
Imagine estar andando tranquilamente na rua ou fazendo seu trabalho, quando, de repente, alguém te agride fisicamente. Por mais ‘bizarra’ que a situação possa parecer, ela não é irreal nem incomum.
Na noite da última segunda-feira (5), o cantor Pablo foi prova viva disso: se tornou alvo de uma fã, que, por uma frustração, jogou um copo de cerveja contra o artista. Episódio parecido também aconteceu com o baiano durante um show no dia 29 de abril, no Piauí.
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Mas, tais agressões são justificáveis? O que poderia motivar essas pessoas - até então apaixonadas pelo cantor e por seu trabalho - a partir para agressão? O Portal MASSA! ouviu a psicóloga Bruna Lima para tirar todas essas dúvidas.

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É normal ser agressivo?

A agressividade é uma emoção humana comum, considerada um comportamento emocional que faz parte da afetividade de todas as pessoas. De acordo com a psicóloga especialista em Terapia Cognitivo Comportamental, essa característica pode ter, em determinados contextos, uma função adaptativa, como nos proteger de ameaças, algum perigo ou defender nossos limites.
“O que a psicologia observa é como essa agressividade se expressa. Sentir raiva, frustração ou irritação faz parte da nossa experiência humana, mas quando essas emoções se manifestam por meios de comportamento que colocam em risco a segurança de outras pessoas ou até de si mesmo, deixamos o campo do aceitável e entramos em padrões disfuncionais, às vezes potencialmente perigosos. A diferença está entre sentir e agir impulsivamente, com base nesse sentimento”, explicou Bruna Lima.
O que leva um fã a sair do amor ao ódio?

A mulher que arremessou um copo de cerveja no cantor Pablo “pode ter desenvolvido uma idealização extrema do artista, criando expectativas reais sobre sua conduta, sobre sua personalidade, sobre suas atitudes”, diz Bruna Lima.
A psicóloga explicou ao MASSA! que esse tipo de comportamento geralmente parte de pensamentos distorcidos e interpretações equivocadas da realidade. “Quando o ídolo quebra essa imagem que foi idealizada pelo fã, por meio de comportamento, opinião ou até uma falha humana comum, esse fã pode se sentir extraído, frustrado, rejeitado e reagir com essa hostilidade”, esclareceu.
“Nós vivemos numa era de exposição constante, onde a vida desses artistas é compartilhada em tempo real e isso acaba criando uma falsa sensação de intimidade e posse, por parte desse público, desses fãs, como se eles tivessem o direito de controlar ou julgar cada passo desse artista. Esse cenário favorece e muito o surgimento de crenças como ‘ele deveria agir, como eu espero, ele deveria fazer do jeito que eu penso que ele faria, ele me decepcionou e ele precisa pagar por isso’. Esses pensamentos quando não são questionados podem gerar sentimentos como raiva ou vingança, culminando em comportamentos agressivos”, expôs a especialista.
A psicóloga reforçou ainda que as redes sociais têm um papel importante nesse tipo de situação ao validar e, muitas vezes, incentivar as reações agressivas: “O anonimato e o efeito manada em grupo facilitam a perda da empatia e o aumento da impulsividade. A cultura do cancelamento também contribui muito para esse cenário, ao reforçar a ideia de que essas figuras públicas merecem ser punidas publicamente por qualquer deslize, mesmo sem considerar a complexidade do ser humano por trás dessa imagem. Quando essas distorções se somam às fragilidades emocionais, dificuldades de autorregulação e uma baixa tolerância e frustração, a agressividade pode sair do campo virtual e se transformar em atos concretos, como esses ataques físicos”.
Agressividade, impulsividade e raiva têm jeito?

A especialista explicou ao MASSA! que a agressividade pode ser tratada em terapia, especialmente quando ela começa a comprometer a vida pessoal, profissional, de relacionamento com outra pessoa.
De acordo com Bruna Lima, a terapia cognitivo-comportamental é uma abordagem bastante eficaz nesse tipo de caso, já que vai ajudar a pessoa a compreender de onde vem sua agressividade, identificando os pensamentos e interpretações distorcidas que a levam a reagir com explosões de raiva ou atitudes impulsivas.
“O trabalho terapêutico envolve mostrar ao paciente que muitas vezes a raiva nasce das expectativas irreais que são criadas naquela cabecinha, frustrações acumuladas ou da forma como ele interpreta o comportamento dos outros. Com isso ele vai aprender a reconhecer esses gatilhos emocionais, desenvolver estratégias para lidar com eles e substituir as respostas agressivas por reações mais equilibradas”, afirmou.
Segundo a especialista em Terapia Cognitivo Comportamental, existem diversas técnicas que podem - e devem - ser aplicadas para auxiliar no controle dessas emoções, como técnicas de respiração, relaxamento muscular, treino de habilidades sociais e resolução de conflitos.
“Tudo isso vai fazer parte do processo. Além de controlar o comportamento agressivo, a terapia promove também o autoconhecimento mais profundo, ajudando a pessoa a lidar melhor com suas emoções no dia a dia. Em resumo, ela não vai apagar a raiva, que é uma emoção humana e é válida, mas vai ensinar de formas mais saudáveis e seguras de expressá-la”, finalizou.