A data 29 de novembro não passará mais despercebida para a estudante de enfermagem Stefanni Firmo, 23 anos. Ao mesmo tempo que comemora o seu renascimento, ela relembra também uma das situações mais horríveis que já passou na vida.
Para quem não se lembra, a estudante de enfermagem levou uma facada profunda no rosto enquanto viajava dentro de um ônibus. A viagem que fazia parte de mais um degrau profissional, já que ela tinha acabado de realizar uma prova de residência, se tornou algo traumatizante.
Stefanni voltava de Recife para Salvador no ônibus da empresa Expresso Guanabara quando foi surpreendida por uma forte sensação de ardência e pressão no rosto. Como estava dormindo, só foi perceber o que tinha acontecido quando despertou assustada.
"Acordei por volta das 5h da manhã, estava banhada de sangue. Demorei alguns segundos para entender o que acontecia e fui correndo chamar minha amiga. Minha roupa, que era branca, ficou vermelha. A princípio, achei que pudesse ter sido um acidente, que algo tivesse caído no meu rosto. Não demorou para saber que havia sido vítima de uma maldade".
Depois de todo ocorrido e de já ter prestado depoimento, a jovem ainda teve que retornar da cidade do Conde até Salvador, que calculava 3 horas de viagem, dentro do mesmo do ônibus com a mulher que lhe deu facada.
“A polícia falava que para impedir ela tinha que ser a empresa e a empresa falava que era a polícia. Ninguém resolveu nada. Eu voltei do lado do motorista, mas ainda assim os outros passageiros estavam com medo de retornar com ela. O ônibus era de dois andares e tiveram passageiros que desceram, porque a mulher estava no andar de cima. Ainda pediram para ficar com a luz acessa, porque quando a gente saiu da delegacia eram 6 horas da noite.”
Ao chegar na capital baiana, Stefanni ainda viu sua algoz sair andando como se nada tivesse acontecido, enquanto ela aguardava os pais para ir ao Instituto Médico Legal -IML para fazer o segundo corpo delito. “A mulher saiu normalmente de dentro do ônibus. Ela só tinha uma mochila, não tinha nem mala no bagageiro. Deu uma carreirinha e entrou para dentro da rodoviária.”
E agora, há sete dias de completar dois meses do incidente fatídico, a estudante teve que receber uma notícia nada agradável. A mulher que o agrediu, e que ela tem certeza que queria lhe matar, pode continuar livre, leve e solta e podendo fazer a mesma coisa com uma outra pessoa.
“A perícia mostrou de fato que na faca que se encontrava com essa mulher tinha sangue humano. Porém, o resultado do laudo complementar veio como lesão leve. Com esse resultado, a mulher não vai ser presa. A minha esperança é que a lesão leve é um resultado inconclusivo, ou seja, eu ainda serei reavaliada.”
Aliado a todo esse contexto que está vivendo e na expectativa de resultados positivos, Stefanni está recebendo o apoio da família e sendo acompanhada por uma psicóloga, psicanalista e dermatologista. “Tive o retorno agora da dermatologista, depois de um mês, tô evoluindo bem nas cicatrizações. Em relação algum procedimento mais invasivo vai depender de como vai ser daqui para frente. Provavelmente, vou precisar de algum procedimento para reparar essa parte que foi mais profunda. A lesão tá mais marcada na parte inferior ao lábio.”
Apesar de todo trauma e a marca que ficou em seu cartão postal, como é considerado o rosto, a estudante de enfermagem ainda consegue destacar um ponto positivo diante do que aconteceu com ela. “Depois do que aconteceu comigo, algumas pessoas ficaram com medo de dormir de ônibus. Isso faz com que acenda um alerta nessas pessoas. Graças a Deus não aconteceu o pior, mas espero que a justiça seja feita para que essa mulher não fique impune.”
Investigação
Procurada pelo Portal Massa!, a Policia Civil explicou que “O Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) já foi encaminhado para o Juizado Especial Criminal (Jecrim) pela Deltur do Conde. Os laudos do DPT apontaram lesão corporal leve, solicitando repetição dos exames em 60 dias. O laudo pericial na faca ainda não foi enviado à Polícia Civil.”
Segunda a legislação, a lesão corporal leve é considerada como um conceito residual. Definição para aquelas lesões que não se encaixam como grave ou gravíssima. Para ser classificada como grave, ela precisa provocar incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias, perigo de vida, aceleração de parto, debilidade permanente de membro, sentido ou função. Já para ser constatada como gravíssima, precisa causar na vítima incapacidade permanente para o trabalho, enfermidade incurável, aborto, perda ou inutilização de membro, sentido ou função.