O pente fino passado Ministério Público sobre os esquemas de apostas no futebol brasileiro pegou uma penca de ex-atletas de Bahia e Vitória. A operação "Penalidade Máxima" apresentou uma nova denúncia à Justiça após investigar o crime em jogos das Séries A e B do Brasileiro de 2022, além de confrontos nos campeonatos Estaduais deste ano. Entre os citados estão:
Victor Ramos
O zagueiro Victor Ramos foi um dos primeiros jogadores a serem citado pelo Ministério Público. Ele teve três passagens pelo Vitória, onde foi carinhosamente apelidado de Tufão e há quem defenda o status de ídolo dele. Atualmente está na Chapecoense, mas disputou o Paulistão desse ano pelo Portuguesa.
Nos autos do MP consta um “promessa de pagamento de R$ 100 mil para que Victor Ramos Ferreira, jogador da Portuguesa, cometesse uma penalidade máxima" na partida contra o Guarani, em fevereiro.
O esquema não deu certo porque, diz o MP, "três dos denunciados aparentemente não encontraram outros jogadores para manipulação de resultado na mesma rodada". Além disso, o trio que procurou o jogador com a proposta "deixou ainda de efetuar pagamento antecipado ao atleta e posteriormente não fez a aposta na partida".
Nino Paraíba
O lateral-direito Nino Paraíba é um velho conhecido dos torcedores de Bahia e Vitória. O ligeirinho atuou nos dois lados da força do futebol baiano e mandou bem. Mal mesmo foi atualmente, defendendo as cores do América, ter sido citado ao MP por integrantes investigados de uma quadrilha de apostadores na época em que defendia o Ceará.
Além disso, o MP teve acesso a prints de conversas dele num aplicativo de mensagens sendo sondado para levar um cartão amarelo. A advertência seria durante o jogo do Ceará contra o Cuiabá, que terminou empatado em 1x1. Questionando se já havia falhado nesse tipo de acordo Nino largou o doce: "Qual foi a vez que eu fiz e não tomei?", escreveu. De fato, ele recebeu a punição aos nove minutos do segundo tempo.
Em outra mensagem Nino cobrou o pagamento de um acordo feito anteriormente, após o apostador enviar uma oferta. E o MP tem a imagem que mostra um comprovante de transferência no valor de R$ 10 mil.
Paulo Miranda
Contemporâneo de Nino no Bahia, o zagueiro Paulo Miranda atualmente defende o Juventude. A casa caiu para ele por causa de um vídeo gravado no vestiário do clube de Caxias do Sul-RS, que terminou 2022 rebaixado para a Série B.
Na denúncia apresentada pelo Ministério Público e aceita ontem (9) pela Justiça de Goiás há fotos de Paulo Miranda e um companheiro de equipe, Gabriel Tota, conversando com Bruno Lopez, apontado pelos investigadores como o chefe da quadrilha que cooptava jogadores para manipular jogos de futebol.
A chamada ocorreu na tarde de 16 de outubro de 2022, pouco antes da partida entre Juventude e Atlético-GO no estádio Alfredo Jaconi, em Caxias. Naquele momento, a quadrilha havia conseguido manipular um jogo do Juventude na Série A, contra o Palmeiras pela 26ª rodada do Brasileirão: derrota por 2 a 1.
Ainda haveria outros dois. contra o Fortaleza (empate por 1 a 1, na rodada 27) Paulo Miranda deveria tomar um cartão amarelo, com de fato aconteceu. A promessa de pagamento foi de R$ 60 mil, com R$ 5 mil depositados antes do jogo para que Gabriel Tota fizesse a transferência ao zagueiro.
Já contra o Goiás (derrota por 1 a 0, na 36 rodada), foi combinado de se pagar R$ 50 mil, sendo R$ 10 mil antes do jogo, para que Paulo Miranda levasse amarelo. No mesmo jogo, houve ainda mais uma proposta de R$ 50 mil, sendo R$ 20 mil antecipado, para que o lateral-esquerdo Moraes também recebesse a chapinha amarela.
Fernando Neto
O volante Fernando Neto teve passagem recente pelo Vitória. O vínculo terminou no primeiro semestre do ano passado, quando ele seguiu para o Operário Ferroviário-RS. De lá, foi parar no São Bernardo, clube que defende atualmente. Não sem antes deixar um rastro de falhas, apontadas pelo MP nos autos da denúncia enviada à Justiça de Goiás.
Diz a peça que o cabeça-de-área teve promessa de pagamento de R$ 500 mil reais, dos quais R$ 40 mil foram entregues de forma antecipada, para ele fosse punido com cartão vermelho no jogo contra o Sport, pela Série B de 2022. Não deu certo. O árbitro Caio Max Augusto Vieira se ligou na maracutaia e deu apenas um amarelo ao jogador, mantendo-o em campo até o fim da partida.
O MP teve acesso à conversa na qual o jogador se explica ao outro investigado. Nela Fernando diz que fez "de tudo para tomar o cartão vemelho". E detonou o árbitro: "eu tentei de todo jeito e aquele fdp não me expulsou, não tem lógica o que ele fez, pra você ter uma ideia, todo mundo dentro do campo ficou revoltado".
Indenização e suspensão
Embora o campo das apostas pareça um mercado informal, a manipulação de jogos e resultados está longe de ser "uma brincadeira". O que torna esse capítulo da história do futebol brasileiro como um dos mais nefastos já vistos.
Ainda mais por que a legislação brasileira prevê além das consequências criminais, desportivas e trabalhistas (como a demissão por justa causa), punições pelas regras gerais de responsabilidade civil, que dizem que aquele que causa prejuízo a outro, em decorrência de um ato ilícito é obrigado a indenizar.