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Futebol e vida - 02/09/2025, 07:30 - Lais Machado

Veja como o futebol impacta na saúde mental dos torcedores fanáticos

O amor exagerado ao esporte pode levar a impactos mais graves, como a violência

Especialista explica nuances entre ser torcedor e ser fanático
Especialista explica nuances entre ser torcedor e ser fanático |  Foto: Victor Ferreira/EC Vitória e Felipe Oliveira/ EC Bahia

Os torcedores baianos enfrentaram momentos semelhantes na última semana, apesar da diferença gritante das equipes na temporada. Enquanto os tricolores levaram 5 a 1 do Mirassol, mas celebram o 4º lugar na tabela do Brasileirão e ainda seguem na disputa pela Copa do Brasil, os rubro-negros lidaram com uma amarga sequência de empates e derrotas (que foi interrompida pelo triunfo sobre o Atlético-MG), além do vexame da 21ª rodada do Campeonato Brasileiro, quando o Vitória levou uma goleada histórica 8 a 0 para o Flamengo.

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A surra da última semana para o Urubu, rendeu provocações e memes, mas também trouxe vergonha e revolta para a torcida rubro-negra. Nas redes sociais, não faltaram manifestações de torcedores indignados com a situação que o clube atravessa.

Além da zoeira, muitos relataram o quanto os resultados têm mexido com o humor e até com a saúde mental no dia a dia, mostrando como a paixão pelo futebol pode ir muito além das quatro linhas.

Imagem ilustrativa da imagem Veja como o futebol impacta na saúde mental dos torcedores fanáticos
Foto: Reprodução/ X

"A grande questão é quando isso se torna a rotina da pessoa. Existem profissionais que, claro, vão viver do futebol financeiramente, mas há pessoas que não necessariamente estão nessa posição e, ainda assim, vivem esse futebol durante toda a sua rotina. Isso, consequentemente, traz impactos e consequências — muitas vezes negativas”, é o que explica Jorge Correia, Pós-graduado em Psicologia do Esporte e especialista em Psicologia do Futebol.

Segundo o profissional, é necessário que o torcedor busque um ponto de equilíbrio: "O futebol é um evento esportivo no qual eu vou, torço, me divirto, fico triste, fico alegre, mas a vida segue a partir dali. Então, é um limite muito difícil de colocar, mas que precisa encontrar um ponto de equilíbrio, que vai ser diferente para cada pessoa. É preciso entender que o evento esportivo, as partidas de futebol, precisam estar restritos ao evento em si, e não se transformar em uma dependência em toda a rotina de vida", ressaltou.

Jorge Correia Santana Almeida, Pós-graduado em Psicologia do Esporte e especialista em Psicologia do Futebol
Jorge Correia Santana Almeida, Pós-graduado em Psicologia do Esporte e especialista em Psicologia do Futebol | Foto: Reprodução

Ao Portal MASSA!, torcedores do Vitória compartilharam como os resultados do time têm afetado o emocional, avaliando de 1 a 10 o impacto dessa relação. Para o rubro-negro Matheus Caldas, de 31 anos, o peso de uma derrota é muito maior para o seu dia a dia: "De 0 a 10, 10 – se puder, 11, até mil. Impacta diretamente no humor, impacta na eficiência no trabalho no dia seguinte, no sono…", desabafou.

Matheus mostra também como a paixão pelo clube une diferentes histórias em um impacto coletivo. Questionado sobre o pior momento que viveu como rubro-negro, ele citou a queda para a Série C, em 2021.

"A primeira vez que vi o Vitória ser rebaixado foi com 11 anos, então o sentimento foi diferente. Eu ainda estava no início da vida como torcedor, entendendo como as coisas funcionavam. Em 2021, foi certamente o momento mais difícil, principalmente porque já havia um contexto de um clube que vinha definhando por problemas institucionais. Aquela Série C em específico foi muito dolorida". descreveu.

Para o psicólogo, esse envolvimento tem explicação no fenômeno da desindividualização, quando o torcedor deixa de agir como indivíduo e passa a se guiar pelo coletivo. Ele destaca que esse processo ajuda a entender porque pessoas diferentes, sem qualquer vínculo pessoal, ainda assim compartilham emoções tão semelhantes.

“Quando estamos em grupo, há uma anulação do indivíduo em prol do todo, que é a torcida. Esse sentimento de pertencimento pode gerar coisas incríveis, mas também muito negativas”, comentou o profissional.

Fanatismo e a violência no futebol

Quando não há limites, o fanatismo pode ultrapassar o campo psicológico e se transformar em violência. Segundo o levantamento do jornalista Rodrigo Vessoni, entre 1993 e 2023, 384 pessoas morreram em confrontos entre torcidas e forças de segurança. Desse total, 11 casos aconteceram dentro de estádios.

“Quando o ‘eu’ se anula em favor do grupo, surgem, por exemplo, as violências entre torcidas. O grupo anula a culpabilização individual. Então, quem fez aquilo? Ah, foi a torcida do Vitória, foi a torcida do Bahia... e deixa de ser o sujeito em si”.

O especialisa acrescenta: “É um espaço guiado muito mais pela emoção do que pela razão. Nesse contexto, parece que tudo é permitido: xingar, ser agressivo...”.

Confronto violento entre as torcidas do Sport e Santa Cruz, em 2024
Confronto violento entre as torcidas do Sport e Santa Cruz, em 2024 | Foto: Reprodução/ Redes Sociais

Jorge Correia também explica como o fanatismo extremo pode se manifestar no dia a dia do torcedor: “Quando a gente fala sobre o torcedor fanático, estamos falando de um comportamento extremo, perigoso. Para essas pessoas, o desempenho do time se torna um grande ponto de referência da vida, muitas vezes ligado à falta de realização e objetivos em outras áreas. Se o time viaja, eles estão no aeroporto; se joga, estão no estádio ou reunidos com a torcida assistindo; acompanham programas, notícias, vídeos de influencers falando sobre tudo: a rotina dos jogadores, do treinador, decisões da diretoria...”

Ele alerta que, sem equilíbrio, essa intensidade só aumenta: “Tudo isso amplifica o fanatismo e pode levar a impactos sérios na saúde mental. Gera um adoecimento muito por conta justamente de ser um cenário uma realidade na qual ele não tem muita capacidade de modificar", concluiu.

Matheus Caldas acompanhado do pai
Matheus Caldas acompanhado do pai | Foto: Reprodução/ Arquivo Pessoal

Impactos positivos

Apesar dos extremos, o futebol segue sendo uma importante ferramenta de lazer e cultura. Além do desgaste e da zoeira natural que a rivalidade do futebol traz, os torcedores também colhem impactos positivos através do esporte.

Do amor pelo time rubro-negro, nasceu projeto extremamente significativo para Matheus, que aprendeu a paixão de ser Vitória ainda na infância, com influência dos pais. O jornalista transformou essa relação em extensão da profissão, participando de podcasts como o Arena Rubro-Negra, além de ter produzido um documentário 'Nêgo: Um nome na História'.

“Minha relação com o Vitória começou em 2010, quando passei a frequentar o estádio com meu pai. Desde 2009, sou sócio do clube, somando 21 anos de vivências e 16 anos como sócio. Essas experiências no Barradão moldaram meus sentimentos e percepções sobre o clube. Desejava contribuir de alguma forma, com o objetivo de expressar meu sentimento de pertencimento sinto que, através do documentário, pude contribuir para a preservação e divulgação da história do clube. Em 2025, meu documentário, produzido em 2018, retornará à cena por conta do FuteFestBall, o primeiro festival de cinema dedicado ao futebol na Bahia. O documentário conquistou o terceiro lugar na categoria de média-metragem, o que me encheu de orgulho”, celebrou.

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