
Era por volta das 20h quando os primeiros tiros ecoaram na Candelária, em Tancredo Neves. Em poucos minutos, o que era uma operação de rotina virou um cerco com reféns: dois lares invadidos, três crianças sob ameaça, e onze suspeitos armados se escondendo atrás de portas trancadas. A tensão durou horas até que, um a um, os criminosos se entregaram.
Leia Também:
A operação mobilizou equipes do Batalhão Apolo, do BPatamo, do Bope, da 23ª CIPM e da CIPT/Rondesp Central, com apoio do Graer. Durante a ação, os agentes foram recebidos a tiros por um grupo criminoso, que fugiu e se dividiu para invadir duas residências. Um casal e seus filhos, além de outro casal, foram feitos reféns pelos suspeitos, que incluíam um adolescente. Após negociação conduzida pelo Bope, todos os reféns foram libertados e os 11 indivíduos foram presos.
Com eles, foram apreendidas quatro pistolas (duas calibre 45 e duas 9mm), uma espingarda calibre 12, munições, drogas e dinheiro possivelmente usado para troca por entorpecentes.
Violência suspendeu aulas em universidade
O impacto da violência na região ultrapassa os muros das residências e chega até instituições de ensino. Em nota divulgada logo após os casos, a Reitoria da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), que fica no bairro do Cabula, vizinho à Candelária, anunciou a suspensão das atividades presenciais no Campus I previstas para ontem e hoje, devido ao clima de instabilidade provocado por tiroteios e confrontos na área.
O comunicado destacou o “pânico na comunidade acadêmica” e a necessidade de aguardar respostas da Secretaria de Segurança Pública para reestabelecer o clima institucional antes do retorno das aulas, previsto para 16 de junho. Esta é a terceira interrupção no campus em 2025, evidenciando a frequência e gravidade dos episódios violentos que afetam diretamente o cotidiano de estudantes, professores e funcionários.
Moradores da região relatam medo constante
“A gente não vive um dia de paz aqui”, relata um morador da região, que preferiu não se identificar. “Sempre tem operação, o que não é ruim. Mas também tem guerra entre eles, e a gente fica no meio disso tudo. Se a polícia pressiona de lá, eles apertam a gente de cá, porque impõem regras, né? Não pode colocar cadeado, não pode ter grade.”
O desabafo expõe como o medo se infiltra nas rotinas das comunidades periféricas da capital. “Quem tem como ir embora, já foi. Mas quem não tem, como eu, fica. Eu vou pra onde? Largar tudo e ir pra onde? Minha vida está aqui. Todo dia eu passo pela principal pra pegar o ônibus e ir trabalhar, e constantemente é a mesma conversa que um morreu, que houve invasão e reféns. Virou rotina.” Em alguns casos, se não boa parte deles, os criminosos recorrem a pessoas próximas, sejam vizinhos ou até mesmo familiares, colocando em risco a vida de terceiros numa tentativa de preservar suas próprias vidas.
Para o secretário da Segurança Pública, Marcelo Werner, episódios como o de Tancredo Neves mostram a firme atuação das forças de segurança e o comprometimento das tropas em situações de alto risco. “Essas comunidades não são violentas — estão sendo violentadas por uma minoria criminosa que insiste em desafiar o poder público”, afirmou ontem, em coletiva de imprensa.
Werner também destacou a importância do trabalho técnico e da integração entre as polícias. “Somente neste ano, conseguimos resolver com sucesso todas as crises com reféns registradas no estado, preservando vidas e retirando criminosos de circulação”, pontuou.

Ainda segundo Werner, só em 2025 já foram registradas 23 situações com reféns no estado — todas resolvidas por meio de negociação da Polícia Militar. Ao todo, 57 suspeitos foram presos e 27 armas de fogo, muitas de grosso calibre, foram apreendidas. "Esse é fruto de um trabalho de prevenção e de atuação firme contra as facções. Firme no combate à violência. Se a polícia não tivesse fazendo o seu trabalho de prevenção, não tivesse nas ruas, você imagine o que vai acontecer", completou.