
Historicamente, as mulheres têm lutado constantemente por igualdade e pelo direito de frequentar todos os espaços da sociedade, assim como os homens. Essa luta é especialmente mais intensa para aquelas que vivem em bairros periféricos e pertencem às camadas sociais mais baixas. E, neste contexto, é que surge o projeto social “Girls Evolution”, que tem como objetivo combater essa desigualdade e permitir que meninas tenham acesso ao ambiente esportivo, em particular ao basquete.
A iniciativa é realizada no Colégio Estadual Professor Edson Carneiro e oferece aulas gratuitas da modalidade esportiva para garotas entre 11 e 18 anos da comunidade de São Caetano. “A escola sempre promoveu o esporte para os meninos, mas houve uma demanda social por parte das meninas, que começaram a demonstrar interesse nos esportes. Então, reunimos um grupo de alunas para entender seus desejos, com o objetivo de desenvolver uma cultura esportiva feminina aqui na comunidade. E elas mesmas decidiram que o esporte do projeto seria o basquete”, detalha o professor responsável, Marielson Alves, ao MASSA!.
No início, o projeto contava com nove alunas e oferecia treinos pela manhã e à tarde. No entanto, devido ao crescimento, os treinos também passaram a acontecer na Escola Municipal Professor Antônio Carvalho Guedes, vizinha ao colégio, para possibilitar a participação de todas as meninas da comunidade. Atualmente, o “Girls Evolution” conta com mais de 35 garotas, mas ao longo dos sete anos de sua existência, já beneficiou mais de 200 meninas.
“Quando iniciamos o projeto, verifiquei os registros de ocorrências e chamei as alunas que mais apareciam ali. Pouco tempo depois, verifiquei novamente e percebi que houve uma diminuição significativa das ocorrências envolvendo essas alunas. Também noto que as meninas do projeto passam a desempenhar um papel de liderança nos grupos que frequentam”, explica orgulhoso Marielson, ao destacar que houve uma melhora no comportamento das meninas por conta da iniciativa. Envolvido com o projeto desde o início, ele é formado em Educação Física e possui especialização em basquete e também no judô.
“Eu também participei de um projeto social envolvendo esporte. Portanto, para mim, estar envolvido nesse projeto é retribuir à sociedade o que recebi há alguns anos. É uma forma de contribuir para transformar a vida dessas meninas por meio do esporte”, finaliza o professor.

Vencendo as adversidades
O projeto enfrenta diversas dificuldades para se manter ativo. A quadra improvisada no Colégio Edson Carneiro não possui as dimensões oficiais, além de não ser coberta, o que impede os treinos em dias chuvosos e acelera o desgaste do aro e da tabela.
Apesar dos inúmeros desafios, as garotas demonstram grande determinação e obtêm excelentes resultados nas competições em que participam. Elas são bicampeãs dos Jogos da Rede Pública, tetracampeãs dos Jogos Escolares da Bahia, campeãs baianas de basquete 3x3 e representam a Bahia nos Jogos da Juventude desde 2017. São também as atuais campeãs baianas na categoria de base.
“Elas têm uma importância muito grande, considerando que são meninas da periferia e o basquete é frequentemente visto como um esporte para pessoas com maior poder aquisitivo. No ano passado, elas viajaram para um campeonato no Ceará, e isso deixou a escola extremamente orgulhosa, pois mostra como elas estão sendo integradas ao ambiente esportivo e desenvolvendo uma nova perspectiva de mundo para trilhar o caminho da vida”, vibra o diretor do Colégio Professor Edson Carneiro, Paulo Silva.

Esporte que muda vidas
Julia Macedo, de 17 anos, é integrante do projeto há quase 6 anos. Atualmente, ela é a capitã da equipe e foi eleita como a melhor atleta de basquete de 2022 pelo prêmio Melhores do Esporte Baiano. “Assim que entrei, me apaixonei desde o primeiro dia. As alunas mais velhas, que já não estudam mais aqui, mas ainda participam do projeto, me receberam muito bem. Agora, não quero mais sair, amo basquete e quero fazer disso parte da minha vida”, descreve a jovem ao MASSA!.
Já Nauane Valentin, aluna iniciante de 14 anos que se destaca no grupo, também compartilha como o projeto transformou sua vida. “Eu queria jogar vôlei, mas, a pedido da minha mãe, entrei no projeto para praticar alguma atividade física, já que tenho problemas com sedentarismo. Depois de um tempo, percebi que minha vida melhorou significativamente. As meninas são como uma família para mim, e o professor é como um segundo pai. Hoje em dia, não consigo imaginar minha vida sem eles”, relata a jovem atleta.
*Sob a supervisão do editor Léo Santana