Investigador da Polícia Civil, Kleber Rosa (Psol) largou o doce e detonou, em entrevista ao Portal MASSA!, na tarde desta segunda-feira (10), a medida anunciada pelo governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), de meter policiais militares armados nas portas das escolas do estado. A decisão acontece dias depois do ataque a golpes de machadinha em uma creche no município de Blumenau, que vitimou quatro crianças.
Segundo Kleber, a ideia é "mais do mesmo", e não garante nenhum avanço na proteção dos estudantes. Ele avalia que a posição do governo catarinense pode resultar em um processo de criminalização da comunidade escolar, além de não atacar o coração do problema.
“Não vale, é mais do mesmo. O que a gente vê, isso já tem sido discutido amplamente como opção, e o governo de lá tomou a decisão de fazer isso de forma objetiva. Eu acho que não vale, porque a primeira medida que vai acontecer é criminalizar a comunidade escolar, que vai passar a ser vigiada. Então, aquilo que é uma ameaça passa a ser cotidiano, que é um controle permanente, uma ameaça permanente, uma presença ostensiva bélica dentro da escola. Isso distorce o ambiente escolar, que é um ambiente pedagógico, educacional, do espaço do livre fazer e livre pensar. Isso não uma opção, e não ataca o problema”, disparou Kleber.
A primeira medida que vai acontecer é criminalizar a comunidade escolar
O psolista ainda atribuiu a alta dos ataques violentos ao discurso do ex-presidente da Jair Bolsonaro (PL), que defendia abertamente a posse de arma e o combate ao crime com medidas drásticas, e pontuou que a postura de Jorginho Mello tem uma pegada ‘populista’.
“A gente sabe o que é o encorajamento que a gente viveu ao longo desses quatro anos com esse presidente genocida (Bolsonaro), culto ao armamento, a flexibilização dessas doutrinas nazi-fascistas, e a exacerbação da ideia de que se combate a violência com mais violência. Então, não ataca o cerne da questão”, afirmou.
“Vale lembrar que esses ataques estão vindo, em sua maioria, de uma ação externa de pessoas externas, como foi o caso da creche. Não é uma medida eficaz, não acredito, acho um absurdo, acho que vai ser lastimável se os estados começarem a adotar isso como medida. Então, discordo absolutamente dessa medida”, continuou Kleber.
“Toda política de segurança pública adotada no Brasil tem esse caráter de mostrar às pessoas a ostensividade, pra passar a ideia de estabelecer uma sensação de segurança, mas uma clara convicção de que aquilo não é garantia de segurança. Pra todo tipo de situação que ocorre, esse tem sido o modelo adotado, que é mais pra dar uma satisfação para a sociedade, parecer que está fazendo algo, sem resultados concretos. O tempo vai mostrar que isso não é eficaz. Espero que nada mais ocorra, a gente torce para que esse estímulo à violência seja vencido o quanto antes, mas essa medida não é eficaz, e ela pode ser mais promotora de violência na escola”, explicou o investigador da Polícia Civil, que ainda botou certeza de que o ambiente escolar será criminalizado com a presença de policiais armados.
“A gente sabe como funciona a polícia. Vai terminar criminalizando o próprio ambiente escolar, as comunidades escolares [...] Arrisco a dizer que isso está fadado a acontecer, pelo que a gente já conhece”, disse Kleber.
Vai terminar criminalizando o próprio ambiente escolar, as comunidades escolares
Questionado sobre a possibilidade da ideia prosperar na Bahia, Kleber Rosa disse desconhecer qualquer iniciativa do tipo sendo colocada na mesa, que o clima nacional já existe nos últimos anos.
“Olha, não tenho conhecimento de nada formalmente em discussão, mas sei que tem um clima nacional de debates sobre a possibilidade de botar polícia na escola. Isso tem um debate que está feito no âmbito geral”, finalizou.
A implementação dos policiais nas escolas de Santa Catarina deve custar R$ 70 milhões por ano, e acontecerá em 1.053 unidades de ensino do estado.