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Busca por Justiça - 22/02/2024, 09:49 - Nicolas Melo

Júri popular de acusado de matar jovem em São Cristóvão é remarcado

Jamile Sanches Araújo Miranda, de 18 anos, foi assassinada com um tiro disparado por Elizeu Costa Rodrigues de Souza, em 2021

Elizeu atirou em direção ao carro onde Jamile estava
Elizeu atirou em direção ao carro onde Jamile estava |  Foto: Reprodução / Redes Sociais e Divulgação / SSP

"Se ele chegasse 'tio', porque ele é jovem e tem idade de ser meu filho, e falasse 'me perdoe, eu estou arrependido', eu e minha esposa o perdoaria", disse Ricardo Miranda, 47 anos, pai de Jamile Sanches Araújo Miranda, 18, assassinada com um tiro em São Cristóvão disparado por Elizeu Costa Rodrigues de Souza, 21. A declaração foi dada nesta quinta-feira (21), no dia que estava marcado para acontecer o Júri Popular do acusado, mas foi remarcado para 5 de abril.

Um pouco mais de dois anos e quatro meses depois do crime, Ricardo e a companheira Ana Rita têm se apegado à fé em busca de conforto frente à perda repentina da filha única. Foi na doutrina espírita que eles encontraram as forças para falar em perdão. "A gente acredita no arrependimento. Enquanto espíritas, a gente acredita que uma pessoa possa, sim, se arrepender de seus atos. Então, se ele pedisse perdão a mim e à minha esposa, a gente perdoaria sim", explicou.

"Mas isso não quer dizer que não queremos justiça. Queremos, sim, que a justiça seja feita. E pelo que eu ouvi lá (no fórum), infelizmente ele não mudou. Ouvi de pessoas que ele não se arrependeu de ter atirado. É um jovem que eu queria que saísse recuperado da prisão, mas eu soube que ele não está nem aí", completou.

Na quinta (21), Elizeu, que ocupou a carta 'Rei de Espadas' do Baralho do Crime" da Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), chegou até a comparecer no Fórum Rui Barbosa, no Campo da Pólvora, em Salvador, mas a audiência foi cancelada após a Justiça aceitar um recurso apresentado pela defesa do acusado sobre o não comparecimento de uma testemunha.

"Manobra"

Para Ricardo, o adiamento foi um momento de manobra para postergar o júri. "Foi cancelada a pedido do advogado dele que alegou que uma testemunha não foi localizada. Sinceramente eu não entendo esse tipo de testemunho, como é que uma pessoa vai testemunhar a favor de quem atirou, de quem tirou a vida de outra pessoa?", comentou o pai de Jamile. "Então, estamos entendendo que isso foi uma manobra", acrescentou.

Ataque surpresa

No dia do crime, em 27 de outubro de 2021, Ricardo tinha levado a filha e mais uma amiga para curtir um cinema, uma vez que as duas garotas tinham uma amizade e devido à pandemia de Covid-19 ficaram afastadas. Aquele seria o dia do reencontro e, na volta para casa, ele foi levar a amiga de Jamile em casa, numa região há poucos metros da comunidade do Planeta dos Macacos, em São Cristóvão.

Após deixar a jovem em casa, na saída da rua, ele, Jamile e Ana Rita que também estavam no carro, foram surpreendidos na rua da Adutora por dois homens armados, que mandaram eles saírem do local o mais rápido possível. Logo em seguida, outros dois, sendo um deles Elizeu, surgiram atrás do veículo. O criminoso fez dois disparos.

"Testemunhas estavam lá naquele dia também e viram ele com a arma na mão. Ele disse que atirou para cima, mas ele fez dois disparos, um dos tiros foi para cima e o outro foi na direção do nosso carro", relembrou o pai da vítima. Jamile foi atingida por um único projétil na cabeça e morreu no local.

Ricardo falou ainda que resolveu ir à localidade por já ter ido outras vezes, inclusive, levar a mesma amiga de Jamile. "Disseram que ali é Planeta dos Macacos, mas não é. O Planeta fica mais à frente e eu entrei ali porque conhecia. As duas eram muito amigas e a gente já tinha ido lá na casa dessa amiga, quando ela ia lá para casa, passava o dia e depois a gente ia levá-la em casa", disse.

"Eu acredito que a morte é traiçoeira"

Passados os anos, Ricardo falou que chegou a questionar sobre as decisões tomadas momentos antes da filha ser assassinada. Ele contou que foi na fé onde encontrou o entendimento e conforto para certas situações, como a morte de Jamile. "Quando acontece algo desse tipo passa tudo por nossa cabeça, mas hoje eu entendo que, quando a morte chega não há culpados. Quando chega a hora da morte a pessoa simplesmente vai. Claro que muita coisa a gente se pergunta, mas são perguntas que não têm resposta e hoje eu acredito que a morte é traiçoeira", explicou.

Embora a fé tenha servido de pilar para Ricardo e Ana Rita seguirem em frente, a dor da perda e a saudade da filha ainda falam alto. "Infelizmente não tem como superar. Esta é uma situação onde a gente não está preparado porque o fluxo normal das coisas seria os filhos enterrarem seus pais e não ao contrário. Foram 18 anos de convivência. Eu estava com ela em todos os dias da minha vida", disse.

Naquele ano, Jamile se preparava para realizar as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O sonho da jovem era cursar medicina veterinária, ação que foi interrompida por conta da violência pública que em sua maior parte é engrenada pelo tráfico de drogas.

"Estamos tentando viver e saber que (a morte) é uma condição que não tem volta, é muito difícil. É uma dor infinita. Mais de dois anos já se passaram e ainda não consigo ver uma foto dela, porque não estou preparado para recordar", lamentou o pai da vítima.

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