Pelo menos 40 pessoas morreram e mais de cem ficaram feridas nesta sexta-feira (22) em um ataque a tiros seguido de um incêndio em uma casa de espetáculos nos arredores de Moscou, atribuído pelas autoridades russas a um "atentado terrorista sangrento" e reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI).
"O balanço provisório do atentado terrorista perpetrado no complexo Crocus City Hall é atualmente de 40 mortos e mais de cem feridos", indicaram as forças de segurança (FSB), citadas pelas agências de notícias russas.
Unidades especiais da Guarda Nacional russa (Rosgvardia) estão trabalhando no local do ataque e estão "procurando" pelos autores, acrescentou este órgão no Telegram.
As forças de ordem não informaram se ainda havia suspeitos dentro do prédio.
O Ministério das Relações Exteriores atribuiu a "um atentado terrorista sangrento" a tragédia, que ocorreu em um auditório de Krasnogorsk, um subúrbio no noroeste da capital russa.
O grupo Estado Islâmico reivindicou a autoria do ataque, afirmando pelo Telegram que combatentes do grupo "atacaram uma grande concentração [...] nos arredores da capital russa, Moscou".
O grupo jihadista acrescentou que, após o ataque, seu comando retornou à sua base em segurança.
O prefeito de Moscou, Sergei Sobyanin, anunciou o cancelamento "de todos os eventos esportivos, culturais" e de caráter público durante o fim de semana.
Uma jornalista da AFP viu o edifício da sala de shows em chamas e uma fumaça negra saindo do telhado.
Alexei, um produtor musical que estava no camarim no momento do ataque, contou à AFP que "logo antes do início" do ataque, ouviu "rajadas de metralhadoras e o grito horrível de uma mulher. E, depois, muitos gritos".
Segundo um repórter da agência Ria Novosti, pessoas em uniformes táticos invadiram a casa de shows e abriram fogo antes de lançar "uma granada ou uma bomba incendiária, provocando um incêndio".
"As pessoas que estavam na sala se jogaram no chão para se proteger dos disparos por 15 ou 20 minutos" e muitos conseguiram "sair rastejando", disse.
Tiros contra o público
Os serviços de resgate, citados pela agência Interfax, relataram um "grupo de duas a cinco pessoas não identificadas, com uniformes de combate e armas automáticas", que "abriram fogo contra os agentes de segurança na entrada da casa de shows" e antes de "começar a atirar contra o público".
Segundo o Ministério de Situações de Emergência, os bombeiros conseguiram evacuar uma centena de pessoas que estavam no porão do local.
Também há operações em curso para "salvar pessoas que estão no telhado do prédio", detalhou.
O ataque ocorreu durante um show da banda de rock russa Piknik, cujos membros foram evacuados, disse a agência de notícias TASS.
O presidente russo, Vladimir Putin, está sendo informado do ataque em tempo real, disse seu porta-voz, Dmitri Peskov.
As redes de notícias Baza e Mash, próximas às forças de segurança no Telegram, publicaram vídeos nos quais veem-se pelo menos dois homens armados avançando no saguão do complexo. Em outras sequências, há corpos e grupos de pessoas correndo para a saída.
Outras imagens mostram espectadores se escondendo atrás das poltronas ou evacuando a sala.
A Casa Branca transmitiu suas condolências às vítimas do "terrível" tiroteio. "As imagens são simplesmente horríveis e difíceis de assistir", declarou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby.
A União Europeia disse estar "chocada e consternada" com a matança e indicou que "condena todos os ataques contra civis", disse seu porta-voz, Peter Stano.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, "condena nos termos mais enérgicos possíveis" o ataque e "transmite suas profundas condolências às famílias enlutadas, ao povo e ao governo da Federação Russa", informou o porta-voz Farhan Haq.
França, Itália e Espanha também condenaram a agressão.
Ucrânia nega envolvimento
A Ucrânia, confrontada desde 2022 a uma intervenção militar russa, garantiu que não tinha "absolutamente nada a ver" com o ataque.
A "Legião da Liberdade da Rússia", um grupo de combatentes russos antigovernamentais baseado na Ucrânia, também negou qualquer envolvimento.
Nos últimos dias, esse grupo tem realizado incursões armadas em regiões fronteiriças russas, que também foram alvo de bombardeios.
Os serviços de inteligência militar ucranianos acusaram, por sua vez, o próprio Kremlin e seus serviços especiais de estarem por trás da agressão.
O "objetivo é justificar bombardeios ainda mais potentes contra a Ucrânia e uma mobilização total na Rússia", asseguraram.
O ex-presidente russo Dmiti Medvedev, número dois do Conselho de Segurança, ameaçou "destruir" os líderes ucranianos se ficar provado que estão envolvidos no ataque.
Há duas semanas, a embaixada dos Estados Unidos na Rússia havia alertado seus cidadãos sobre planos "iminente" de "extremistas" para "atacar grandes concentrações em Moscou, incluindo shows".
A Rússia já foi alvo de inúmeros ataques, cometidos por grupos islamistas, e ataques a tiros sem motivos políticos ou atribuídos a desequilibrados.
Em 2002, um grupo de combatentes chechenos fez 912 pessoas reféns no teatro moscovita de Dubrovka para pedir a retirada das tropas russas da Chechênia.
Essa tomada de reféns resultou em uma intervenção das forças especiais e na morte de 130 pessoas, quase todas sufocadas pelo gás usado pelos militares.