A memória é uma peça de roupa costurada a partir de um emaranhado de lembranças, vivências, relações e até as faltas. "Saudade é agulha que às vezes espeta doce". Histórias embelezadas com acabamentos que evidenciam afetos. Isto é “Aviamentos”, espetáculo solo da atriz baiana Andréa Rabelo, com texto de Gildon Oliveira e direção de Jacyan Castilho, que está na segunda temporada no Teatro Sesi Rio Vermelho, até 20 de maio - sextas e sábados, às 20h. Os ingressos já estão disponíveis no Sympla e podem ser adquiridos na bilheteria do teatro.
Lembrar é alinhavar retalhos de memórias e sentimentos que ficaram. O que é a vida senão uma costura de experiências? Modelar e moldar. Nem sempre o molde corresponde à realidade, então são precisos os ajustes, os cortes, os alinhavos, as sequências de tentativa e erro. A dramaturgia poética escrita por Gildon Oliveira narra com sensibilidade as lembranças vindas da intérprete, que costura suas histórias, não necessariamente autobiográficas.
A costura é metáfora para falar de memória, das medidas a que nos submetemos até encontrar aquela que nos cabe. Na peça, surgem essas diversas analogias entre costurar e viver; lembrar e remendar; alinhavar e experimentar. Aviamentos é o emaranhado de fios que é a própria vida.
A diretora Jacyan Castilho explica que a encenação tem como base um precioso trabalho corporal da intérprete, o senso de humor e por vezes a melancolia que emerge das lembranças. "A Andrea cria uma relação íntima com o público, convidando-o a adentrar neste ateliê de costura que é Aviamentos e alinhavar, junto com a intérprete, suas próprias lembranças", descreve.
Se o timbre escutado pela plateia é o da atriz Andrea Rabelo, "ele estará polifonicamente interconectado às vozes de inúmeras mulheres e suas memórias que povoam meu corpo, alinhavado às palavras do dramaturgo e emoldurado pela escuta sensível e precisa da diretora. O monólogo nos faz lembrar nossas mães, tias, avós, as mulheres das nossas vidas".
Este solo tem sido moldado há alguns anos. E a passagem do tempo, junto com as transformações de si e da vida foram transmutando os desejos e as necessidades. Até estrear "Aviamentos", Rabelo modela a alguns anos a vontade de estrear um espetáculo solo.
"Há cerca de oito anos alimento esse desejo, a estudar e experimentar. Iniciou com a ideia de um solo de palhaça baseado em 'Alice no País das Maravilhas'. Logo depois, a intenção de abordar o tema da morte e homenagear minha mãe, mas ainda pensando em Alice, essa menina que cai no buraco em busca de si. O projeto foi se modificando, amadurecendo até chegar em Aviamentos" conta a atriz.
Ela realça que neste percurso teve a companhia do amigo e dramaturgo Gildon Oliveira. "Aviamentos é uma dramaturgia alimentada por muitas informações, sensações, imagens, mas feita com total liberdade em sua escrita", descreve.
"A dramaturgia empregada nesta obra é uma composição de misturas para criar uma atmosfera de familiaridade que nos faz lembrar alguém … idéias, emoções, delicadezas do conviver, parentes, amigos, amores. Em nossos botões, arremedos, em nossas medidas", reforça Gildon Oliveira.
O espetáculo é um alinhavar poético de 20 anos de carreira da atriz Andrea Rabelo, que é do tamanho de suas medidas - artista circense, pesquisadora e arte-educadora, professora substituta da UFBA, doutoranda e mestre em Artes Cênicas pela mesma universidade. "É meu primeiro solo, precisei me sentir preparada para o processo. Foi um trabalho longo, de dedicação, questionamentos, choro e suor", pontua Rabelo, que integra o Grupo Viapalco e Cia Buffa de Teatro, e já atuou em espetáculos dirigidos por João Lima, Paula Lice, Joice Aglae, Paulo Cunha e Harildo Déda, entre outr@s.
Serviço
O quê - “Aviamentos”, solo como a atriz Andrea Rabelo
Quando – 19 e 20 de maio, sextas e sábados, 20h
Onde – Teatro Sesi Rio Vermelho