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Combinação necessária - 08/10/2023, 13:24 - Madson Souza e Priscila Dórea

“Educação e segurança pública caminham juntas”, afirma Jerônimo

Investimento em escolas de tempo integral e preocupação em integrar unidades com seus entornos refletem na qualidade de vida das comunidades

Sala de aula inclusiva no Colégio Estadual Vila Canária
Sala de aula inclusiva no Colégio Estadual Vila Canária |  Foto: Denisse Salazar / Ag. A TARDE

Duas semanas atrás, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, participou de um evento simbólico em Quijingue, município 322 quilômetros ao norte de Salvador: as inaugurações quase simultâneas de duas escolas de ensino em tempo integral e da sede da 4ª Companhia Independente da Polícia Militar. “Educação e segurança pública caminham juntas”, sentenciou o governador, no ato.

De acordo com Jerônimo, a combinação entre o bom ensino público, que dá instrumentos técnicos para o desenvolvimento dos jovens, e a infraestrutura adequada para não apenas abrigar aulas, mas também para envolver a comunidade do entorno, integra a estratégia para prevenir e combater o avanço do crime no Estado. “Nosso zelo maior quando entregamos escolas como essas é foco na aprendizagem e o foco no cuidado”, disse. “Estamos fomentando e animando a aprendizagem dos meninos e meninas e, ao mesmo tempo, cuidando da população.”

O historiador Dudu Ribeiro, coordenador executivo da Rede de Observatórios da Segurança na Bahia, concorda que os temas educação e segurança pública estão diretamente relacionados. “Um dos componentes que levam pessoas ao mundo da criminalidade é a baixa escolaridade”, afirma. “A gente precisa perceber que quanto mais o jovem ou criança for protegido, teremos menos mortes decorrentes de crimes violentos. E as escolas são ambientes protetivos.”

Nas novas escolas de Quijingue, foram investidos R$ 37,9 milhões, parte de um plano estratégico de R$ 6 bilhões que estão sendo aportados na requalificação da rede física da rede estudantil estadual. Os novos espaços contam com estrutura moderna para projetos pedagógicos – com itens como laboratórios e teatros – e esportivos (quadras cobertas, campos de futebol e piscinas), para que os estudantes tenham atividades em tempo integral. Já são mais de 300 escolas de tempo integral da rede pública estadual na Bahia – 28 delas inauguradas este ano, somando R$ 637 milhões em investimentos.

Já na sede da 4ª Companhia Independente da PM, que passa a abrigar o efetivo policial da cidade, foi aplicado R$ 1,2 milhão. De acordo com o comandante-geral da PM, coronel Paulo Coutinho, a unidade é a 17ª a ser inaugurada, de 150 companhias que estão por vir. “A Polícia Militar está passando por um momento não só de reestruturação [física], mas também de capacitação de profissionais”, afirmou. Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), no total, o programa de construção, reforma e modernização de estruturas das forças de segurança do Estado prevê intervenções em mais de 700 instalações, com recursos da ordem de R$ 650 milhões.

Oportunidades

“Poderíamos estar na rua vendo e fazendo coisas erradas, ou mesmo em meio a coisas que nem a gente quer, mas estamos dentro da escola aprendendo e nos divertindo”, testemunha Aila Marina, de 16 anos, aluna do Colégio Estadual Pedro Paulo Marques e Marques (CEPPMM), de ensino em tempo integral, do bairro de São Cristóvão, em Salvador. “A escola em tempo integral dá muitas oportunidades que alunos de outras escolas gostariam de ter, mas não têm.”

A vice-diretora do CEPPMM, Nelma Cabral Silva, salienta que, além de prover os jovens de educação e atividades em tempo integral, a unidade tem uma função integradora na região em que está instalada. “Hoje, trabalhamos com empenho para mostrar que a escola é para todos”, explica.

Uma das formas de integração da escola com seu entorno é por meio do Ponto e Vírgula, projeto da Operação Ronda Escolar da Polícia Militar da Bahia (PM), que sensibiliza e mobiliza a comunidade para prevenir e combater a violência usando a atenção à saúde mental no ambiente escolar. “É um projeto que acolhe e prepara professores, alunos e o entorno, além de servir para desconstruir essa imagem da polícia, mostrando que ela é amiga da comunidade e não a vilã”, aponta a vice-diretora.

Ayala,16 anos ,estudante do Colégio Estadual de Tempo Integral Pedro Paulo Marques e Marques
Ayala,16 anos ,estudante do Colégio Estadual de Tempo Integral Pedro Paulo Marques e Marques | Foto: Denisse Salazar / Ag. A TARDE

Trazer a comunidade para dentro do espaço físico da escola tem sido um dos grandes diferenciais das escolas estaduais em tempo integral. “Meus filhos, uma menina de 9 anos e um menino de 4, não estudam nesse colégio, mas fazem aulas de caratê três vezes por semana na unidade”, conta a empreendedora Geisa Louredo, dona de uma lanchonete vizinha do colégio. “É uma escola aberta para a comunidade, uma oportunidade boa para os alunos e para a comunidade.”

A unidade escolar também fica aberta aos sábados e domingos para a realização de eventos, que vão de competições de fisiculturismo a feiras de empreendedorismo. “O que o governo do Estado está fazendo com as escolas públicas é a realização de um sonho”, afirma o coordenador esportivo, Antônio Gabriel Santos da Assunção, que há 15 anos trabalha na rede pública de ensino. “Os estudantes ficam aqui por dois turnos, tem três refeições e têm acesso a inúmeras atividades culturais, artísticas e esportivas. A ocupação de tempo ocioso os afasta da violência.”

Integração entre escola e comunidade é ponto-chave para sucesso de ações

A integração entre escola e comunidade é um dos pontos-chaves para se pensar a relação entre educação e segurança pública, avalia Riccardo Cappi, doutor em criminologia, e professor na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e da Universidade do Estado da Bahia (Uneb). De acordo com ele, a escola integral não pode ser numa perspectiva de só ocupar o tempo do jovem, porque essa é uma ação que funciona por tempo limitado.

“A relação da escola com seu entorno precisa ser construída pelos próprios alunos e pessoas do local, transformando o espaço em um local do qual eles possam participar e no qual possam ter autonomia”, explica o professor. Ele destaca que essas iniciativas são importantes por possibilitar, em média, um maior acesso ao mercado de trabalho e maiores capacidades relacionais, além de ajudar na construção de valores pró-sociais.

E, para alcançar esse objetivo, é preciso que haja uma ação integrada dos diversos atores no processo educativo. A professora de língua portuguesa da CEPPMM, Carla Bomfim, elenca esses agentes como: estrutura, cuidado com a saúde e formação dos docentes, presença da família e da comunidade ao redor. A soma desses elementos ajuda na prevenção e no combate à criminalidade, porque são fatores externos que têm uma influência sobre a segurança.

“Quando o aluno está no ambiente escolar, você busca o livrar de todas as outras demandas que acontecem além do portão da escola – e isso, entre outras coisas, ajuda a evitar a violência”, aponta a professora de geografia do Colégio Estadual de Vila Canária, Vaneide Santana de Oliveira.

Para ela, a questão lúdica – da arte, do esporte, da cultura –, em conjunto com a parte pedagógica, é a união perfeita para o ambiente escolar e o resultado é observado no dia a dia, no chão da escola. “Você percebe que as coisas têm funcionado muito bem”, avalia. “Claro que precisamos sempre pensar em melhorar, mas até o momento este formato (integral) tem sido muito positivo.”

Para a coordenadora do programa de Estudo, Pesquisa e Formação em Política e Gestão em Segurança Pública e professora da Ufba, Ivone Costa, “a interlocução entre as áreas de segurança e educação é indispensável para um projeto de país mais justo”.

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