Uma das principais regras do voleibol diz que a partida sempre deve começar com um saque e que, após o apito do árbitro, o jogador tem até oito segundos para efetuá-lo. Na prática, a teoria nem sempre funciona como dita o regulamento, principalmente, quando o esporte é praticado por pessoas que vivem numa realidade crítica, onde ter um técnico é luxo demais para quem não tem nem o básico.
Esse, na verdade, é o cenário de centenas de jovens e adultos que fazem do esporte válvula de escape para se desconectar dos problemas do dia a dia. No bairro de Plataforma, localizado no Subúrbio Ferroviário de Salvador, o projeto conhecido como Vôlei do Conjunto é um dos inúmeros exemplos dessa realidade causada, na maioria das vezes, pela desigualdade social atrelada ao descaso de autoridades e da sociedade perante o esporte amador.
Mas, nesse caso, a forma como essa iniciativa tem impactado positivamente vidas, é bem mais importante do que qualquer estatística. O Vôlei do Conjunto foi iniciado há cinco anos, mas devido à procura baixa de participantes, acabou sendo extinto. Contudo, assim como no voleibol existe a posição de levantador para distribuir as jogadas e armar movimentos de ataque, na vida real também há este jogador.
Nesse caso, tal posição foi ocupada por Joice Santana, que inconformada com o fim do projeto, teve o saque de reanimar a galera.“Eu comecei a chamar as pessoas que faziam parte antigamente pra não deixar que o projeto morresse de vez. E aí conseguimos uma rede, uma bola. Agora, estamos firmes e todo mundo vai se ajudando um pouquinho”, explicou Joice que, além de jogadora, é a coordenadora do projeto, ao MASSA!.
Agora, a baixa demanda não é mais problema para manter o Vôlei do Conjunto de pé. Atualmente 50 pessoas com idade entre 17 e 45 anos batem ponto semanalmente na quadra localizada no Conjunto Senhor Do Bonfim, na Rua Agripino Nazareth, para treinar, se divertir, descarregar o estresse e trocar experiências.
“Isso aqui mudou a minha vida. Na pandemia eu fiquei muito angustiado e é aqui que eu descarrego todo estresse e me divirto”, pontuou um dos integrantes da iniciativa, Andrey Pereira, de 19 anos.
A procura tem sido tão grande que foi preciso dividir o grupo em dois - devido ao limite de pessoas permitido dentro da quadra - e aumentar a quantidade de dias das atividades que agora acontecem de terça-feira a sábado. “A ideia é dar oportunidade para que todos joguem. E para dar espaço também àqueles que estão iniciando agora. Acolhemos a todos. Não temos técnico, mas estamos sempre trocando nossos conhecimentos e assim seguimos”, vibrou Joice.
Toda ajuda é bem-vinda
Assim como a maior parte dos projetos sociais que sobrevivem sem ajuda, o Vôlei do Conjunto também se enquadra neste cenário. E esse é o principal desafio que a iniciativa enfrenta. Por ser independente, por vezes, os integrantes não conseguem repor os materiais por falta de dinheiro.
“A bola de vôlei é cara e nós usamos a profissional para que a gente se adapte e não estranhe em possíveis competições que queremos disputar. Além disso, às vezes a gente precisa trocar a rede e não temos grana. Então, passamos a pedir a contribuição de R$ 5 de cada participante para fazermos caixa”, lembrou a coordenadora.
O grupo também aceita contribuição de outras pessoas que desejem ajudá-lo a seguir com o projeto. As doações podem ser feitas via PIX: (celular) 71 98501-3353 (Joice De Santana Conceição).Revelações e competições
O projeto já começou a dar bons frutos e as primeiras oportunidades de mostrar a potência do grupo começaram a surgir. Alguns dos integrantes do Vôlei do Projeto foram convidados para participar da 1ª Copa Independente Metropolitana de Vôlei, que será realizada na cidade de São Sebastião do Passé, nos dias 1º e 2 de abril.
Dentre eles, está Danilo Pereira, que vai representar o time Suburvolei (do Subúrbio de Salvador). “Está tudo sendo feito apenas com o patrocínio da ANUNIS, que é uma agência de atletas iniciantes. Eu sempre levo a galera para disputar em algumas cidades do interior, e isso para mim é muito satisfatório porque o esporte transforma as pessoas”, pontuou.
A competição contará com times das cidades de São Sebastião do Passé, Dias D' avila, Simões Filho, Camaçari, Candeias, Alagoinhas, Salgadalia, Lauro de Freitas, Mata de São João e Salvador.