O nome dado a esse crime parece até enredo de novela e filmes, contudo, a verdade é que o 'Golpe do Amor' está cada vez mais presente na realidade da sociedade, em especial, na vida das mulheres, principais vítimas desse delito. Na prática, na maioria das vezes, esse crime é cometido por homens que, intencionalmente, se aproximam de mulheres - inicialmente por canais da internet - para aplicar o golpe do estelionato sentimental.
Sites e aplicativos de relacionamento são as ferramentas mais usadas pelos criminosos para iniciar o contato, seduzir e convencer as vítimas a marcar encontros, alguns deles falsos. Paralelo a isso, estudam o grau de vulnerabilidade da mulher e, ao perceber que conquistou a confiança dela, eles começam a pedir transferências bancárias, em muitos casos, fazem ameaças para conseguir a quantia exigida.
A situação tem se tornado ainda mais grave porque na tentativa de ocultar a real identidade, os golpistas estão utilizando fotos de outros homens. A partir disso, além da mulher - principal parte afetada -, a pessoa que teve a sua foto usada sem permissão e consentimento se torna uma vítima também. Foi o que aconteceu com o palestrante e filósofo Kau Mascarenhas.
Tudo começou em 2020, quando ele recebeu no chat do Facebook uma mensagem alertando que a sua imagem estava sendo utilizada por terceiros. Esse informativo foi enviado por uma mulher que caiu no golpe. "Foi uma situação muito difícil. Ela me disse que a relação foi evoluindo de uma amizade virtual para um namoro virtual e, durante uns meses, a confiança dela foi aumentando em relação à pessoa, chegando ao ponto dela se expor para ele em fotos íntimas. A partir dessas fotos ele revelou que era um golpe e que queria dinheiro para não expor as fotos para os amigos dela na internet", disse, em entrevista ao MASSA!.
Pouco tempo depois, ele descobriu que sua imagem estava sendo usada também por outros perfis golpistas. "Algumas desconfiaram antes que pudesse se tornar um problema sério. Outras, chegaram a fazer transferências bancárias, caindo então no estelionato sentimental", revelou Kau.
Por causa desses acontecimentos, Kau passou a usar as suas redes sociais para alertar os seguidores e o público geral a como identificar atitudes golpistas.
Advogado destaca principais táticas usadas pelos golpistas
O advogado Daniel Romano Hajaj alerta para as principais táticas de estelionatários que atuam com o 'Golpe do Amor'. “Dificilmente ele vai atrair a mulher para o endereço dele. Ele que sempre vai ao endereço da mulher, ele que vai à cidade da mulher, porque ele não quer ser localizado. Então, se o encontro for presencial, ele vai estar muito bem vestido, provavelmente, se for na mesma cidade, vai estar com um carro de luxo, vai levá-la num bom restaurante. Vai proporcionar a ela momentos maravilhosos porque tudo isso faz parte do jogo da sedução para conquistar ainda mais a confiança e conseguir o que ele quer, que é o dinheiro”.
O advogado também esclareceu sobre punições envolvendo esses casos. "Quando for comprovado e tendo todos os elementos, há, sim, a possibilidade de processo. Nós estamos com um projeto de lei caminhando para aumentar o tempo de reclusão de um terço a dois terços da pena nesses casos. Então, a pessoa sendo identificada e apurando se houve um ilícito penal, ela vai ser processada e ela pode ser condenada. Com esse projeto de lei, quando for aprovado, a pena vai aumentar. Hoje, ela é de cinco anos de reclusão. Inicialmente o regime teria que ser fechado e mais uma multa".
Instituto presta apoio às vítimas e psicóloga fala sobre emoções
Devido aos recorrentes casos envolvendo estelionato sentimental, Glauce Lima criou o Instituto Gkscanonline com a finalidade de atender vítimas de crimes cometidos pela internet, incluindo o Golpe do Amor.
Ao MASSA!, ela detalhou como a iniciativa surgiu. "Em 2011, uma amiga minha, alemã, caiu no golpe. Eu não conhecia o golpe, mas comecei a investigar sobre. Entrei em grupos americanos que tratavam desse golpe, depois disso, comecei a fazer perfis falsos e buscar esses golpistas. Fiz outro perfil falso como se fosse de um nigeriano e entrei nesses grupos de golpista para saber como que funcionava, como era que eles selecionavam as vítimas e como eles aplicavam o golpe", contou.
"Em 2018, fui para a Alemanha e conseguimos prender esse golpista na Nigéria, em Abuja, que foi o que aplicou o golpe na minha amiga. Com isso, em 2019, saiu uma reportagem do Fantástico. Aí resolvemos montar o Instituto. Então, basicamente, ele iniciou assim. Hoje, a gente tem atendimento psicológico, psiquiátrico e jurídico para essas vítimas. O Instituto é em São Paulo, mas trabalhamos por rede social. Atendemos vítimas de todo mundo, não só do Brasil".
A psicóloga Laíse Brito explicou se fatores emocionais, a exemplo da solidão e da carência, podem deixar a vítima mais fragilizada "Vamos dizer que é um fator de risco. A vulnerabilidade afetiva se torna um fator de risco, sim. E é importante essa mulher ficar atenta aos sinais porque, na grande maioria das vezes, ele traz uma história muito confusa de si, das coisas que conta e compartilha. Também tem uma parte sempre muito misteriosa, distorção de fatos, manipulação", disse a psicológa.
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