Em seu segundo dia oficial, nesta quinta-feira (8), a Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô) foi palco de um bate-papo sobre Batatinha, comemorando os 100 anos do mestre do samba da Bahia. O evento, realizado no Museu Eugênio Teixeira Leal, contou com a mediação de James Martins e a participação do artista plástico Lucas Batatinha, do educador e músico Pedrão Abib, e do sambista Roberto Ribeiro.
Leia mais:
Não vem! Pedro Bial cancela participação na Flipelô
Público do Flipelô 2024 terá transporte gratuito; veja local
Herdeiro do sambista, cujo nome de batismo era Oscar da Penha, Lucas Batatinha contou detalhes sobre o início da carreira de seu pai e o surgimento de seu nome artístico. Segundo Lucas, Oscar começou a escrever canções ainda jovem, aos 12 anos. "Ele já tinha muitas músicas, mas sentia vergonha de mostrá-las", explica. Foi só quando ganhou mais confiança e profissionalismo que sua música começou a ser reconhecida.
Um marco importante na carreira de Oscar foi em 1970, quando a cantora Maria Bethânia incluiu três de suas canções no disco “Rosas dos Ventos”. "Foi aí que as pessoas começaram a perceber quem era aquela figura até então desconhecida", conta Lucas.
A escolha do nome artístico "Batatinha" também tem uma história interessante. "O nome foi dado por Fernando Canedo", disse Lucas. Fernando achava que o nome "Vassourinha", que Oscar usava por inspiração em um cantor de São Paulo com o mesmo nome, não era adequado. "Toda vez que meu pai cantava repertório de Vassourinha, as pessoas começavam a chamá-lo de Vassourinha também. Como já existia um cantor com esse nome, Fernando decidiu criar um novo nome para evitar confusão."
Lucas lembra que quando Fernando anunciou Oscar como "Oscar da Penha e Batatinha", seu pai ficou surpreso e até assustado. "Ele não gostou do nome, mas foi assim que a carreira dele começou a decolar", concluiu Lucas.
Legado para a posteridade
Pedro Abib, músico e educador em referência ao legado dos 100 anos do mestre do samba da Bahia fala de qual forma os jovens devem ser incentivados a serem histórias vivas e a construírem suas narrativas para que possam ser lembrados pelos seus descendentes.
Para ele, isso não deve ser um esforço isolado, mas sim uma parte integral da educação e da cultura popular, que, segundo ele, muitas vezes, entra nas escolas "pela porta dos fundos", ou seja, não recebe a atenção e o respeito que merece.
O músico Roberto Ribeiro comenta sobre como os sambistas da atualidade estão perpetuando o legado e mantendo viva a essência do samba baiano que Batatinha tanto representou.
Segundo Ribeiro, nem todos estão preocupados em preservar essa memória dentro do samba. "Não dá para dizer que todo mundo está fazendo isso. É preciso ter os pés no chão. A realidade é que quem está realmente se preocupando com isso é quem tem um pouco mais de consciência da importância que o samba e essas pessoas têm para o que está acontecendo agora. Se hoje estamos falando de um samba mais forte, especialmente em Salvador, é porque essas pessoas vieram antes. No entanto, há muitos que acreditam que o samba surgiu há pouco tempo. Então, nem todos estão preocupados com isso, e nem todos conhecem a velha guarda ou quem está envolvido nessa atividade”.
O sambista continua: "No geral, ainda é uma minoria. Não é toda voz no samba que você ouvirá ou verá reconhecer o nome de um artista e cantar um samba. Mas quem está disposto a manter essa tradição precisa ser dedicado, seja através de suas novas canções, de seus trabalhos ou de suas homenagens. O samba também é educativo, e precisamos abordá-lo dessa forma", conclui Ribeiro.