhecem doenças mais antigas como a catapora, a rubéola e o sarampo. Elas não existiam por causa da eficácia das vacinas”, afirma.
Doença
Em relação à doença, Robson explica que a catapora é proveniente do vírus varicela zoster, que causa também a herpes zoster na pele com vesículas agrupadas em forma de cachos de uva, também conhecida como cobreiro, após curado da catapora em um período de latência nos gânglios nervosos e quando a imunidade abaixa por diferentes causas, podendo ocorrer diversas vezes. Alguns pacientes também podem ter complicações mais graves, como infecções bacterianas de pele; pneumonia; e acometimento do sistema nervoso central, através de meningite, menino encefalite ou mielite.
A vacina de prevenção para a herpes zoster é indicada para pacientes acima de 50 anos, mesmo com mais de 90% da população já contraído o vírus. De forma anônima, uma pessoa já teve e percebeu uns caroços nas costas, no umbigo e na barriga. “As dores eram muito fortes e paralisou tudo. Elas começaram no lugar e foram para as articulações. Melhorei desde que comecei a tomar a primeira dose da vacina. Estou na quinta”, conta.
Sobre os principais sintomas, o médico comenta que a doença costuma causar, na sua fase inicial, febre, dor de cabeça, dores no corpo e, após 24 para 48 horas, começam a surgir manchas avermelhadas e pequenos caroços na região do tronco, das costas e da face, disseminando para todo o corpo. Logo depois, evoluem para vesículas, pústulas e crostas, consecutivamente. Robson aponta para os cuidados necessários para conter a doença.
“A transmissão se dá pela via respiratória, ao falar e ao tossir, e pelo contato das partículas virais nas feridas. Com isso, as medidas de prevenção são as mesmas para boa parte das doenças contagiosas, com a higienização das mãos e evitando aglomerações e levar as mãos às bocas e aos olhos, além da vacina, sem sombra de dúvidas. No geral, a vacina deve ser feita na infância. As pessoas que não forem contempladas podem obtê-las nas clínicas privadas. Mas, as pessoas que tenham uma imunidade baixa ou gestantes não podem fazer uso porque a vacina é atenuada, com o vírus vivo”, finaliza.
Sainda onde se vacinar:
Os 160 postos de saúde das Unidades de Saúde da Família (USF) e das Unidades Básicas de Saúde (UBS) estão aplicando a vacina contra a varicela, conhecida como catapora para o público-alvo de crianças de 15 meses a 6 anos, 11 meses e 29 dias, além da comunidade indígena a partir de um ano e profissionais da saúde da área de pediatria e cuidados de imunossuprimidos. Dentre os principais postos, estão:
- 5º Centro de Saúde, nos Barris;
- USF Curralinho, Boca do Rio;
- UBS Ramiro de Azevedo, Nazaré;
- USF Federação;
- UBS Pelourinho.