Nas ladeiras da Saramandaia, entre becos e histórias, ecoa o som de bolas sendo chutadas e crianças se divertindo: é o Sara Ide Futebol Clube, projeto social que transforma a vida dos jovens da comunidade com fé, amor e esporte. Criada em 2020, pelo pastor Uilton Santana, morador do bairro e pastor do Ministério Ide Levai o Salvador, a iniciativa tem como intuito introduzir a molecada ao esporte e tirar do caminho errado.
“O intuito é ocupar os jovens da comunidade, para não deixar que eles sejam atraídos por bebidas e drogas. Eu tenho um histórico desse. Muito cedo, dos 11 aos 22 anos de idade, vivi isso, já parei no sindicato de Saramandaia tomando bombinha. [...] Aprendi que o coração dos jovens é de quem chega primeiro. Se a educação chegar primeiro, o coração deles é da educação. Se a fé chegar primeiro, o coração deles é da fé. Se o esporte chegar, o coração deles é do esporte. Assim, eles não vão se perder nesse mundo aí escuro”, destacou Uilton em entrevista ao MASSA!.
Sem fins lucrativos, as aulas do projeto ocorrem todas às segundas e quintas-feiras, das 14h às 18h, na Arena do Bole Bole. Cada treino, cada finalização, é um chute para um futuro mais brilhante e inclusivo do Sara Ide Futebol Clube, que conta com quase 100 alunos, entre meninos, meninas e crianças especiais, dos 6 aos 16 anos de idade.
“Não tem custo nenhum, não. É um trabalho social que nós temos, onde nós nos dedicamos por amor, acreditando nos três pilares que eu sempre tenho falado: fé, educação e esporte têm o poder de transformar vidas”, comentou o fundador do projeto social.
Mas Uilton não está sozinho nesta caminhada. Desde o começo, ele conta com o apoio do treinador Jailton dos Santos, conhecido como Pastel. O ex-vendedor de salgados trocou a bandeja pela prancheta e o apito quando o filho entrou na escolinha do meia-atacante Robson, ex-jogador da dupla Ba-Vi, e passou a ajudar nos treinos.
“Pense numa pessoa difícil de lidar, era eu. Só que depois de passar tanto tempo com as crianças, com o amor delas, a gente vai se lapidando como pessoa. Não que eu seja perfeito, mas, hoje, sou uma pessoa totalmente diferente, e para melhor. É algo muito prazeroso. Às vezes nós estamos tristes, com algumas dificuldades, mas vem uma criança na rua, nos abraça, é incrível”, destacou Pastel.
Toda ajuda é bem-vinda
Apesar de todo o amor, fé e dedicação que Uilton e Pastel colocam no Sara Ide Futebol Clube, o projeto não deixa de enfrentar muitas dificuldades. Por não cobrarem nenhum tipo de taxa aos alunos, eles dependem de doações ou precisam tirar dinheiro do próprio bolso para manter a iniciativa de pé.
“Pastores de outros bairros, amigos de igreja, amigos fora da igreja, têm ajudado. Mas conseguir materiais, bola, colete, tem sido nossa maior dificuldade. [...] Só que está ficando cada vez mais pesado. Hoje, acolhemos 96 pessoas”, relatou Uilton.
Para ajudar a iniciativa, é possível fazer doações por meio da chave Pix CNPJ: 47.655.529/0001-21. Além disso, interessados em fazer uma parceria com o projeto podem entrar em contato com Uilton por meio do perfil no Instagram: @projeto.sara.ide.fc2020.
Administrador da Arena Bole Bole
O Sara Ide Futebol Clube nem sempre se desenvolveu na Arena do Bole Bole. Anteriormente, as aulas do projeto já ocorreram em uma quadra e um campo de terra da Saramandaia, mas hoje, a garotada pode aproveitar um gramado society “top de linha” graças a Adilio Araujo, responsável pelo espaço, que o cedo de coração aberto para Uilton e Pastel.
“Para mim, é uma honra estar ajudando um projeto como esse. Temos muitas crianças aqui no bairro da Saramandaia, mas, graças a Deus, temos esse espaço aqui que permite elas praticarem um esporte. Ceder esse espaço vai ser sempre uma honra”, destacou Adílio.
Momentos inesquecíveis
Além de afastá-los do álcool e das drogas, o Sara Ide Futebol Clube tem proporcionado momentos inesquecíveis aos jovens da Saramandaia. No ano passado, em parceria com o Bahia, os garotos foram convidados a conhecer a Cidade Tricolor e a Arena Fonte Nova. A experiência despertou sonhos em muitos deles, como Marley Costa. “Nunca tinha pisado num gramado de futebol, foi um sonho, algo inesquecível”, relembrou o lateral.
Mas o impacto do projeto vai além dos que sonham em se tornar atletas profissionais. Nicolas do Nascimento, aluno desde o primeiro dia, não era dos mais habilidosos, mas evoluiu bastante com os ensinamentos do treinador Pastel, a quem considera um segundo pai. “Eu nem sabia bater na bola, mas o professor Pastel me ajudou muito”, contou o pequeno volante ao MASSA!.
*Sob a supervisão do editor Léo Santana