Seja por coincidência ou obra do destino, foi na ‘madrugada fria’ do último domingo (3) que o rapper baiano Dark MC morreu. O artista foi um dos três homens que faleceram durante um confronto com a polícia, na localidade ‘Milho’, no bairro do IAPI, em Salvador.
Conhecido por canções que marcaram o rap nacional, como ‘A Voz de um Pregador’ e ‘Julgue-me’, Dark MC deixa uma enorme saudade aos familiares, fãs e parceiros. Em entrevista ao Portal MASSA!, os artistas Don Hadji e ADMIRAL relembraram a trajetória do amigo e lamentaram que a criminalidade tenha ceifado um talento precioso para a música brasileira.
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Nascido e criado no bairro do Rio Sena, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, o jovem Clóvis de Oliveira Santos Júnior entrou para o crime muito cedo, antes mesmo de ganhar o nome artístico de “Dark”. Ele foi ‘acolhido’ por bandidos que prometeram ajudá-lo, mas o lançaram na vida errada.
Preso três vezes ao longo da vida, sendo a primeira no ano de 2016, foi justamente na cadeia que descobriu que também tinha a possibilidade de seguir um caminho diferente e viver da arte. “Ele era um menino que não foi seduzido pelo crime, ele foi acolhido pelo crime! Na sua primeira prisão, ele conheceu o rap nas celas com um mano que apresentou a ele o rap e a rima de freestyle. Ali, nesse mesmo período, aflorou nele o desejo de se tornar um MC e ele passou a entender que o crime não compensava”, contou Don Hadji.
Ouça uma das canções de Dark MC:
De acordo com Hadji, que considerava MC Dark como um “gênio”, ele cativou diversos fãs a partir das críticas e reflexões que fazia nas músicas: “A quantidade de jovens que a música dele salvou não dá pra contabilizar, mas foram milhares”.
Ninguém nessa Terra tinha tamanha capacidade com as palavras, e o que mais surpreendia era o fato dele ser semianalfabeto e possuir toda aquela eloquência
Don Hadij
A morte de Dark MC
Morto após uma troca de tiros com policiais, por não resistir aos ferimentos, Dark MC foi enterrado na manhã desta terça-feira (5), no cemitério de Plataforma.
Para a Dezert Máfia, gravadora que estava responsável pela carreira do rapper no momento, a exclusão social que o artista recebeu também contribuiu para o triste fim da vida dele. Don Hadji concordou sobre o assunto.
“Ele estava muito chateado com o cenário do Rap Baiano, que levantou ele como um rei e anos depois o sucateou pelo fato dele ter cometido erros”, revelou.
Quem também lamentou a perda de Dark MC foi ADMIRAL. Ele confirmou a versão dos outros parceiros do cantor, alegando que o artista estava sendo apagado em vida por causa do preconceito.
“Clóvis foi excluído do meio que ele mais amava, que era a música, foi rejeitado pelas pessoas, pelo público, que ele mesmo lutou, que ele mesmo deu a voz, pelas pessoas que ele deu a cara a tapa, sacou? Pelas pessoas que ele lutava”, lamentou.
ADMIRAL, que era amigo de Dark há muitos anos, finalizou o depoimento dele falando sobre o quanto o amigo lutou para estar na honestidade, mas teve portas de emprego e da arte fechadas por causa dos crimes que havia cometido.
“Através da música, ele via a chance dele de mudar, porque eu sou amigo próximo dele e sei o quanto era difícil ele conseguir um emprego, um trabalho, pelo histórico, pelas características, pela discriminação, pelo jeito e pelo trejeito dele. Então tudo isso levou a esse fim triste”, concluiu.