
Gideão Duarte de Lima, um dos envolvidos na morte de Sara Freitas, foi condenado a 20 anos, 4 meses e 20 dias de prisão em regime fechado. Ele atuou no crime como o motorista de aplicativo que conduziu Sara até o local onde ela foi morta. Gideão foi a júri popular nesta terça-feira (15), no fórum Desembargador Gerson Pereira dos Santos, em Dias D’Ávila, Região Metropolitana de Salvador.
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Apesar da condenação, o advogado de defesa de Gideão, Ivan Jezler, explicou ao Grupo A TARDE que a decisão cabe recurso. "A gente confiava na absolvição, mas sabíamos que era um caso de grande repercussão, que tem o clamor da mídia, então realmente não veio o resultado que a gente esperava e que a prova exigia".
A defesa conseguiu o afastamento de duas qualificadoras: feminicídio e a qualificadora do motivo torpe. "Não conseguimos a absolvição, mas conseguimos a derrubada das duas qualificadoras, o que é positivo porque se não fosse isso, a pena dele teria sido muito maior. Além disso, ele só não foi absolvido por um único voto e conseguimos também a diminuição da pena por menor participação. Ainda cabe recurso, mas já existiram algumas vitórias da bancada de defesa. Enquanto o recurso não é julgado, Gideão permanecerá custodiado", explicou o advogado.
O júri popular durou cerca de 13 horas e contou com um inquérito policial com quase mil páginas. A sentença foi proferida pela juíza-presidente Marina Lemos de Oliveira Ferrari, na Vara Criminal da Comarca de Dias D’Ávila. Gideão ouviu a sentença o tempo todo de cabeça baixa.
"A gente confia em Deus. A gente estava esperando em Deus. Os homens falam o que não sabem, mas Deus não. Orei e pedi a Deus que fizesse Justiça. Não importa se é da família ou não, a gente pede a verdade. Foi feita a vontade de Deus", disse Rubenita Maria de Jesus, tia de Gideão, ao Grupo A TARDE.

O motorista é apenas um dos quatro acusados de envolvimento no crime. Ederlan Santos Mariano, Weslen Pablo Correia de Jesus, conhecido como Bispo Zadoque e Victor Gabriel Oliveira Neves também estão presos na penitenciária Lemos Brito, na Mata Escura aguardando resultado do recurso aberto por suas defesas.
O Grupo A TARDE acompanhou todo o julgamento. Veja abaixo os detalhes:
Gideão Duarte Lima chegou ao fórum criminal por volta de 08h30, acompanhado por policiais militares e penais. De cabeça baixa, ele entrou sem esboçar nenhuma reação.
O júri iniciou uma hora depois do previsto, por volta das 09h, e foi composto pela juíza Marina Lemos Moura, quatro advogados junto com Gideão, um promotor e uma assistente e sete jurados, sendo cinco homens e duas mulheres.
No total, sete testemunhas participaram do júri, sendo quatro de acusação e três de defesa
Acusação:
- Cantor Davi de Oliveira (online), conhecia os envolvidos e sabia do crime, mas não participou
- Soraia Freitas (online), irmã de Sara
- Apóstolo Hugo (presencial), dono do carro utilizado por Gideão
- Pastor André Santos (presencial), líder da igreja onde Ederlan alegou que Sara participaria de evento
Defesa:
- três amigas de Gideão, membros de igreja dele, que preferiram não se identificar
Depoimentos
Os depoimentos de Davi e Soraia ocorreram ainda pela manhã, antes da pausa para o almoço. Primeiro a depor, em um trecho do relato, o cantor afirmou que o Bispo Zadoque confessou para ele o crime. "Matei uma pessoa, você vai ver no notíciário". Na sessão, ele afirmou não conhecer Dias D’Ávila, em Camaçari, local onde Sara Freitas teve o corpo carbonizado em um matagal. Porém, confessou conhecer Ederlan, Zadoque, Gideão e Victor, principais suspeitos.
Davi foi um dos que recebeu uma quantia, porém, segundo os acusados, ele não participou de nenhuma fase, mas sabia do plano. Davi contou em testemunho que pediu um empréstimo à Zadoque para tratar um problema de saúde da sua esposa e foi ameaçado para não delatar o esquema criminoso.
Ainda pela manhã, Soraia Freitas, irmã da vítima, declarou que Sara queria sair de casa a qualquer custo e se divorciar de Ederlan. Entretanto, era constantemente ameaçada de morte pelo homem, que sabia de toda a sua rotina e agenda.
Já no turno da tarde, após prestar depoimento, uma das testemunhas de defesa disse ao Grupo A TARDE, que acredita na inocência de Gideão, amigo de muitos anos. “Nos conhecemos há 20 anos e acredito na inocência dele pela índole que tem, pelo caráter dele, pelo amigo e irmão que é. Não tive contato nenhum com ele desde quando ele foi preso, mas sigo acreditando na inocência. Congregamos juntos na igreja e sei que é uma pessoa de boa índole, Até hoje não sei o porquê e não sei qual o motivo disso tudo foi impactante para todos, para amigos, famílias. Eu já estou com o coração apertado só de imaginar uma possível condenação”, disse.
Atuação do MP
Por volta das 16h30, após o fim dos relatos das testemunhas, o Ministério Público da Bahia (MPBA) mostrou as provas aos jurados. Em seu argumento, o promotor de Justiça do MPBA, Robert Moura Carneiro, afirmou que Gideão poderia ter dito que não conseguiu o carro.
"Quando Hugo [dono do carro] recusou emprestar o veículo, ele poderia ter dito que não conseguiu. Se tivesse feito isso, Sara estaria viva. Gideão tinha a opção de avisar a Sara, tinha a opção de passar direto. Mas, não. Ele tinha a função de levar Sara para morrer. Gideão não falha, ele cumpriu a missão dele, que era levar Sara para a morte", disse.
Defesa entrou em ação
Era 17h quando a defesa de Gideão entrou em ação na tentativa de conseguir a liberdade do motorista. Durante sua fala, Ivan Jezler Costa Junior alegou que Gideão “agiu sob coação de Zadoque” e que Davi “também disse ter sido ameaçado e está sendo tratado como testemunha”. Segundo ele, Gideão nunca tinha ido à casa de Ederlan antes do crime, local, onde o assassinato foi planejado.
"É clara a forma como Zadoque interfere na ação. O crime começou a ser planejado em maio e ganhou força em setembro de 2023, e o cartaz de busca foi feito por Zadoque e Ederlan. A definição do carro e de quem ia buscar Sara foi definido depois, então Gideão não participou do planejamento. Ele não tinha intimidade com Ederlan e foi fazer a corrida a pedido de Zadoque. Quem guiou Gideão foi o celular da vítima, ela estava com GPS e conduziu Gideão ao local dos fatos. Ele não sabia de nada, nunca tinha feito corrida para Sara. Na verdade, o desejo de Zadoque era manipular o local do crime e colocar Ederlan na cena", argumentou Ivan Jezler Costa Junior, um dos advogados de defesa.
Veja os próximos passos:
18h20 - foi encerrada a manifestação da defesa, seguida do intervalo
19h30 - iniciou-se a réplica do MP
20h20 - tréplica da defesa
21h00 - início da votação
21h53 - leitura da sentença
Relembre o crime
A pastora e cantora gospel Sara Freitas foi brutalmente assassinada a mando do então marido, Ederlan Mariano, em outubro de 2023. Sara foi levada para uma emboscada, esfaqueada e morta. Dois dias após o crime, ainda teve o corpo carbonizado em um matagal na cidade de Dias d’Ávila, região metropolitana de Salvador.