Vereador, presidente da Câmara de Salvador e agora vice-governador eleito da Bahia, Geraldo Júnior (MDB) afirmou que vai atuar ao lado do governador Jerônimo Rodrigues (PT) “na mais completa lealdade e harmonia, para realizar o melhor governo que a Bahia já teve”.
Em entrevista exclusiva ao A TARDE, ele disse que o desafio será administrar o estado “para os 15 milhões de baianos e não só para quem votou na gente”. Questionado sobre a sucessão na Câmara, Geraldo disse não ter “dúvida de que o atual primeiro vice, Carlos Muniz, é o nome perfeito para seguir fortalecendo a Câmara”.
Ele aproveitou ainda para destacar que não vai declinar da sua vontade de ser prefeito de Salvador. “Se for da vontade de Deus, do nosso grupo e a gente apresentar um projeto consistente, estarei na disputa”. Confira:
Vereador, presidente da Câmara de Salvador e agora vice-governador eleito da Bahia. Ao olhar para trás, deve passar um verdadeiro filme na sua cabeça. Como você vê essa evolução política, Geraldo? Muito o que comemorar?
Ao olhar para trás, eu vejo realmente um filme muito importante na minha vida. Eu que nunca me furtei de fugir aos desafios... Eu costumo sempre dizer que a história não costuma falar dos covardes, mas nós sabemos do nosso potencial e nós entendíamos que era hora de dar uma virada. Com relação a comemorar, eu tenho comemorado muito. Essa semana em especial, que faz 2 anos que minha mãe foi morar com Deus, eu sei que ela olha por mim de lá, mas eu gostaria muito, se fosse o presente do ano, seria ter a minha mãe aqui vendo todo esse sucesso. Quando nós falávamos sobre até onde ia o meu papel e em que posição eu estaria na política, e eu costumava falar sempre, porque com minha família eu sempre fui muito de perto, com os meus filhos, com a minha mãe, com o meu pai. Especialmente com minha mãe, que era uma pessoa que acreditava muito em mim. Uma pena que ela não esteja aqui. Mas a vida é assim. A gente tem que entender os desígnios de Deus. É difícil, mas eu estou, ao responder essa pergunta, muito emocionado. Porque eu sei que posso ajudar. Eu sei que posso ajudar o povo da Bahia, especialmente aqueles que mais precisam. Já foi feito lá atrás... A Bahia já mudou muito, se a gente pegar aí os últimos 16 anos, mas ainda tem muito o que se fazer. A gente sabe que o bom é inimigo do ótimo, e a gente sempre procura fazer algo melhor.
Imagino como deve ter sido difícil você sair da zona de conforto e romper com o grupo do ex-prefeito ACM Neto. Como viveu esse processo?
Eu confesso que não era uma zona de conforto estar ao lado do ex-prefeito ACM Neto. Era apenas uma questão de naquele momento ser o grupo em que eu estava, e eu sempre fui fiel ao grupo. O processo se deu quando eu percebi que o projeto apresentado pelo líder desse processo, que foi o senador Jaques Wagner, o governador Rui Costa, e o nosso líder nacional Lula, que apresentava um projeto de retomada da felicidade, de fim do ódio. Eu confesso que esse processo foi o que realmente me motivou. Porque eu não mudei de lado. Eu continuo do mesmo lado, eu continuo do lado do povo, onde eu sempre estive. Quem me conhece sabe. Eu sou aquele que nunca deixou de abraçar independente da sua classe social, independente da sua condição financeira. Então, foi uma coisa que eu tomei a decisão. Não foi fácil tomar a decisão. Eu não estava em uma zona de conforto. Na verdade, eu estava ocupando a posição que, diga-se de passagem, eu fui na última eleição para presidente eleito por aclamação. Então, foi uma prova de que a gente vinha desenvolvendo um trabalho onde nós demos uma visibilidade muito grande à Câmara de Salvador. Muito grande. É bom que se faça o registro, porque é a casa do povo, é a casa que representa. Eu tenho muito orgulho de ter passado e por estar ainda ali. Eu nunca vivi uma zona de conforto. Porque publicamente as pessoas não sabem o que acontece nos corredores e como nós enfrentamos o que eu costumo chamar de forças ocultas.
Jerônimo não era a aposta e até mesmo os aliados do PT tinham dificuldade de acreditar na vitória do petista na Bahia. No entanto, todos são unânimes ao afirmar que sua chegada no grupo serviu de estímulo e foi responsável pela injeção de ânimo ao longo da campanha. Você levou seu gás, experiência e empolgação para a campanha. Quais os dois momentos mais marcantes de todo esse processo?
Eu e Jerônimo foi uma espécie de amor à primeira vista. Eu já o conhecia, porque é irmão da minha amiga, uma irmã que a vida me deu, que é Marta Rodrigues, que sempre trabalhou na Câmara comigo, uma vereadora muito atuante. Eu já conhecia Jerônimo, naturalmente que eu não tinha uma relação mais próxima. Com relação à minha entrada na chapa, e se as pessoas acreditavam ou não, quando eu vi o projeto que se tinha para a Bahia, e eu vi Jerônimo, que é um cara que tem um conjunto de qualidades muito difícil para encontrar no ser humano nos dias atuais... É um cara sensível, dedicado, extremamente disciplinado, um cara que não tem estrelismo. Hoje Jerônimo já eleito, ele trata todo mundo de forma muito humana. Então, assim, naturalmente que no grupo, quando a gente entra, a gente contribui de alguma forma. Mas o tamanho da minha contribuição eu não posso medir. Com relação a essa coisa da empolgação, eu sou empolgado por natureza. Eu vivo empolgado. Eu acordo todos os dias às 5h da manhã e acordo empolgado. Porque aquele dia é muito importante, é mais um dia da minha vida. Eu não posso perder um dia da minha vida se eu não puder fazer algo que ajude e que possa melhorar a vida das pessoas. E sobre Jerônimo, nós nos aproximamos, e hoje a sensação que eu tenho é que eu nasci e me criei com Jerônimo, porque nós temos uma relação muito de perto. A gente olha um para o outro, a gente se entende, a gente sorri, a gente sabe quando precisava mudar, dar uma virada, às vezes melhorar o discurso. E nós nunca tivemos nenhum problema em um dar um toque ao outro. Todo mundo tem algo a ensinar. Eu aprendi e aprendo muito com Jerônimo, essa é a verdade.
Eleito vice-governador, há quem diga que você não será um vice decorativo. Que papel pretende desempenhar no governo, ao lado do governador Jerônimo Rodrigues?
Quando o meu partido, o MDB, indicou meu nome para vice, indicou para cumprir as atribuições constitucionais inerentes ao cargo, que é substituir o governador quando ele tiver que se ausentar por algum motivo. Portanto, não existe essa história de ser vice decorativo ou não decorativo, até porque, essas funções não estão previstas na Constituição, mas sim, de ser vice-governador. Além do que, caberá ao governador, por opção pessoal, delegar funções a mim se ele achar que eu tenho condições de desempenha-las com competência e corresponder à confiança dele. E se me perguntarem se gostaria de receber essas missões, eu diria sem medo de errar que sim. Quem não gostaria de servir ao seu povo e ao seu estado com a maior intensidade possível? Quanto mais um homem como eu, que tem um perfil que gosta de trabalhar, de ser resolutivo. Mas te adianto que a grande missão que tenho já foi me dada pelo povo da Bahia, de ser vice para, juntamente com o governador Jerônimo e na mais completa lealdade e harmonia, realizar o melhor governo que a Bahia já teve.
Concorda com a avaliação dos aliados de que a vitória de vocês mostra a força do governo Rui, a força de Lula no estado e a rejeição ao individualismo na política?
Sem sombra de dúvidas que o governador Rui Costa entra para a história por ser um governador que vai entregar um governo com quase 80% de aprovação. Ou seja, até aqueles que não votaram na nossa chapa aprovam o governo Rui. Como um governo que realmente está às vistas. Eu diria, como Nelson Rodrigues, é óbvio ululante o trabalho do governo Rui Costa. Mas é um conjunto, porque tem a liderança do nosso líder maior Lula, que é aquele que o povo enxerga que se parece com aqueles que precisam. Sempre teve um discurso único que nunca mudou, que é trabalhar por aqueles que mais precisam. E na Bahia nós tínhamos um conjunto perfeito. Lula como presidente, Rui como um governador com aprovação enorme, o nosso grande articulador político, o senador Jaques Wagner, com quem a cada dia eu aprendo muito. Cinco minutos com Wagner valem seguramente um semestre na faculdade da política. E nós tivemos também o apoio do nosso senador Otto Alencar, que foi muito importante. Então, nós tivemos um conjunto de acertos de pessoas que estavam no lugar certo. Sem tirar, naturalmente, o carisma de Jerônimo que cada um tem um carisma de um jeito. Jerônimo é um sedutor. Quem conhece Jerônimo gosta, não tem como errar. Ainda respondendo a sua pergunta, eu não gostaria de falar da chapa perdedora. Eles é que têm que fazer uma autoavaliação, ver onde erraram, ou se acertaram, e o acerto deles vai só até aí. Mas essa é uma avaliação para eles fazerem. O mais importante é que no nosso grupo não existe individualismo. O nosso grupo é realmente um time. Cada um tem a sua posição e cada um faz da sua posição aquilo que tem que ser feito. Com relação a essa coisa do outro grupo, essa pergunta precisa ser feita a eles. Eu não diria que eles erraram, não. Até porque nós ganhamos a eleição e não foi uma eleição fácil. Foi uma eleição difícil. Naturalmente, o povo fez a escolha pelo grupo que mais se parecia com ele.
Muitos prefeitos e lideranças mudaram de lado e apoiaram a oposição. Alguns já retornaram. Como vocês pretendem se relacionar com eles, tanto os que foram como os que ficaram?
Com relação a essa mudança de posição na política, é comum. Até porque política não se ganha de véspera. As pesquisas na Bahia, e aí gente tem que dar um desconto àqueles institutos que não acertaram, fizeram com que vários prefeitos achassem que o outro lado seria o vencedor. E depois retornaram. Isso não os desqualifica. Até porque no nosso projeto nós não vamos administrar a Bahia para os que votaram na gente. Nós vamos administrar para os 15 milhões de moradores que estão na Bahia, independente se é do partido A, B ou C, se é aliado ou se é oposição. A oposição faz parte da democracia. E uma coisa que nós respeitamos muito é essa escolha democrática. Não é porque o prefeito da cidade fez uma opção diferente para votar no seu governador, no seu senador, que o povo desse município deverá ser penalizado. Isso não faz o menor sentido. Essa política já não existe mais na Bahia, desde a entrada de Wagner. Isso já acabou. Já tem 16 anos e vai continuar. Essa política da perseguição não existe no nosso grupo.
Você comanda a equipe de transição junto com Jerônimo. Qual o diagnóstico feito até agora e o que esperar do desenho do novo governo, que deverá espelhar os espaços do ministério de Lula? Já há definição de nomes?
Essa equipe de transição vem sendo tratada com muito critério. Porque suceder um governador como Rui Costa não é fácil. Porque quando você sucede um governo que não deu certo, a sua responsabilidade é menor. Mas quando você sucede um governador que vai deixar o governo com cerca de 80% de aprovação, aumenta nossa responsabilidade, o sarrafo de escolha para essas secretarias, esses atores que trabalharão nesse novo governo... Então, é importante frisar que está sendo escolhido com muito cuidado, com tudo que se exige. É importante que se tenha bons técnicos, mas se tenha também bons políticos que saibam falar com a Bahia. E, como já foi anunciado, até o dia 15 o nosso governador vai estar anunciando e com certeza serão grandes nomes. Tenha certeza disso.
Luiz Caetano disse que ACM Neto subestimou Jerônimo na campanha e ignorou a força do governo e do PT na Bahia. Será difícil para ele retornar à cena política?
Eu confesso que eu não vi com riqueza de detalhes isso que falou Luiz Caetano, que é um grande amigo, um grande parceiro. Um cara que trabalhou muito para que esse projeto desse certo. Com relação ao candidato derrotado, o ex-prefeito de Salvador, como ele vai ficar no futuro, eu não sei. O futuro pertence a Deus, eu não sei como ele vai ficar. Cabe a ele essa preocupação, cabe ao candidato derrotado tomar conta da vida dele.
Falando agora sobre a Câmara, você está no terceiro ano do seu mandato e está prestes a renunciar para assumir como vice. Que avaliação faz desse período e que marcas deixa no legislativo soteropolitano?
Com relação à Câmara Municipal de Salvador, eu aprendi que tem dá majestade ao cargo é quem ocupa. Eu estou saindo no segundo ano do meu terceiro mandato. Mas eu saio de cabeça erguida e pela porta da frente. Ao longo desses quase 9 anos que eu estive na Câmara, e por dois mandatos presidente daquela casa, eu exerci o papel que é a cara do povo de Salvador. Aprovamos diversos projetos, eu posso destacar aí considerando que Salvador é a maior população negra fora da África, era vergonhoso não termos um estatuto de igualdade racial, e foi acrescentado também o de intolerância religiosa, que não cabe na cidade de Salvador. E aprovamos outros inúmeros projetos, fizemos tudo aquilo que era para beneficiar o povo. Agi com coerência em todos os projetos. Discuti e sentei com as comissões quando era de interesse do povo, independente de quem tenha sido vereador que tenha apresentado, partido A, B ou C, nós sempre sentamos e discutimos. Se veio do Executivo e beneficiava o povo, foi aprovado. Quando veio do Executivo e não beneficiava o povo, a gente sentava, fazia emendas, mudava o projeto. Uma prova inequívoca disso é que a eleição passou e eu continuo presidente até o dia 31 de dezembro. E já começamos a aprovar, estamos aprovando algumas coisas que são do interesse da população. Então, como presidente eu saio de cabeça erguida. Eu acho que nós conseguimos dar uma valorização à Câmara que naturalmente cada um ao seu tempo deu a sua contribuição. E nós demos a contribuição que nós achávamos que era aquilo que era o melhor para o povo de Salvador. Então, eu saio da casa, mas saio do jeito que entrei, pela porta da frente. Muito orgulho. Lá fiz grandes amigos e que vou levá-los comigo para a vida. Naturalmente, é da natureza humana que a gente goste mais de um ou mais de outro. Mas eu não fiz um só inimigo na Câmara nesse período que passei. Fui eleito nos dois mandatos para presidente por unanimidade. E saio muito feliz com o trabalho que realizei. Espero que o próximo presidente Carlos Muniz, que assim foi votado, dê continuidade. Não tenho dúvida de que Carlos Muniz é o nome perfeito para seguir fortalecendo a Câmara.
Há muita expectativa para a sucessão na Casa. Acredita que a tese de ascensão do primeiro vice Carlos Muniz vai ser colocada em prática? Esse assunto está pacificado?
Com relação à sucessão da Casa, não é uma tese. É um fato. Isso foi feito e votado por todos, inclusive os de oposição à mudança do regimento. Não teve uma chapa única, foram cargos individuais que foram eleitos, e por uma questão de lógica, do fato de o presidente não assumir, que seria eu, naturalmente assume o vice que foi eleito. Até porque está previsto isso, e já foram à Justiça e lá não lograram êxito. É isso aí e tem que ser respeitado. A democracia para mim é uma das coisas mais importantes, e foi feito de forma democrática. Então, não há o que se discutir. Para mim isso é um fato consumado, isso é inexorável.
As últimas movimentações mostram a sinalização da bandeira branca da paz entre você e o prefeito Bruno Reis. Como está esse diálogo?
Em relação ao poder Legislativo e Executivo da cidade de Salvador, em nenhum momento houve retaliação, porque nós estávamos em um processo de disputa eleitoral. Naturalmente, existiam coisas que eu achava incongruentes, que não eram boas para a população, e a gente discutiu. Com relação a essa coisa de pacificação, eu nunca fui inimigo do prefeito Bruno Reis. Muito pelo contrário. Sempre tive uma relação muito de perto. O fato de estarmos em projetos políticos opostos não muda absolutamente nada. Com relação à bandeira branca, nunca houve bandeira que fosse de outra cor. Sempre foi essa bandeira da paz. Claro que isso faz parte do espírito da democracia. A democracia é isso. Cada um defende aquilo que acha que é mais interessante para o povo e eu defendi e vou continuar defendendo. Então, não tem bandeira branca, porque nunca teve outra cor de bandeira. Eu tenho aqui independente de posição partidária, tenho um carinho muito grande pelo prefeito Bruno Reis, um homem destemido também, um homem que fez um projeto de vida, que hoje administra a quarta maior capital do Brasil. E não vai haver nenhum tipo de retaliação. Muito pelo contrário. Nosso grupo, que já vinha fazendo muito por Salvador, vai continuar fazendo mais. Porque a gente só não pode brigar com o povo. E isso não irá acontecer. Então, eu e Bruno Reis nós temos uma relação. Ele defende uma posição política e eu defendo junto com meu grupo outra. Isso é natural, isso é da política. E a eleição acabou, tanto que o candidato derrotado, o ex-prefeito na mesma noite assumiu e deu uma prova de espírito democrático. Esse modelo deveria, inclusive, se refletir para o Brasil, porque nós ainda temos muitas confusões desnecessárias. Foi uma escolha do povo.
Sempre deixou claro seu desejo de comandar a prefeitura de Salvador. Esse seu novo desafio, como vice-governador, te fortalece e aproxima desse sonho?
Eu não fujo a nenhuma pergunta e não vou, nesse momento, fazê-la. Todos sabem do meu desejo, do meu sonho de ser prefeito da cidade de Salvador. Eu costumo dizer sempre que a única coisa na vida que não é mentira é sonhar. Você pode sonhar com o que você quiser e ninguém pode dizer que é uma mentira. Naturalmente, isso passa por uma discussão. Eu pertenço a um grupo hoje que tem grandes nomes. O governador Rui Costa, inclusive, quando questionado na semana passada sobre a prefeitura de Salvador, ele disse que não seria candidato, que tem muitos nomes, tem muitos nomes novos que surgiram, inclusive, durante essa campanha agora. Eu não posso deixar, não vou declinar da minha vontade de ser prefeito de Salvador. Mas claro que isso ainda tem um ano e meio pela frente, tem muita água para passar debaixo da ponte. Mas quem sabe? Se for da vontade de Deus, do nosso grupo e a gente apresentar um projeto realmente... A gente sabe do que Salvador precisa e se for eu o escolhido pode ter certeza de que eu vou atender a altura como prefeito de Salvador.