
A flor no cabelo, o sorriso encantador e a energia contagiante. As semelhanças entre a cantora Andrezza Santos e a eterna Gal Costa são muitas, mas a principal delas está na voz poderosa. Para celebrar a carreira de um dos maiores ícones da música baiana, Andrezza vai comandar o show “Gal para Dançar”. Reunindo releituras dos maiores clássicos da artista, o show acontece hoje, às 20h, no Teatro Sesc-Senac Pelourinho.
Leia Também:
O projeto começou em dezembro do ano passado e, como o próprio nome indica, busca trazer músicas mais dançantes. Andrezza explica que a escolha das canções foi um pequeno obstáculo na hora de produzir o repertório. “É muito difícil fazer um repertório de Gal Costa, porque ela tem muita coisa diferente. A gente fez esse recorte para dançar, com arranjos feitos para enaltecer a Bahia e sua diversidade rítmica”, contou em entrevista ao MASSA!.
A cantora modificou os arranjos de todas as músicas para representar um pouquinho de cada pedaço da Bahia. Dessa forma, as canções do repertório ganham uma “baianidade mais atual”. “‘Dê um Rolê’ e ‘Divino Maravilhoso’ a gente faz em pagodão baiano. Tem o bloco de arrocha, então ‘Nuvem Negra’ e ‘Quando Você Olha Pra Ela’ estão em versão arrocha, para dar aquela sofrida. Tem samba de roda, que a gente faz também”, disse.
Andrezza defendeu que as novas versões são uma forma de ir “contra o saudosismo”. Para ela, as pessoas precisam se desprender da ideia de que “música boa era só a de antigamente”. “A gente sabe que a Bahia é muito diversa, que a Gal foi muito diversa nas escolhas dela. Por que não trazer uma contemporaneidade, uma nova estética para o que ela tem de mais lindo no repertório?”, indagou.

Seja pela aparência ou pelo estilo musical, as comparações com Gal Costa acompanharam a cantora paulista desde o início de sua trajetória em Salvador. Andrezza admite que inicialmente não era influenciada pelo trabalho da musa da baiana. “Na minha formação, enquanto musicista, eu não bebi muito de Gal, ouvia só as mais famosas dela. Quando eu cheguei aqui, entendi o tamanho da Gal Costa e comecei a pesquisar a fundo o trabalho dela. Eu fiquei ‘poxa, tem muito a ver mesmo’”, acrescentou.
Apesar das semelhanças, Andrezza enfatiza que não é uma cantora cover. Dentro de “Gal para Dançar”, a artista apresenta algumas músicas autorais como forma de fazer o público conhecer mais de seu trabalho. “Eu quis trazer o que Gal Costa deixou de legado para mim enquanto artista dessa nova cena, então é uma mistura muito doida e gostosa”, acrescentou.
Uma história que inspira qualquer um
“Eu sou da Bahia”, é assim que Andrezza se descreve para todo mundo. Mesmo tendo nascido em São Paulo, seus pais são de Uauá, uma pequena cidade do interior da Bahia. Ela se mudou para a Bahia ainda na adolescência, tendo morado em Juazeiro.
A cantora veio para Salvador há dois anos buscando novas oportunidades para sua carreira artística. “Aqui em Salvador tem muita gente do interior que também veio com essa intenção de lutar pelos objetivos, buscar oportunidades. É desafiador para caramba, mas aos pouquinhos encontramos nosso caminho”, afirmou.
Formada em Canto Popular e Violão pela Escola de Música do Estado de São Paulo, a artista trabalhava como professora de música em Juazeiro. Mesmo tendo uma vida estável, ela decidiu largar tudo para correr atrás de seu grande sonho. “Eu larguei meu CLT, peguei meus tempos de serviço e falei ‘vou para Salvador e me aventurar por lá’”, relembrou.
Com seu jeito único, a “paulista com alma de baiana” se destaca em meio ao cenário da música independente em Salvador. A cantora também levanta a bandeira de que os baianos precisam consumir mais o trabalho de artistas pequenos. “Acho que é muito fácil a gente admirar o que vem de fora, o que está sendo feito fora. É tudo muito fora, valorizem o que está aqui dentro. As pessoas tem esse problema de valorizar só quando dá certo, quando fica famoso”, pontuou.
A vivência em diversos lugares acabou influenciando a música da artista. Suas raízes são um dos motivos para a diversidade musical produzida por Andrezza. “A minha essência é desse jeito. Isso reverbera do fato de eu ser essa pessoa nômade. Eu vi e vejo muitas paisagens, gente de tudo quanto é jeito, sotaque de todas as formas. Tudo isso reverbera em meu som”, explicou.
Andrezza defende que, além de apenas produzir música, sua missão como artista é lembrar as pessoas que elas precisam se permitir sentir as coisas. Para ela, a geração atual está muito “anestesiada”. “É sobre estimular as pessoas a lembrarem que sentir é o que faz a gente estar aqui agora. Por mais que a gente tente fugir de nossos sentimentos, de nossas frustrações, a gente precisa sentir [tudo isso]”, acrescentou.
Mesmo com os obstáculos enfrentados por alguém que está iniciando a carreira, Andrezza não demonstra arrependimento nenhum por ter começado essa aventura na capital baiana. “Acho que foi minha melhor decisão, não me arrependo de nada. Apesar dos desafios, da jornada, é isso que eu tenho que fazer. Para mim, a música é uma missão, é poder mostrar que é possível sonhar, que meninas como eu, que vieram do interior, podem acreditar nelas mesmos”, finalizou.
Serviço
O que é: Gal para Dançar com Andrezza Santos
Quando: hoje, às 20h
Onde: Teatro Sesc-Senac Pelourinho
Ingressos: www.sympla.com.br