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Relembrar é viver! - 05/11/2022, 07:00 - Cássio Moreira - Atualizado em 05/11/2022, 08:15

Perdeu, pai! Relembre as derrotas humilhantes do ‘carlismo’ nas urnas

Grupo político fundado por Antônio Carlos Magalhães (m.2007) dominou a cena baiana, mas também tomou ‘surras’ inesquecíveis

Waldir Pires, Jaques Wagner e Jerônimo Rodrigues venceram de forma avassaladora
Waldir Pires, Jaques Wagner e Jerônimo Rodrigues venceram de forma avassaladora |  Foto: Fotos: Divulgação / Manu Dias / GOVBA / Divulgação

Por Cássio Moreira

Você sabe o que é o carlismo? O grupo político liderado pelo ex-governador e ex-senador Antônio Carlos Magalhães, morto em 2007, dominou a Bahia durante anos. No período da ditadura militar, o próprio ACM governou o estado, além de indicar aliados, de forma indireta, com o ‘ok maroto’ dos ditadores. Com a redemocratização, também experimentou vitória nas urnas, mas não escapou de duras e amargas derrotas.

Em 1982 ocorreram as primeiras eleições diretas para governador desde o golpe militar de 1964. Na Bahia, o PDS, sucessor de ‘araque’ da Aliança Renovadora Nacional (Arena) e casa do carlismo, lançava o ex-prefeito de Feira de Santana, João Durval, como candidato à sucessão de Antônio Carlos Magalhães (que nunca havia chegado ao governo pelo voto direto). Durval substituía Clériston Andrade, candidato que morreu durante a campanha em um acidente aéreo, no dia 1º de outubro. A vitória do político feirense e, por consequência, do grupo de Antônio Carlos Magalhães, veio em um 15 de novembro, contra o ex-governador Roberto Santos (MDB). Estava ali consolidada a força do ‘Cabeça Branca’ e seus pupilos, na transição do regime ditatorial para o democrático.

A permanência de ACM e seus aliados no poder, entretanto, não foi a opção escolhida pelos baianos em 1986. O cenário era outro: não existia reeleição e o escolhido para continuar o projeto do grupo foi o jurista Josaphat Marinho (PFL). Do outro lado, o PMDB tinha como candidato o ex-ministro da Previdência Social do governo José Sarney, Waldir Pires. A campanha de Waldir ficou marcada por seu apelo popular e discurso de renovação política.

“Eu quero ver um tempo novo de crescer e construir. A Bahia vai mudar trabalhando com Waldir”, ecoava o famoso jingle do candidato emedebista.

O 15 de novembro, que quatro anos antes havia sido sinal de sucesso para os carlistas, desta vez teve um gosto amargo. Waldir não só venceu Josaphat e interrompeu a hegemonia carlista, como impôs uma derrota dura ao ser eleito com 66,95% dos votos válidos. Ao todo, foram 2.615.108 baianos que depositaram seus votos de confiança no ex-ministro, a maior votação da história da Bahia até então.

Coube a ACM a missão, em 1990, de retomar o poder para o seu bloco. Na eleição, o adversário era o também ex-governador Roberto Santos (PMDB). Waldir Pires, que renunciou em 1989 para ser vice na chapa presidencial encabeçada por Ulysses Guimarães (PMDB), tinha deixado o Palácio de Ondina para Nilo Coelho (PMDB). Na queda de braço de uma das campanhas mais duras da história do estado, Antônio Carlos Magalhães experimentou pela primeira vez o gosto de chegar ao governo de forma democrática, embora os seus métodos de governar sejam vistos, até hoje, como autoritários. Ali começou o período de maior tranquilidade do carlismo, com as vitórias de Paulo Souto (PFL) em 1994, de César Borges (PFL) em 1998, e novamente de Paulo Souto (PFL) em 2002. Foi em 2006 que ACM e Paulo experimentaram a maior derrota da história do seu grupo.

Ainda senador, ACM partiu para a briga com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A polarização e a boa avaliação do governo Lula refletiram na disputa estadual e impulsionaram o ex-deputado federal Jaques Wagner (PT). Mesmo assim, durante toda a corrida eleitoral, o governador Paulo Souto liderou com tranquilidade as pesquisas de intenção de voto, que mostraram mais uma vitória no primeiro turno. O que se viu nas urnas no dia 1º de outubro de 2006 foi o oposto: Jaques Wagner contrariou o favoritismo incontestável de Paulo Souto e venceu no primeiro turno com votação recorde. Foram 3.242.336 votos; 52,89%. Depois disso, o carlismo sofreu com a morte de ACM, líder do grupo, em 2007, e com a perda de quadros importantes do grupo, como os ex-governadores César Borges e Otto Alencar.

Em 2008, não no âmbito estadual, e sim no municipal, ACM Neto (DEM), deputado federal e visto como sucessor ‘natural’ na liderança do grupo, liderou grande parte da corrida eleitoral, mas perdeu o fôlego na reta final e sequer conseguiu ir para o segundo turno da eleição para a Prefeitura de Salvador. Na época, João Henrique (PMDB) conseguiu se reeleger contra o petista Walter Pinheiro.

Carlismo experimenta novo ‘7 a 1’ nas urnas em 2022

Já acostumado na condição de oposição no estado e com uma roupagem ‘nova’, o ‘neocarlismo’ viu mais uma vez em ACM Neto (União Brasil), agora com a bagagem de ter sido prefeito de Salvador por oito anos, a chance de retomar o poder de uma vez por todas. A campanha de Neto começou ainda em 2021, quando resolveu correr por diversos municípios do estado e subiu antecipadamente o tom nos ataques aos adversários governistas. Seu principal oponente, Jerônimo Rodrigues (PT), era tido como um ‘desconhecido’ pelo ex-prefeito e seus aliados. Grande parte dos levantamentos de intenção de voto apontavam a vitória folgada de ACM Neto no primeiro turno, exceto as pesquisas AtlasIntel, divulgadas pelo jornal A TARDE, mostravam o candidato petista como favorito.

No primeiro turno, o baque: com 49,45% dos votos válidos, Jerônimo passou perto de encerrar a eleição no dia 2 de outubro. ACM Neto teve um desempenho aquém, com 40,88%. No segundo turno, Jerônimo confirmou o que tinha sido visto nas urnas semanas antes, e venceu com 52,79%, contra 47,21%.

Questionado pela reportagem do Portal Massa! sobre o impacto da derrota de 2022, o cientista político Cláudio André de Souza, mestre e doutor em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), professor de Ciência Política da Unilab e professor colaborador do Programa de Pós-Graduação de Políticas Sociais e Cidadania da Universidade Católica do Salvador (UCSAL), explicou que o peso ainda é menor que o resultado de 2006, já que naquela ocasião, o candidato carlista derrotado era um governador que tentava a reeleição.

“Eu entendo que não (derrota de 2022 ser mais dura que a de 2006), porque quem perdeu em 2006 foi um candidato que era governador, ele não conseguir se reeleger. De alguma forma, ACM Neto está em um campo de oposição, não é governista. Então, eu acho mais drástica”, iniciou Cláudio, que ainda ressaltou o peso de Lula nas duas situações (em ambas as eleições, o petista foi o presidente eleito.

“Essas duas eleições (2006 e 2022) têm um ponto em comum: envolve o aspecto que a gente teve uma eleição muito polarizada, e tem outro aspecto em comum, uma eleição mais equilibrada por conta do desconhecimento de Jerônimo. Outra característica em ambas as eleições é a figura de Lula, essa presença de Lula na chapa nacional desequilibrou a favor de Jerônimo. De fato, ACM Neto representa uma renovação de um governo longevo, continuísta, mas entendo que essa renovação de Neto se refletiu nas urnas e ele foi bem. Foi uma derrota que teve um fator mais duro porque ele liderava as pesquisas, havia uma expectativa de uma grande parte dos seus eleitores que ele venceria no primeiro turno, e aí quando a gente abriu as urnas, foi inversamente proporcional”, pontuou.

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