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Ferro e fogo - 17/06/2025, 10:30 - Lucas Vieira*

Rotina dos guardas percorre de alardes a empatia em Salvador

Casos de violência reacendem o debate sobre o papel da GCM na segurança

Entenda a rotina da GCM na luta pela segurança de Salvador
Entenda a rotina da GCM na luta pela segurança de Salvador |  Foto: Divulgação/GCM

A Guarda Civil Municipal (GCM) de Salvador ganhou, nos últimos meses, os holofotes, e não foi pelos melhores motivos. Abordagens polêmicas, feridos em operações e até confusões com a Polícia Militar reacenderam o debate sobre os limites e responsabilidades da GCM. Para entender o que realmente acontece por trás da farda, o Portal MASSA! escutou quem vive a rotina de perto.

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Guardas como policiais

Tem muita gente que ainda cai naquele velho papo de que a Guarda só serve para proteger prédio público e cuidar de praça. Mas não é bem assim. Em fevereiro, o Supremo Tribunal Federal (STF) bateu o martelo no julgamento do RE 608588 e reconheceu que os guardas têm, sim, função policial. Isso inclui fazer busca pessoal, veicular e até domiciliar.

Papel da GCM

Para Reinaldo Monteiro, presidente da Associação Nacional de Guardas Municipais do Brasil (AGM Brasil), o problema vai além da falta de informação. "Sempre tivemos poder de polícia. O STF apenas reconheceu oficialmente o que a gente faz há 36 anos. O que atrapalha é essa narrativa maldosa que tenta nos limitar ao patrimônio público", dispara em entrevista exclusiva à reportagem.

Reinaldo Monteiro, presidente da AGM Brasil
Reinaldo Monteiro, presidente da AGM Brasil | Foto: Divulgação

Cara a cara com o Portal MASSA!, Marcelo Silva, Inspetor Geral da GCM, concorda com a declaração do colega: "Somos a força de prevenção no município. Em alguns casos, nossos treinamentos são mais rígidos que os da PM. Temos estatísticas auditadas para comprovar nossas ações", afirma.

"Casos isolados"

O coordenador do Sindicato dos Servidores da Guarda Civil Municipal de Salvador, Bruno Carianha, foi detido após uma confusão ocorrida em maio deste ano, durante um protesto por reajuste salarial. A sua detenção resultou em uma troca de empurrões entre agentes da GCM e policiais militares.

Em caso de incidentes, como o da Câmara, Marcelo explica que há afastamento imediato dos envolvidos e abertura de processo administrativo com avaliação psicológica.

"Não passamos a mão na cabeça, mas também não agimos com linchamento público. A corregedoria atua de forma técnica. A gente sabe que, quando acontece um caso isolado com erro de conduta, a repercussão na mídia é imediata e sempre com aquele tom de escândalo. Infelizmente, é o que dá mais clique. Mas o que a maioria não vê é o nosso trabalho interno pra corrigir as falhas", comenta Marcelo.

Aspas

Não trabalhamos com base em pressão de rede social ou manchete. O foco é corrigir, não fazer caça às bruxas

Marcelo Silva

"A imagem da corporação é construída todos os dias, com o trabalho sério da maioria, e é isso que a gente defende", completa.

Marcelo Silva, Inspetor Geral da GCM
Marcelo Silva, Inspetor Geral da GCM | Foto: Lucas Vieira / Portal MASSA!

Poucos guardas para muito serviço

Em Salvador, a GCM tem academia de formação própria, cursos de capacitação anual e acompanhamento da Polícia Federal. Mas a conta não fecha: são 1.374 guardas ativos, equivalente a 1 guarda a cada 1869 habitantes, número bem abaixo do recomendado pela ONU, que indica um para cada 250.

Além disso, a presença feminina na GCM também fica devendo. Só 11% do efetivo é formado por mulheres, quando o mínimo exigido por lei é de 20%. Marcelo explica que a procura pelos concursos tem sido baixa e que o maior obstáculo para as candidatas é o teste físico, que reprova geral.

Agentes da GCM em patrulha
Agentes da GCM em patrulha | Foto: Divulgação/GCM

Tecnologia de 'prima'

Para dar conta do recado, a GCM aposta na tecnologia. Viaturas semiblindadas, drones e 'muralha' digital. Tudo pra compensar a falta de efetivo. “A ideia é ter presença com qualidade, e não só quantidade”, diz Marcelo.

GCM aposta em tecnologia no combate ao crime
GCM aposta em tecnologia no combate ao crime | Foto: Divulgação/GCM

Olhar de quem protege

Entre madrugadas tensas e alívio no fim de um turno, a vida do guarda municipal não é mole, diferente do que muitos imaginam. Para Júlio Gomes, encarregado de operações, o objetivo diário é simples: "Todo meu trabalho é para que todos voltem para casa são e salvos".

Com vários colegas sob sua responsabilidade, Júlio patrulha do Comércio a Paripe, enfrentando desde furtos a crimes hediondos. De madrugada ou de dia, ele já viu de tudo um pouco. "Já encontramos idosa amarrada e violentada, já corremos atrás de ladrão, já trocamos tiro... Cada dia é uma história diferente", conta.

Júlio Gomes, encarregado de operações da GCM
Júlio Gomes, encarregado de operações da GCM | Foto: Lucas Vieira / Portal MASSA!

'Cobertura' psicológica

Enquanto os guardas estão na linha de frente do combate ao crime, a GCM tem um núcleo psicossocial (Nupes) que fica na "retaguarda" e oferece atendimento com psicóloga e psiquiatra. Os encontros são realizados fora da sede, com foco no sigilo e tratamento de diversos traumas que acompanham o dia a dia da corporação.

Aspas

Já indiquei colegas para ajuda, vi gente se reerguer, casar, ter filhos

Júlio Gomes

Segundo Laís Cunha, guarda responsável pelo Nupes, a GCM também recomenda que toda operação que tenha disparos de armas de fogo termine direto na sala da psicóloga da tropa, como meio de ajudar os guardas a lidarem com a tensão das ruas.

Laís Cunha, guarda responsável pelo Nupes
Laís Cunha, guarda responsável pelo Nupes | Foto: Lucas Vieira / Portal MASSA!



*Sob a supervisão do editor Pedro Moraes

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