Imprevisível: uma das definições mais precisas da natação em águas abertas. Ao contrário da piscina, ambiente controlado e fechado onde os favoritos costumam vencer, os nadadores de rios e mares estão sujeitos a enfrentar marés desfavoráveis ou fazer parte de um pelotão congestionado demais. Também foi imprevisível quando Lízian Simões, baiana de 17 anos, tornou-se campeã mundial de sua categoria depois de entrar na competição como apenas um teste.
Na Copa do Mundo de Natação em Águas Abertas, as categorias júnior e profissional nadam juntas. Sendo assim, a Seleção Brasileira dá prioridade a arcar com os custos da dupla mais experiente: Ana Marcela Cunha, heptacampeã mundial, e Viviane Jungblut. No entanto, em casos especiais, abre oportunidades para atletas mais novas se ambientarem: foi o que fez com Lízian.
Depois de ficar fora das duas primeiras etapas, ela venceu a terceira na cidade de Setúbal, em Portugal, e ficou em 4º lugar na quarta, em Hong Kong, China. A Seleção arcou com os custos dessas viagens, mas não garantiu a ida de Lízian à quinta e última etapa, em Neom, na Arábia Saudita. “Apareceu de última hora. Já sabíamos que teria, mas não sabíamos o local e a data. Era um teste eu ir nessa etapa da Copa do Mundo, só que acontece que deu certo pro Brasil. Então não estava na cabeça deles que eu ia dar esse resultado todo. Liguei para minha mãe falando ‘eu preciso ir para a Arábia porque lá que eu vou me consagrar’”, contou Lízian em entrevista ao MASSA! sobre o momento que percebeu que tinha chances de ser campeã mundial da modalidade.
O investimento valeu a pena: no último dia 22 de novembro, a nadadora fechou a prova em 2º lugar, um décimo de segundo atrás da vencedora, e garantiu a liderança no ranking júnior da temporada 2024.
Depois da conquista, sobre as Olimpíadas, Lízian mantém os pés no chão. “Em 2028 quero participar da seletiva, e lá vamos ver no que dá. Uma vaga já é de Ana Marcela, e Viviane tá bem encaminhada. Eu sou nova, querendo ou não, já tem duas pessoas na frente, mas é isso maratona. O mar é revolto, é imprevisível, tudo pode acontecer”, reforçou.
Inspiração e amizade com Ana Marcela
Não é preciso ser um grande entusiasta do esporte para saber que Ana Marcela Cunha, campeã olímpica em 2021, é um dos maiores nomes da natação mundial. A baiana de 32 anos conquistou recentemente o heptacampeonato mundial e aumentou ainda mais sua galeria de honrarias.
E foi quando Ana Marcela deixou de ser apenas inspiração para se tornar colega de Lízian, a atleta júnior percebeu que suas metas estavam mais próximas do que pareciam. “Ana Marcela nessas competições conversa com todo mundo. Ela é super aberta, por isso que ela tipo sempre foi minha referência e agora é ainda mais, porque ela é a humildade em pessoa. Parece uma criança assim. Tem a maturidade de um adulto, mas parece uma criança”, detalhou a jovem atleta em entrevista ao MASSA!.
“O tipo de treinamento é parecido, todo mundo faz a mesma coisa e segue o mesmo caminho, que é se concentrar na alimentação e ter um bom sono. O contato mostrou que ela não é um robô. Dá para chegar lá”, completou.
Abdicações e apoio total da família
A vida de atleta é acompanhada de muitas abdicações. Prova disso é que, recém-formada no terceiro ano do ensino médio do Colégio Cândido Portinari, Lízian deixou de ir à cerimônia de formatura, já paga pela família, para conquistar seu título mundial. Durante o ano de 2024, para se adaptar à rotina escolar, foram dois treinamentos diários: um às 5h da manhã e outro às 15h30, além de remarcações de provas e quando precisava viajar para competir.
“Tive que dar um tempo para poder ajudar essa menina a seguir em frente. Não dava para conciliar colégio, natação e tudo mais. não dava para conciliar. Não temos condições de ter um motorista, de pagar táxi. É melhor dar um tempo da minha vida para focar e ajudar essa menina, até porque ela precisa terminar o terceiro ano. Daqui a pouco faz 18 anos e já tá dirigindo!”, brincou a mãe Vânia Simões.
*Sob a supervisão do editor Léo Santana