
Uma audiência pública sobre letalidade policial na Bahia, organizada pela Defensoria Pública do Estado, rolou no auditório Raul Chaves, na Faculdade de Direito da UFBA, nesta sexta-feira (30). Aproveitando o momento, diversas mães que perderam seus filhos em ações das forças de segurança fizeram desabafos e clamaram por justiça e dias melhores.
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Violência policial
O encontro uniu autoridades e mães de vítimas da violência do Estado, como Dona Luzia e Dona Ana, que transformaram a dor do luto em força para a luta. Com exclusividade ao Portal MASSA!, elas abriram o coração, contando como é sobreviver a perda de um filho para a violência policial.
Vitinho saiu algemado e voltou num caixão
Victor Cerqueira Santos Santana, o 'Vitinho', foi morto no dia 10 de maio durante uma operação das polícias Militar e Federal 'nas áreas' de Caraíva, distrito de Porto Seguro. Ele teria sido confundido com um 'lalau' que tinha o mesmo apelido, de acordo com a família.

Em entrevista ao MASSA!, Dona Luzia, mãe de Vitinho, contou, entre lágrimas, que não teve tempo nem de viver o luto, pois segue todos os dias buscando justiça.
"É muito difícil... Eu nem consegui viver o luto ainda. No dia 10 ele foi visto saindo de Caraíva algemado pela polícia. No dia seguinte, me entregaram meu filho dentro de um caixão. Isso é uma dor que não dá para explicar", lamentou.
Com a voz embargada, ela comentou sobre como inciativas como essas ajudam a manter a esperança viva em seu peito. "Essas audiências são importantes demais. A gente vê que tem gente querendo lutar com a gente. Meu filho era inocente. Ele era trabalhador", completou.
Mais de 30 mil pessoas já assinaram um abaixo-assinado pedindo justiça pelo filho de Dona Luzia. A petição foi entregue à Defensoria durante o evento.
Seis anos sem respostas: o caso Pedro Henrique
Pedro Henrique era um ativista de direitos humanos e foi assassinado dentro da própria casa, em 2018, na cidade de Tucano, interior da Bahia. O crime já completa mais de seis anos sem resolução. Sua mãe, Ana Maria Cruz, segue 'batendo de frente' com um sistema que, segundo ela, tenta calar as vozes de quem denuncia.
"Ferida aberta"
Dona Ana leva as marcas da injustiça em seu corpo e em sua alma. Ela contou ao MASSA! que o inquérito foi paralisado por anos por omissão de diligências essenciais.
"Quatro anos depois foi que disseram que a quebra do sigilo dos policiais nem foi feita. Uma prova importantíssima foi simplesmente ignorada. O delegado do caso foi transferido logo depois de pedir isso", relatou.
"A impressão que eu tenho, e acho que toda a nossa família também, é que o caso parece ter acontecido agora, recentemente, porque a gente ainda não tem um desfecho. É uma ferida aberta. Logo depois que tudo aconteceu, eu me afastei do trabalho. Fiquei dois anos afastada e só voltei a trabalhar em 2020", completou Ana.

Com lagrimas nos olhos, Ana também contou de como tenta manter vivo o legado de seu filho. "Após a primeira ameaça que ele recebeu, Pedro criou a Caminhada da Paz e a gente segue com ela. A desse ano vai ser agora, dia 8 de junho. Isso é o legado dele sendo mantido", concluiu.