Em conversa com ministros aliados pouco antes das eleições de 2022, Jair Bolsonaro (PL) disse que o Brasil iria virar uma "grande guerrilha" caso nada fosse feito por eles antes das votações que elegeram Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como presidente.
Um vídeo divulgado pelo jornal O Globo mostrou o discurso do ex-presidente em uma reunião da cúpula do governo. A gravação foi encontrada pela Polícia Federal (PF) no computador de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e embasou o início da Operação Tempos Veritatis, que apura uma suposta tentativa de Golpe de Estado.
Cid já tem um acordo com a PF para delação premiada. O acerto também já foi homologado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A polícia afirma que Bolsonaro teria utilizado o encontra para ordenar que fossem compartilhadas uma série de fake news para tentar modificar o cenário da corrida eleitoral naquele momento.
"Nós sabemos que, se a gente reagir depois das eleições, vai ter um caos no Brasil, vai virar uma grande guerrilha, uma fogueira no Brasil. Agora, alguém tem dúvida que a esquerda, como está indo, vai ganhar as eleições? Não adianta eu ter 80% dos votos. Eles vão ganhar as eleições", disse.
Nenhuma das acusações de Jair Bolsonaro sobre a integridade dos processos eleitorais foram confirmadas durante os quatro anos do mandato dele. O ex-presidente, ainda naquela reunião, pediu que seus aliados fizessem parte da elaboração de um documento que questionasse “a lisura das eleições”, isso ainda incluindo órgãos como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
"Nós não podemos, pessoal, deixar chegar as eleições e acontecer o que está pintado, está pintado. Eu parei de falar em voto imp... e eleições há umas três semanas. Vocês estão vendo agora que... eu acho que chegaram à conclusão. A gente vai ter que fazer alguma coisa antes."
De acordo com nota oficial divulgada na última quinta (8), a OAB garante que "nunca foi procurada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro ou seus interlocutores para a finalidade mencionada".
"A urna eletrônica é motivo de orgulho para o Brasil. A Ordem rejeitou as falsas acusações contra a Justiça Eleitoral por meio de notas, artigos, entrevistas, discursos e outros documentos. Fomos a primeira entidade civil a reconhecer a legitimidade dos resultados da eleição de 2022", declarou a entidade.
Bolsonaro ainda afirma ter sido favorecido por um "erro" do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em incluir as Forças Armadas na Comissão de Transparência das Eleições, dando a entender que ele teria influência dentro do Exército.
"Eles erraram [ao incluir as Forças Armadas]. Para nós, foi excelente. Eles se esqueceram que sou o chefe supremo das Forças Armadas?", afirmou.