
Se engana quem pensa que a resolução de crimes depende apenas dos policiais civis, militares e batalhões especiais. Além deles, o Departamento de Polícia Técnica (DPT) tem um papel fundamental para a ação. Com trabalho técnico especializado e análises precisas, a corporação desvenda detalhes das ocorrências e direciona as investigações para novos rumos.
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Para entender melhor o papel do setor, o Portal MASSA! conversou com a doutora Maria Alice Sena, Perita Médica-Legista e Diretora Adjunta do Instituto Médico-Legal Nina Rodrigues (IMLNR). Ela explicou os papéis da perícia e como esses profissionais ‘trampam’ na resolução dos crimes, incluindo detecção de vestígios e análise de corpos, sejam vivos ou mortos.
“No caso de homicídios por arma de fogo, conseguimos informar de qual arma partiu o disparo, se todos vieram da mesma arma ou de diferentes fontes, incluindo armas da polícia ou de uso comercial. Os projéteis são recuperados e analisados, permitindo determinar se foram disparados por uma única arma. Também examinamos a localização e o trajeto do projétil no corpo, o que nos dá indícios sobre a dinâmica do crime – se foi um tiro à distância, à queima-roupa, pelas costas, entre outros detalhes”, detalha.
De acordo com Maria Alice, o processo passa por várias etapas até chegar no resultado final, que é levado para o órgão solicitante, seja um delegado ou da Justiça. “Depois que fizemos a análise e o exame do disparo de arma de fogo ou de qualquer vestígio decorrente da ação criminosa, elaboramos um laudo. Essa etapa envolve uma interlocução para garantir que o documento seja inteligível para quem o recebe. Utilizamos termos médicos, mas também buscamos uma linguagem acessível para a autoridade que solicitou o exame, seja um delegado, um juiz ou outro responsável", reforça.

União faz a força
Dentro do instituto, existem várias vertentes especializadas para cada tipo de perícia especializada, como por exemplo os de rua e os laboratoriais. Cada um destes subdepartamentos podem trabalhar em conjunto durante um único caso, ou separadamente a depender dos fatos que precisam ser apurados.
“Existem outros institutos responsáveis pela elaboração de perícias. Aqui, utilizamos muito o Laboratório Central de Polícia Técnica, onde coletamos amostras para subsidiar o diagnóstico da perícia em andamento”, diz.
“Temos um setor responsável pela identificação de cadáveres. Quando há corpos não identificados, a família pode procurar o instituto, mas não é levada diretamente ao cadáver”, explica.
Nesse caso, ela fornece um descritivo, uma foto ou alguma outra informação. Se o reconhecimento for positivo, aí sim o corpo é apresentado
O processo, além de possuir toda a parte técnica, também exige empatia e sensibilidade do profissional. Para a identificação, são feitos exames digitais, da arcada dentária e, se necessário, testes de DNA. Quando o corpo é examinado logo após o óbito, o reconhecimento é mais fácil, pois as características ainda estão preservadas. Mas, em casos de corpos encontrados após vários dias, a identificação se torna mais complexa.

"O exame de DNA requer sempre um material de confronto entre a vítima e um possível parente, tornando o processo delicado. Por isso, é fundamental que os profissionais desse setor tenham um alto grau de empatia, pois lidam com famílias extremamente fragilizadas", afirma.
Imparcialidade
No processo de apuração e entrega de resultados, a imparcialidade é fundamental para o ‘trampo’: "A gente vai descrever aquilo que está vendo. Não podemos tomar partido. Precisamos de evidências concretas no que está sendo examinado. A imparcialidade é essencial para um trabalho totalmente isento".