Na Nigéria atualmente está acontecendo um novo tipo de tráfico de escravos. A forte declaração é de Wole Soyinka, nigeriano dramaturgo, romancista e poeta que ministrou nesta segunda-feira (6), no Museu Nacional de Cultura Afro Brasileira, no Centro Histórico de Salvador, uma palestra sobre o papel do escritor em meio às dificuldades enfrentadas pelas diversas sociedades.
Autor de obras como 'Os Interpretes', de 1965, Soyinka, que foi preso em 1967, durante a Guerra Civil Nigeriana, pelo governo federal do General Yakubu Gowon e colocado em prisão solitária durante dois anos, por ter se voluntariado como ator mediador não-governamental, lembrou como conseguiu desenvolver um novo mundo, mesmo encarcerado.
"Quando você está na prisão, desenvolve partes muito específicas para sobrevivência, aprende a improvisar, até mesmo no confinamento você aprende a criar um micro mundo ao redor de si mesmo. Isso é crítico, se você estiver em solitária, a ideia deles é quebrar sua mente. Então, você desenvolve uma forma de criar um micro mundo entre você e as coisas, esses fenômenos incluem até mesmo mudanças de estações. Quando você desenvolve esse micro mundo, supera o problema da criação. Foi dessa forma que comecei a improvisar", disse o escritor.
Ele pontuou que atualmente tem um projeto para levar africanos de volta ao continente de origem. Neste momento, ele abordou como a escravidão foi repaginada para os dias atuais. "Observamos ou encaramos é que o que acontece é um novo tipo de tráfico de escravos. Neste processo, são empurrados ao mediterrâneo e muitos deles perecem durante a travessia. Os que sobrevivem se vendem sob condições não muito diferentes da escravidão".
Quem também participou da conversa foi a influenciadora e escritora Camilla Apresentação. Após o evento, ela contou ao Grupo A TARDE que viver essa experiência foi uma honra, pois Wole é para ela uma inspiração.
"Quem já leu ele, quem tem contato com ele, percebe que ele traz assuntos sérios de forma sarcástica, e essa forma dele se posicionar me inspira muito, porque quem me conhece, quem me acompanha, sabe que eu tenho essa pegada. Eu sou um pouco assim também e estar aqui hoje neste momento da nossa história, tem reconstruído a nossa cultura em Salvador e no Brasil como um todo, trazendo pessoas como Wole".
Ela contou ainda como equilibra a liberdade criativa e a abordagem de temáticas necessárias. "Quando me encontrei enquanto escritora, antes mesmo eu já lia bastante. Então, eu sempre estive ali conectada com muitos livros, e foi aí que eu comecei a minha emancipação da literatura. A literatura que eu falo não é apenas a escrita, porque muitas vezes a gente acha que literatura é só livro, mas literatura é tudo, é oralidade, é o que a gente aprende nas ruas, é poesia. Ela de fato emancipa, ela conecta pessoas, ela coloca você num lugar que você nunca se imaginou que é onde eu estou hoje", refletiu.