
O reconhecimento facial virou parte da nossa rotina: desbloqueia celular, aprova compras, libera acesso a aplicativos e até substitui senhas. Só que essa facilidade toda também chamou a atenção dos golpistas. E eles estão ficando cada vez melhores em enganar esse tipo de tecnologia.
Mais de 4,2 bilhões de celulares no mundo já usam biometria, e a expectativa é que mais da metade das transações digitais globais passem por algum tipo de identificação biométrica até 2026. No Brasil, a confiança é alta: 73% dos consumidores dizem se sentir mais seguros usando biometria do que senhas. Mas a segurança não é absoluta.
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De acordo com Anchises Moraes, Head de Threat Intelligence da Apura Cyber Intelligence S.A., a popularização da biometria trouxe um novo terreno para os golpistas explorarem.
“A biometria facial se popularizou rapidamente e hoje frequentemente é usada no nosso dia-a-dia, seja para autenticar o morador de um condomínio, o acesso a um prédio comercial ou, principalmente, em vários apps que precisam, em algum momento, verificar a identidade de seu utilizador. Com o uso de ferramentas de IA, os criminosos conseguem criar imagens e vídeos falsos em poucos minutos, que são usados na tentativa de burlar os meios de reconhecimento facial, às vezes, com sucesso.”

Criminosos usam de tudo: desde fotos impressas em alta resolução até deepfakes extremamente realistas. Eles conseguem criar vídeos falsos, máscaras idênticas a rostos humanos e até manipular diretamente a imagem enviada ao sistema, enganando aplicativos bancários, serviços públicos e plataformas financeiras. Essa evolução dos golpes já preocupa empresas de tecnologia no mundo inteiro.
O impacto aparece em números alarmantes. Relatórios apontam que fraudes com inteligência artificial podem gerar prejuízos de até R$ 4,5 bilhões no Brasil até 2025, e o uso de deepfakes cresceu mais de 800%. Um caso recente ocorrido na China ilustra o problema: um funcionário foi enganado por um deepfake que imitava perfeitamente seu chefe em uma chamada de vídeo, o que o levou a transferir US$ 622 mil.
Camadas de proteção
Para tentar conter esse tipo de crime, empresas de cibersegurança estão criando novas camadas de proteção. Hoje, já existem sistemas que analisam não só o rosto, mas também o jeito que a pessoa fala, se movimenta, segura o celular, digita e até a profundidade da imagem, algo que deepfakes ainda lutam para reproduzir. Além disso, alguns aplicativos realizam desafios inesperados, como piscar apenas um olho ou responder perguntas espontâneas, dificultando a ação dos criminosos.
Mesmo com tantas estratégias, o risco continua alto. Para Anchises, investir em tecnologia e atualização constante é indispensável: “As empresas devem investir em tecnologias mais robustas de identificação biométrica, configurá-las adequadamente para garantir a assertividade e, principalmente, testá-las frequentemente, sempre atualizando quando surge uma nova forma de burlar o reconhecimento facial.”
Com o aumento das fraudes digitais, existem algumas medidas que o usuário pode tomar para se proteger: evitar clicar em links suspeitos, não enviar fotos do rosto para desconhecidos, manter aplicativos atualizados e desconfiar de pedidos urgentes de transferência, mesmo quando a pessoa na tela parece real.
*Sob supervisão do editor Anderson Orrico
