Após o final das eleições no último domingo (30), que definiu o candidato Luís Inácio Lula da Silva (PT) como o presidente eleito do Brasil, manifestações eclodiram em todo o Brasil por parte de eleitores que não aceitaram o resultado. Em Salvador, desde a última terça-feira (1), um grupo de pessoas está reunido em frente a Companhia de Comando da 6a Região Militar, na Mouraria, em protesto.
Essa iniciativa, no entanto, tem incomodado alguns dos moradores da região, que reclamam do barulho e do grande movimento provocado pelo tráfego intenso de carros e de pessoas que circulam pela região que, normalmente, é tranquila.
Um morador, que preferiu não se identificar, conta que tem pensado em se mudar do local em busca de paz. “É uma falta de respeito com os moradores do bairro. A gente não consegue assistir uma televisão, chega cansado do trabalho simplesmente não tem paz porque é um barulho ensurdecedor lá embaixo. Tem um mini trio com pessoas gritando ‘SOS Forças Armadas’", descreve o morador.
Ele ainda pontua o comportamento de alguns dos manifestantes. “Eles falam que são pacíficos, mas quem quiser que vá filmar lá embaixo pra ver se não vão tentar tirar, agredir verbalmente até. A gente tá sem paz, eu tô no meu limite emocional. Já conversei com o dono do prédio que provavelmente eu vou sair porque eu não quero viver isso, não sei por quanto tempo eles vão ficar aqui".
Ainda de acordo com esse morador, a rotina do bairro foi alterada pela presença dos manifestantes. “Simplesmente a gente perdeu nossas vidas, não temos paz que tínhamos antes de passear com os cachorros ali na praça. Eu não abro mais a minha janela e nem deixo o meu cachorro ficar na janela porque tenho medo de jogarem alguma coisa”, diz. “Você não consegue assistir, não consegue passear com o seu cachorro, ter privacidade ou estacionar um carro”.
A poluição sonora a qual o reclamante se refere são os discursos e orações entoadas pelo grupo com a força de um microfone um líder. “A noite por volta das 20h tem trio ligado, discursos, hinos”, diz. “São vários vizinhos reclamando das mesmas coisas: barulho, fedor de xixi e falta de vagas”, aponta.
Manifestação pede intervenção das forças armadas por discordância dos resultados das eleições
Apesar de incômodas para alguns dos moradores, o direito à livre manifestação é garantido pelo artigo 5o inciso XVI da Constituição Federal de 1988, que diz que “todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente”.
Apesar disso, as manifestações têm sido vistas como atos antidemocráticos já que ferem a própria constituição ao pedir por uma intervenção militar, atacando o Estado Democrático de Direito.
As manifestações estão acontecendo em todo o país e se concentram em frente a quartéis. Os presentes questionam a legitimidade do processo eleitoral, acusam fraude nas urnas e questionam a derrota do atual presidente, Jair Bolsonaro (PL).
Eles estão, em sua imensa maioria, trajados de verde e amarelo, carregam bandeiras, possuem rostos pintados e exaltam o patriotismo, dizendo estarem reunidos em defesa do Brasil, da liberdade e da família.
Equipe do Massa! é hostilizada por manifestantes na Mouraria
Após reclamações de moradores da região da Mouraria sobre os transtornos que a manifestação estaria causando no local, nossa equipe foi realizar a apuração in loco na tarde desta segunda-feira (7).
Para além do barulho e de certo caos provocado no trânsito local, a ação parecia civilizada e organizada, com um grupo de pessoas ocupando a praça em frente ao quartel. No entanto, a repórter e a fotógrafa do Massa! foram impedidas de dar seguimento à apuração após serem constrangidas e ofendidas por manifestantes que não permitiram a sua permanência no local.
A equipe foi agredida verbalmente e intimidada por alguns dos presentes, que questionavam a legitimidade e credibilidade do Grupo A TARDE na apuração e publicação de informações.