Após sete anos de atuação para valorização da produção intelectual de mulheres negras na Bahia e Estados do Nordeste brasileiro, a plataforma literária Diálogos Insubmissos de Mulheres Negras (DIMN), comemora os novos caminhos com abertura de sede própria, na Rua Prediliano Pitta, 77, no bairro do Garcia, no dia 6 de abril.
O lançamento acontece por meio de parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo e contará com várias ações: vivências com docentes, o lançamento da versão impressa do livro Slam Insubmisso - edição especial Autoras Nordestinas, e o festejo com o Baile Insubmisso, comandado pela DJ Nai Kiese.
A fundadora e idealizadora da DIMN, Dayse Sacramento, enfatiza que este momento inaugura uma nova fase da plataforma que está em processo de formalização enquanto OSC. “Ao se enquadrar como uma organização do terceiro setor, nos voltamos ainda mais para a valorização, circulação e publicação da produção intelectual, tendo como foco os debates raciais protagonizados pelas contribuições, pesquisas e ativismos de mulheres negras”.
A sede própria possibilitará que a Diálogos Insubmissos intensifique a realização e produção de atividades no campo das artes negras. “Termos um espaço físico é possibilitar a realização de manifestações, eventos, reuniões, cursos, formações, além de receber o escritório da Editora Diálogos Insubmissos. A casa também será um espaço de aquilombamento para mulheres negras que vivem da arte, música e literatura”, descreve Técia Santos, produtora da DIMN.
A abertura da sede conta ainda com o apoio da Bem-Te-Vi Diversidade, do Instituto Ibirapitanga, além do Odara - Instituto da Mulher Negra, organização que é responsável legal para a formalização, bem como tem dado todo suporte, pela vasta experiência que elas acumulam em mais de 10 anos de atuação.
Para Christiane Gomes, coordenadora de projetos da Fundação Rosa Luxemburgo, acompanhar e apoiar a trajetória da Diálogos Insubmissos, desde o seu nascimento, passando pela criação da editora e agora nesse processo de formalização para o Instituto, é algo fundamental e estratégico.
“Fundamental porque é responsabilidade de organizações internacionais como a Fundação fornecer ferramentas objetivas e políticas para que iniciativas como a Diálogos saiam do campo das ideias e fomentem processos de construção e ampliação de conhecimento. Estratégico porque o Nordeste é um pólo riquíssimo de ação política que merece receber cada vez mais apoio para fortalecer essas mobilizações”, enfatiza Gomes.
Festividade
A inauguração da sede será marcada por três atividades, que contarão com tradução simultânea da Pense em Libras. Das 16h às 18h, o Diálogos Insubmissos de Mulheres Negras irá promover o ‘Encontro de Avaliação sobre Formação Docente’, com participes dos aperfeiçoamentos, promovidos pelo Diálogos que ao longo dos dois anos, professores em atuação da educação básica da rede pública de ensino, da região Nordeste.
Das 19h às 21h, haverá o lançamento e distribuição de exemplares do livro “Slam Insubmisso - Autoras Nordestinas”, em sua versão impressa, com uma mesa formada pelas autoras, a jornalista, rapper e poeta Carmen Kemoly (MA); a educadora social e poetisa marginal Jessica Preta (PE); e a slammer e mestre em leitura, literatura e cultura Vanessa Cerqueira (BA). O bate-papo será mediado pela Dayse Sacramento, que também é uma das organizadoras da publicação.
Para encerrar esse momento festivo, logo após lançamento do livro, das 21h às 22h, a primeira DJ residente do Instituto Diálogos Insubmissos, Nai Kiese, irá comandar o som e promover o Baile Insubmisso, com um set dançante marcado por influências no dancehall, raggamuffin, afrobeat, kuduru, funk e no próprio Hip Hop.
Livro
O livro Slam Insubmisso, que já foi lançado no formato e-book em 2021, terá sua impressão realizada através de uma parceria entre a Editora Diálogos Insubmissos e a Fundação Rosa Luxemburgo. A ação faz parte do objetivo de fomentar e difundir a produção artística e intelectual de negras nordestinas que são artistas da palavra. A obra reúne as poesias das finalistas do Slam Insubmisso 2021 - Carmen Kemoly (Maranhão), Jessica Preta (Pernambuco) e Van Cerqueira (Bahia) -, que em seus textos sugerem, criam e problematizam algumas questões que permeiam o cotidiano de pessoas negras. A publicação foi organizada por Ayala Tude (que também traduziu toda obra para o inglês), Dayse Sacramento e Manoela Barbosa, e tem apresentação de Stella Carvalho, com projeto gráfico e ilustrações de Mareacarol.
DIMN
A Diálogos Insubmissos de Mulheres Negras (DIMN) comemora em 2024 sete anos de muito trabalho, pesquisa, encontros, compartilhamentos de saberes e, sobretudo, muito afeto e cuidado nos mínimos detalhes, em torno de uma perspectiva feminista negra para a literatura. A data marco: 11 de julho de 2017. A plataforma literária surgiu a partir de um projeto de pesquisa no IFBA, tendo Dayse Sacramento como pesquisadora responsável.
Hoje, o Diálogos Insubmissos é uma das mais importantes produtoras literárias do Brasil. Caminhos literários em festivais e feiras nacionais e internacionais, oficinas, formações de docentes, workshops e expertise, levam a criação da editora de livros, que tem como base um movimento vivo e pulsante de visibilidade e viabilização da construção intelectual de mulheres negras.
Em 20 de novembro de 2021, foi lançada a Editora Diálogos Insubmissos e sua primeira publicação, o livro "Insubmissão Intelectual de Mulheres Negras Nordestinas", que reúne nove ensaios de mulheres negras dos estados do Nordeste, escritos no contexto da pandemia da Covid-19. A obra é fruto de uma longa e firme parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo.
A Editora Diálogos Insubmissos se preocupa com a descentralização da produção de conhecimento, ao mesmo tempo que também deseja fomentar a circulação de produção intelectual de pessoas negras nos diversos campos como literatura, arte, política e educação, sobretudo pensando a geopolítica no Brasil que valoriza pouco as produções do Nordeste e Norte.