A capoeira é conhecida como uma expressão cultural que envolve esporte, arte marcial, música e dança. E, diferente do que muitos pensam, ela não se enquadra apenas àqueles que não possuem limitações físicas. Como prova disso, surge o projeto Capoeira do Intuitivo, desenvolvido pelo Mestre Tyko Kamaleão, que há 36 anos, possibilita a qualquer pessoa, mesmo com deficiência física, vivenciar a arte ancestral da capoeira.
Sediada na Casa da Música, no Parque Metropolitano do Abaeté, no bairro de Itapuã, em Salvador, a iniciativa permite que todas as pessoas, dentre elas, da terceira idade e com deficiência, vivam a experiência de conhecer os benefícios físico e mental proporcionados por esse movimento cultural.
“Inicialmente as aulas aconteciam no quintal da minha casa, como uma forma de levar opção cultural e de lazer para crianças e adolescentes que ficavam muito tempo nas ruas. Depois parei um tempo porque eu achei que as pessoas não estavam interessadas, mas aí recebi um convite para falar sobre capoeira na Escola Vinicius de Moraes, em Itapuã, onde fiz uma aula e eles ficaram encantados. De lá para cá não paramos mais e há sete anos estou aqui na casa da música”, detalhou o mestre Tyko, idealizador da Capoeira Intuitiva, ao MASSA!.
Justamente por ser uma expressão cultural ampla e com uma diversidade de elementos, que a capoeira pode, sim, ser acessível para todos. E o projeto funciona basicamente assim: se alguma pessoa não consegue desenvolver um golpe, ela pode se expressar com qualquer outro movimento, o mais importante é sentir a energia e a ancestralidade presente nessa expressão cultural brasileira.
“A nossa atuação com esse público é por meio do grupo Criando Asas, que trabalha com crianças especiais. Aí eu vou lá, dou aula, faço oficina, gingas e incluo eles no processo. Para essas atividades, nós adaptamos a capoeira às condições dessas pessoas. Se ela usa cadeira de rodas, mas consegue estar no chão, vamos colocá-la no chão e gingarmos juntos. Nisso, aproveitamos o que ela pode fazer com o objetivo de incluí-la. Alguns deles se sacodem, outros sorriem, outros fazem movimentos completos. É lindo demais”, explicou Tyko.
Empatia e olhar sensível ao próximo na iniciativa
A atuação do projeto Capoeira Intuitiva nasce, sobretudo, pelo olhar sensível do mestre Tyko de possibilitar para essas pessoas - que na maioria das vezes são excluídas de inúmeras atividades sociais do cotidiano - o contato com uma expressão cultural que permite a elas sensações únicas. “O próprio cotidiano despertou em mim a ideia de dar aulas para essas pessoas. A gente vai vivendo e percebendo que as pessoas são capazes, e o quanto a capoeira é força. Ela não é só a luta, ela serve para essas questões de inclusão, do social”, contou o mestre ao MASSA!.
Arte vai muito além dos movimentos corporais para os seus praticantes
Fabio Shiva é um dos alunos da iniciativa e, desde o seu primeiro contato com as aulas, em 2016, se encantou com a essência das aulas. Sete anos se passaram e, de acordo com ele, por meio do projeto, aprendeu a enxergar outras vertentes da capoeira. “Lembro que na minha primeira aula, ele repetia sempre que o mundo hoje já é violento demais, e que não precisamos de uma capoeira bélica, que forme guerreiros, mas sim de uma capoeira feminina, que nos ajude a nos libertar de nossas escravidões psíquicas. Essa é a proposta da Capoeira do Intuitivo, que percebo como uma luminosa e revolucionária ferramenta de autoconhecimento, como uma maneira de encarar de frente nossos medos e limitações, de superar desafios e expandir potenciais”, destacou Fabio.