O jogo entre Brasil e Espanha, marcado para esta terça-feira, às 17h30 (da Bahia), no estádio Santiago Bernabeu, contará com um ingrediente especial: será a primeira vez que Vinicius Jr. entrará em campo no icônico estádio do Real Madrid como adversário.
Na Espanha, o brasileiro vem acumulando diversos fãs madridistas, mas também tem que lutar contra o incessante racismo cometido por torcedores espanhóis e tolerado pela La Liga. Acontecimentos lamentáveis vêm desgastando Vini cada vez mais.
"É cada vez mais triste. Cada vez eu tenho menos vontade de jogar. Acredito que seja muito triste tudo que eu venho passando a cada jogo, a cada dia, a cada denúncia vai aumentando. É muito triste, não só eu, mas todos os negros que sofrem no dia a dia. O racismo verbal é minoria perto de tudo que os negros passam no mundo", comentou o craque brasileiro, bastante emocionado em entrevista coletiva, nesta segunda-feira (24), no CT do Real.
❤️🩹🇧🇷 Vinicius got emotional during the Brazil's press conference after three questions about racism.
— Fabrizio Romano (@FabrizioRomano) March 25, 2024
“I’m sorry. I just want to play football, do everything for my club and my family, never see black people suffering.pic.twitter.com/TVSj20vsCN
O atleta vem cada vez mais se tornando uma bandeira antirracista e mostrando para pessoas que muitas vezes foram inferiorizadas por sua cor, que podem chegar no topo e calar todas as pessoas que colaboram com esses tipos de atitudes criminosas. Vini revelou que essas pessoas são o motivo por ele não ter desistido mesmo com tantos ataques deploráveis.
"Acredito que por todas as pessoas que torcem por mim, me acompanham e me mandam cada vez mais mensagens. Vou seguir lutando por eles, hoje tenho uma força grande dentro de mim, da minha casa, da minha família, eles me apoiam em tudo o que vou fazer. Nem todos têm esse apoio, podem vir aqui falar por tantas pessoas. Eu quero seguir por eles, por todas as pessoas que sabem o que passo e passei e que sabem que é muito difícil".
O craque do Real Madrid e da Seleção também foi questionado sobre o que mais causa indignação nele nessa situação toda.
"A falta das punições. Se a gente começar a punir todas essas pessoas que cometem crime e aqui eles não consideram crime, vamos começar a evoluir, tudo vai ficar melhor para todo mundo. Faço tantas denúncias, muitas vezes chegam cartas para fazerem mais denúncias, mas no final acontece como aconteceu com meu amigo em Barcelona, eles arquivam o processo e ninguém sabe de nada. Se a gente começar a punir essas pessoas, não que eles vão mudar o pensamento, mas vão ficar com medo de falar, seja no estádio, onde tem câmeras... e assim vamos diminuir isso, colocar medo naquelas pessoas. E que eles possam também educar seus filhos. Muitas vezes aqui tem criança me xingando e eu não culpo a criança, porque eles não entendem, eu na idade deles não entendia o racismo. É complicado".
Muita gente inclusive cogitou a saída de Vinicius Jr da Espanha para algum lugar onde esses tipos de crime sejam levados mais a sério, porém, para o jogador, sair do Real Madrid seria dar mais força e palco para os racistas.
"Não tenho pensado tanto em sair daqui. Se saio daqui, dou aos racistas o que eles querem. Vou seguir aqui lutando, jogando no melhor clube do mundo, ganhando títulos, marcando gols, as pessoas vão ter que ver cada vez mais meu rosto. Sigo evoluindo para fazer essas coisas, jogar futebol, dar alegria à minha gente e a todo mundo que vai ao estádio. Os racistas são minoria. Como sou um jogador atrevido, que joga no Real Madrid, ganhamos muitos títulos, é muito complicado, mas vou seguir firme e forte porque o presidente e o clube me apoiam".
Vini Jr ainda concluiu agradecendo ao apoio da CBF, na presença do presidente Ednaldo Rodrigues, e fez questão de dar uma mensagem de apoio a todos os negros, demonstrando uma rede de apoio e solidariedade, importantíssima nesse mundo de tantas intolerâncias.
"Que possamos estar todos juntos defendendo um por um, as coisas podem melhorar, nós que somos negros sabemos que tudo temos que fazer dobrado. Se estamos juntos, é melhor para mim, para você, para sua família. Há muitos que nos defendem, mas não têm a força que temos, de passar por isso todos os dias. Só quem é negro sabe o que passamos. Temos que seguir juntos".