No Brasil, por mais que a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) proíba a diferença salarial entre gêneros se a atividade exercida for a mesma, mulheres recebem em média 22% a menos que os homens, segundo dados de 2023 do Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE). Tomando como exemplo o futebol, a ‘Rainha’ Marta, que já foi eleita seis vezes a melhor jogadora do mundo, recebe anualmente cerca de 400 mil dólares, enquanto Neymar embolsa em torno dos 50 milhões de dólares.
Apesar de toda essa discriminação, especialmente dentro do esporte bretão, a pequena Larissa Lopes Leite, mais conhecida como ‘Lari Paredão’, de apenas 9 anos de idade, sabe muito bem como driblar, ou melhor, espalmar as críticas de quem pensa que futebol não é para mulheres. “Estou acostumada com as coisas que falam de mim. No início até ficavam falando por ser menina, mas quando passaram a me conhecer melhor, mais ninguém ficou me julgando. Passaram só a me elogiar mesmo”, revelou agoleira ao MASSA!.
Lari Paredão começou sua jornada no futebol aos 6 anos e meio, por curiosidade, já que via vários colegas jogando, e também para acompanhar o irmão mais velho. Inicialmente, na sua primeira escolinha, a Companhia da Bola, jogava na linha, mas se destacava pouco e então decidiu migrar para o gol, em decisão conjunta com o professor Adolfo. Defendendo a meta, a garotinha chamou atenção e, por isso, acabou indo para a Academia Julian Valoni. Em seguida, por indicação do goleiro Marcones, ex-Bahia, também entrou no colégio Integral para fazer parte do time de futsal.
“Como os treinos são pela tarde, não atrapalha em nada na escola. Também não é cansativo, pelo menos não para mim. Tenho muita energia acumulada. É cansativo só para minha mãe, porque tem que me levar e trazer”, destacou Lari sobre os treinos na escolinha (campo society) e no time da escola (quadra), já que disputa quatro categorias: masculino sub-9 e 10 e feminino sub-12 e 14.
Tricolor de coração, Lari tem como ídolo o goleiro Marcos Felipe. “Via os goleiros profissionais europeus treinando e fazendo defesas difíceis, aí eu gostei e decidi testar para tentar ser goleira profissional. Meu sonho é jogar na Europa e no Bahia, ser da Seleção para representar meu país e ser famosa”, projetou.
Apoio total da família
O apoio dos pais, Julie Lopes Leite e Luiz Carlos Leite, ambos de 41 anos, é fundamental para que Lari Paredão não abaixe a cabeça para as discriminações que sofre. “Muitas vezes ela se chateia com alguns comentários referentes ao fato dela ser a menor da equipe, quando joga por outras categorias dos mais velhos, e por ser menina, quando joga pelo masculino. Muitas pessoas que nunca a viram jogar, rotulam que o jogo tá ganho por ela ser menina e uma das mais novas. Depois, se surpreendem quando o jogo começa e ela atua de igual pra igual e vem parabenizá-la e pedir foto com ela”, revelaram.
“Uma frase que dizemos sempre é: ‘o jogo se define em campo’, para ela não se intimidar. Dizemos que todo mundo é igual e só depende dela mostrar o que sabe fazer. Ela é muito determinada e destemida com personalidade forte. E não se intimida com quem está no time adversário”, complementaram os papais ao dizerem como aconselham a garota a lidar com as críticas.
Inspiração dentro de casa
Quem também é muito importante para Lari Paredão é o seu irmão mais velho, Henrique Lopes Leite, de 11 anos. Foi principalmente por causa dele que a goleira começou a se interessar pelo esporte. “Quem me ajudou a buscar o futebol foi o meu irmão. Ele já jogava bola muito bem quando eu era mais pequena”, explicou a jovem.
Sempre jogando com a irmã mais nova, Henrique é praticamente um preparador de goleiros para Lari e fica muito feliz em ver como ela está cada vez melhor debaixo das traves. “Sinto muito orgulho dela, por estar evoluindo cada vez mais a cada dia e por estar tentando ser uma goleira profissional. Não é nada fácil fazer gol nela, eu tenho que meter bomba mesmo”, salientou.
*Sob a supervisão do editor Léo Santana