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Desceu do muro! - 29/10/2022, 07:00 - Rafael tiago

Do ‘tanto faz’ às arminhas: ACM Neto abraça de vez o bolsonarismo

Candidato ao governo da Bahia finge neutralidade, mas fecha parceria com aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) na Bahia

Bolsonaro declarou publicamente apoio a ACM Neto
Bolsonaro declarou publicamente apoio a ACM Neto |  Foto: Alan Santos/ Presidência da República

por Cássio Moreira

O candidato ao governo da Bahia, ACM Neto (União Brasil), tem reforçado durante o segundo turno a velha história de que você sempre terá um lado na vida. Após passar toda a corrida eleitoral na posição de neutralidade com relação a eleição presidencial, o ex-prefeito de Salvador abandonou, ainda que de forma tímida, o “tanto faz”, e abraçou importantes figuras do bolsonarismo baiano.

ACM Neto e o presidente Jair Bolsonaro (PL) possuem uma relação de amor e ódio ao longo dos quatro anos. A novela começou no segundo turno da campanha de 2018, quando o então prefeito declarou apoio e voto ao então candidato do extinto PSL, que hoje forma justamente com o Democratas robusto União Brasil, na disputa contra o ex-ministro Fernando Haddad (PT). A lua de mel durou o primeiro ano do mandato do já eleito Bolsonaro, e teve como ponto alto a inauguração do aeroporto Glauber Rocha, em Vitória da Conquista, festa ‘tomada de assalto’ pelo presidente e sua trupe, o que inclui Neto. A amizade, entretanto, se desfez entre os ataques descabidos de Bolsonaro às instituições democráticas e o negacionismo durante a pandemia da Covid-19. Depois disso, o que se viu foi uma tentativa de Neto esconder a aproximação anterior, com direito a rompimento com o amigo de longa data e aliado, João Roma (PL), quando este aceitou ser ministro da Cidadania, em 2021.

Pressionado desde o início da campanha para o governo da Bahia a tomar uma posição, ACM Neto ignorou a disputa presidencial e até mesmo a candidatura da senadora Soraya Thronicke, do seu partido, e passou a pregar que ia dialogar com qualquer um que ocupe o Planalto a partir do dia 1º de janeiro. A postura dele, porém, mudou após o baque do resultado do primeiro turno, quando quase perdeu para Jerônimo Rodrigues (PT) e chegou para o segundo turno desidratado e com uma larga desvantagem contra o adversário. Desde então, Neto tem recebido e aceitado apoio dos principais integrantes do bolsonarismo baiano.

‘Homem forte’ e coordenador da campanha de Jerônimo ao governo do estado, o ex-prefeito de Camaçari e ex-deputado Luiz Caetano (PT) afirmou ao portal Massa! que o risco de derrota no dia 30 de outubro tem deixado ACM Neto em “desespero”, com um comportamento parecido com o de Bolsonaro.

“A derrota iminente de Neto está deixando ele igual ao presidente dele (Bolsonaro), desesperado. Os dois partiram para o tudo ou nada e intensificaram as fake news, o plágio da nossa campanha e partiram para o vale tudo, porque sabem que vão ser derrotados e morrer abraçados”, disse Caetano à reportagem.

Novos aliados

Dra. Raíssa Soares, Capitão Alden, Alexandre Aleluia, Jânio Natal (prefeito de Porto Seguro), e João Roma, ainda que brigado com Neto, todos do PL, já declararam publicamente apoio ao ex-prefeito, e apareceram ao lado do político em fotos e vídeos. A cereja do bolo’ é o apoio do próprio Bolsonaro, ainda que não correspondido, demostrado de forma explícita pelo presidente na última terça-feira (25), no município baiano de Guanambi. Na ocasião, o chefe do Planalto chegou a ecoar o número do União Brasil nas urnas. Apesar de não retribuir ao gesto, ACM Neto amenizou as críticas contra o presidente durante toda a campanha.

Quarto colocado no primeiro turno da eleição para a sucessão estadual, Kleber Rosa (PSOL), que declarou apoio a Jerônimo no segundo turno, afirmou que a base política de ACM Neto é bolsonarista.

“A estratégia eleitoral foi esconder a realidade, que ele está no campo de Bolsonaro articulou proximidade de João Roma com o governo federal, por isso que Roma foi ministro, apesar deles terem se desentendido no diálogo. A base de apoio dele aqui é bolsonarista, você tira pela figura do Aleluia (Alexandre). Ele está no campo do bolsonarismo, só que agora no segundo turno ficou mais difícil esconder isso, por conta da ausência do candidato de Bolsonaro; eu disse que a candidatura de Roma ajudava ACM Neto na estratégia dele de se distanciar do bolsonarismo. Agora, isso ficou evidente, o apoio de Bolsonaro pedindo voto para ele”, afirmou Kleber, que apostou ainda na fuga de alguns eleitores de Neto que também votaram no ex-presidente Lula (PT) no primeiro turno, por causa da aproximação com o campo bolsonarista.

“Não tenho dúvida que isso influencia, porque o voto em Lula e o apoio de Lula tem peso na decisão da escolha do eleitor para o candidato ao governo. Não é algo de se desconsiderar, então à medida em que vai ficando mais evidente a relação de ACM Neto com Bolsonaro, as pessoas que se orientam pela indicação de Lula tendem a se afastar dele. Então, se alguém tinha dúvida no primeiro turno, agora não tem. Isso vai influenciar na votação sim”, completou.

Reduto petista

Considerado o principal reduto petista no país, a Bahia deu ao ex-presidente Lula 69,73% dos votos, enquanto Bolsonaro, mesmo com o palanque cedido por João Roma, teve apenas 24,31% dos votos. Um dos principais críticos de ACM Neto, o vereador de Salvador e um dos responsáveis pela campanha da chapa Jerônimo/Geraldo Júnior (MDB), Henrique Carballal (PDT), apontou que a aproximação entre o ex-prefeito e o bolsonarismo é ainda mais profunda, uma vez que seus aliados e correligionários são próximos ao governo Bolsonaro. O pedetista ainda detonou o oportunismo político do ex-prefeito.

“Neto, ao se posicionar como ele tenta para enganar o eleitor de que ele não tem candidato a presidente, a única demonstração é do seu oportunismo político. Todo político tem lado, tem posição. No momento em que ele tenta enganar as pessoas dizendo que ele não possui (lado), é apenas porque ele sabe do imenso desgaste de Bolsonaro na Bahia e do grande apoio popular que o Lula tem aqui”, iniciou Carballal, que continuou.

“Na prática, Neto e sua turma sempre foram Bolsonaro. Os cargos federais na Bahia foram indicados por pessoas ligadas a Neto. O orçamento secreto correu solto na Bahia nas mãos dos aliados de Neto, e não à toa que Bolsonaro anuncia abertamente o apoio a Neto, de forma explícita. A estirpe política de que nasceu Neto é a mesma de Bolsonaro, as origens políticas são as mesmas. Então, ele (ACM Neto) só não declara apoio político a Bolsonaro por oportunismo, o que é muito pior [...] por isso que Neto não vai perder, vai ser derrotado. O filho do vaqueiro (Jerônimo) vai derrotar o neto do coronel (Antônio Carlos Magalhães) de forma firme”, encerrou o vereador.

O segundo turno acontece neste domingo (30). No primeiro turno, no dia 2 de outubro, Jerônimo Rodrigues (PT) teve 49,45% dos votos válidos, enquanto Neto teve 40,88%.

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