
Em um cenário onde a violência e a falta de oportunidades muitas vezes limitam os sonhos dos jovens, as quadrilhas juninas emergem como uma luz de esperança.
Elas não apenas celebram a tradição nordestina, mas também oferecem um espaço seguro e acolhedor para que as crianças e adolescentes possam se expressar e desenvolver habilidades essenciais para a vida.
No Pero Vaz, em Salvador, a quadrilha Germe da Era está há 43 anos acolhendo crianças da cidade. Tudo começou com Naná Estrela e hoje a filha dela, Ninha, é quem segue colocando lenha nesta fogueira.

“Começamos com um grupo de samba, depois a quadrilha chegou e estamos aí fazendo esse trabalho de educar, de levar a cultura”, contou. “Hoje nós vemos tantas pessoas que passaram pela quadrilha e estão no meio artístico, ganharam o mundo, é gratificante”, contou.
As quadrilhas juninas fazem apresentações com enredos durante o São João, assim como as escolas de samba fazem no carnaval. Neste ano, o tema da Germe da Era é: “Fui atrás da felicidade e encontrei o forró” com a quadrilha composta por 40 crianças.

Por trás de cada passo ensaiado e cada figurino colorido, há um trabalho árduo de pessoas que dedicam seu tempo e energia para transformar essas crianças em cidadãos conscientes e participativos.
As quadrilhas mirins são muito mais do que apresentações artísticas; são projetos sociais que promovem disciplina, respeito e trabalho em equipe e, principalmente, mantém viva a cultura nordestina.
Esse compromisso se repete em cada uma das agremiações na cidade. Em Massaranduba, na Cidade Baixa, um outro grupo está ajudando a reduzir a evasão escolar e a afastar os jovens da criminalidade: a quadrilha mirim Forró do Luar.

“É uma história longa, que foi fundada pelo pai de Anna Franco, hoje presidente da quadrilha. São quase 50 anos e sempre com crianças que são filhas dos antigos dançarinos”, conta Anderson Dias, vice-presidente da quadrilha.
Anderson garante que o trabalho da Forró do Luar ultrapassa as barreiras juninas. Os ensaios estão a todo vapor para o São João, mas não só de dança vive a quadrilha. “Essas crianças estão o ano inteiro com a gente, aqui tem dança, tem teatro, tem futebol. É um trabalho de resgate e de formação, de cidadania”, explicou Anderson.
Falta apoio financeiro
Com a aproximação das festas juninas, as quadrilhas mirins intensificam seus ensaios e preparam-se para brilhar nos palcos da cidade. No entanto, o futuro dessas iniciativas depende de apoio contínuo, seja de órgãos públicos, de empresas privadas ou da sociedade civil. Todo esse trabalho social e entrega que é feita para as crianças parte de um trabalho árduo e na maior parte das vezes voluntários, com custos altos. Quem custeia as lindas roupas das crianças? Quem paga o transporte para levar a galerinha até os locais das apresentações? Por isso, as quadrilhas juninas mirins precisam contar com apoio para sobreviver.

“Queria que alguém conseguisse uma splinter, por exemplo, para levar os meninos para os lugares. Eu não tenho como cobrar transporte dos dançarinos, precisamos ajustar para conseguir levá-los para as apresentações”, contou Ninha, da Germe da Era.

“Para manter esse trabalho é muito caro, precisamos de apoio financeiro. O custo hoje para montar uma quadrilha mirim chega a R$ 50 mil. Só de roupa estamos pagando R$ 15 mil. Quando o custo chega aos R$ 30 mil a gente para de fazer as contas”, disse Anderson, da Forró do Luar. “Mas escolhemos seguir, todo ano estamos aqui”.