
A literatura negra será o centro das atenções na Balada Literária da Bahia 2025, que acontece entre esta quinta (27) e domingo (29), em Salvador. Em sua décima edição na capital baiana, o evento homenageia o centenário de nascimento de Mãe Stella de Oxóssi, yalorixá, escritora e primeira sacerdotisa a ocupar uma cadeira na Academia de Letras da Bahia. Falecida em 2018, Mãe Stella deixou uma obra extensa e fundamental para a compreensão do Candomblé e do universo simbólico dos orixás.
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A programação estreia nesta quinta, às 19h, com o Sarau Bem Black, realizado no terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, em São Gonçalo do Retiro, sob a bênção de Mãe Ana de Xangô, sucessora de Mãe Stella. O sarau reunirá poetas convidados e contará com pocket show do “Duo Korapoema”, formado por Juraci Tavares e Rick Carvalho.
De sexta a domingo, as atividades seguem no Complexo da Biblioteca Central do Estado, nos Barris, com mesas literárias, lançamentos, performances, exibição de filmes e rodas de poesia.
Um dos eixos centrais do evento é o painel “Odé Kaiodê”, que reunirá especialistas para analisar seis títulos de Mãe Stella: Meu tempo é agora, E daí aconteceu o encanto, Ososi: o caçador de alegrias, Owe – Provérbios, Epé Laiyê e Opinião – artigos d’A Tarde. A programação será distribuída entre sexta e sábado.
O curador do evento, Nelson Maca, destaca a importância da homenagem: “A Balada Literária da Bahia, nos seus 10 anos de vida, sempre homenageou pessoas negras com atuação profunda na literatura e nas artes. No geral ou particular, Mãe Stella foi exemplo vivo e será para sempre fonte de conhecimento e inspiração.”

Maca também ressalta a legitimidade dos pesquisadores que compõem o painel: “Será um amplo painel, com exposições de Fábio Lima, Iraildes Nascimento, Lindinalva Barbosa, Tomazia Azevedo, Cleidiana Ramos e Anajara Tavares. Uma grande oportunidade para se ter um panorama sólido da produção de Mãe Stella de Oxóssi em livro.”
Além das mesas literárias, a Balada traz a estreia nacional do filme “Cadernos Negros”, de Joel Zito Araújo, vencedor do prêmio do público na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. A exibição será no dia 30, às 10h, na Sala Walter da Silveira, seguida de debate com a presença do diretor e da escritora Esmeralda Ribeiro.
O ator Leno Sacramento apresenta o monólogo “Escarro Início”, terceira parte da trilogia Encruzilhadas, amanhã, às 19h30, no Quadrilátero da Biblioteca dos Barris, com bate-papo mediado pela jornalista Ana Cristina Pereira.
O evento também realiza a sessão “Balada da Memória Afetiva”, com quatro filmes que celebram personalidades e narrativas negras, seguida de conversa com os diretores.
Cerca de 30 autores baianos e de outros estados participam da Balada Literária da Bahia 2025. As mesas temáticas discutem literatura negra, vozes divergentes, combate ao racismo e a construção de narrativas antirracistas.
Entre os nomes confirmados estão Esmeralda Ribeiro (SP), Cristiane Sobral (DF), Juliana Correia (RJ), Jéssica Balbino (MG) e Paulo Scott (RS), além de baianos como Samuel Vida, Hamilton Borges, Jairo Pinto, Fábio Mandingo, Anajara Tavares e Jocélia Fonseca.
A Balada também será palco para lançamentos recentes, incluindo: “Porca Gorda”, de Jéssica Balbino (Barraco Editorial); “Malungos e outras histórias”, de Juliana Correia (Letramento); “Prostitutas vos Precederão no Reino dos Céus”, de Julia Baranski, vencedor do Prêmio Balada Literária.
O escritor e advogado Paulo Scott participa da mesa “Direito, Antirracismo e Literatura”, ao lado de Samuel Vida, com mediação de Nelson Maca. Ele lança o livro “Direito Constitucional Antirracista” (Thomson Reuters) no evento.

O show de encerramento reúne três artistas que representam a diversidade da música brasileira: Del Irerê, Prince Áddamo e Emerson Boy, misturando ritmos que passam pelo Recôncavo, reggae, samba rock e repente.
Para Nelson Maca, o evento tem um papel decisivo na ampliação do acesso à literatura: “Nossa Balada busca praticar a equidade, com vistas a vivermos a literatura com mais diversidade. Em 2025, além dos gêneros e formas literárias, haverá espaço para o teatro, o cinema e a música.”
Ele complementa que a versão baiana do festival segue o modelo iniciado em São Paulo, mas com um olhar profundamente afro-baiano. “Tudo isso amplia a abrangência do cenário, avançando os limites do território literário da Bahia. Isso colabora na formação de novos leitores.”
A edição de 2025 conta com apoio da Fundação Pedro Calmon, vinculada à Secretaria de Cultura do Estado, em parceria com o Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, a Diretoria de Audiovisual da Fundação Cultural do Estado da Bahia e a Borboletas Filmes.
*Sob supervisão do editor Anderson Orrico
