No dia 14 de março de 2023, o presidente do Vitória, Fábio Mota, apresentava à imprensa Ítalo Rodrigues, 37 anos à época, como novo diretor de futebol do clube. Quando o executivo chegou à Toca, o time baiano já acumulava várias frustrações no ano, nas disputas do Baianão e da Copa do Nordeste, e o cenário não era dos melhores.
Com passagens por Náutico, Paysandu, CSA e também no Club Tacuary, do Paraguai, o dirigente chegou ao Rubro-Negro como substituto de Edgard Montemor, e tinha a missão de ajudar a reformular o elenco com o objetivo de brigar pelo acesso à Série A. A missão foi cumprida e, oito meses após a sua contratação, Ítalo colhe os bons frutos, resultado de muito trabalho, planejamento e do sucesso das peças contratadas.
Após a conquista dos objetivos (acesso e título da Série B), o diretor está cheio de moral para 2024 e, em entrevista exclusiva ao MASSA!, abriu o jogo e o coração sobre a emoção diante das metas alcançadas este ano pelo Vitória, detalhando também os planos do clube para próxima temporada.
Confira a entrevista completa:
Qual sentimento como diretor de futebol de conquistar um título nacional com o Vitória?
Ítalo Rodrigues - Eu não consigo descrever a sensação em si, mas é um misto de dever cumprido, realização profissional, de sonho. Minha ficha ainda não caiu porque a gente não parou de trabalhar. Então a sensação é indescritível, algo que eu nunca sonhei com 38 anos em viver isso em um clube tão grande como é o Vitória.
Qual a sensação de olhar para trás e perceber que as peças contratadas por meio do seu trabalho deram certo?
IR - É uma sensação muito boa e mérito de todos. A gente aqui é cercado por vários profissionais capacitados que conseguem extrair e ajudar nessa tomada de decisão. Desde a minha apresentação, a responsabilidade é totalmente minha, jamais vou me isentar disso, mas hoje, com o título da Série B é uma sensação muito gostosa. Incrivelmente de parar e pensar: caramba, deu muito mais certo do eu imaginava porque montar um time é saber que vai errar em algum momento.
Você chegou no clube num momento crítico. Como foi o processo para organizar o elenco?
IR - Eu acho que uma pessoa que aceita assumir esse cargo, antes de mais nada, ela precisa ter muita convicção, porque às vezes a gente não pode se abater com as críticas, assim como não pode se envaidecer com os elogios. Então, quando eu cheguei, cheguei muito criticado e em nenhum momento isso me incomodava. Eu só queria uma oportunidade pra eu fazer e entregar um bom trabalho que é o que o clube merece. Quando eu cheguei, o primeiro foco era o ambiente. O ambiente do Vitória estava muito desgastado, todo mundo muito abatido, desacreditado. E dentro desse contexto eu sabia que o perfil que a torcida esperava era de entrega. Primeiro de tudo eu precisava equilibrar. Pra esse time funcionar, Léo Gamalho funcionar, Osvaldo funcionar, que são jogadores um pouco mais velhos, precisava ter atletas jovens que se entregassem dentro de campo, que transpirassem, para que a técnica de outros sobressaísse.
Como você avalia todo apoio que o torcedor deu ao clube neste período?
IR - Foi fundamental, principalmente no início do campeonato, se eles não tivessem comprado a ideia naquele momento, que era um momento de muita dúvida e muito receio. Internamente a gente tinha muita convicção de tudo que estávamos fazendo, mas externamente eles se doaram, acreditaram, vieram por amor e não pelo resultado. Sem dúvida alguma, o torcedor venceu o jogo com a gente, principalmente aqueles que vencemos com gol no final, como CRB e Chapecoense.
Qual o planejamento para 2024? Manter a base do time?
IR - A gente acredita que manter uma base é muito importante por vários aspectos, dentre eles o estilo, a gestão, os profissionais que a gente tem. Então a ideia é manter, sim a base para que aí a gente comece a somar com as novas chegadas e ter um time bem competitivo.
Pensa em trazer quantos reforços para 2024? Quais posições? Já existe alguém em negociação?
IR - A gente tem um planejamento bem antecipado. Até agosto e início de setembro a gente já estava com um planejamento naquele momento com dois cenários: podia ser Série B ou Série A. Graças a Deus a Série A se confirmou. Eu nunca aponto quantidade, porque quando você aponta um número acaba ficando refém. Acredito que a gente precisa de um elenco pro início do ano com 32 a 35 atletas.
Dos jogadores com contrato até fim de 2023, quais pretende renovar? Já está em negociação?
IR - Eu não cito nomes. Como falei, quando você cita um nome, acaba se tornando refém. Uma renovação ou contratação depende de vários aspectos.
De onde vai tirar dinheiro para investir no clube em 2024 e trazer jogadores de Série A?
IR - O clube vem se organizando não só no futebol. Eu acho que se no futebol conseguiu conquistar o primeiro título nacional é porque os outros departamentos também têm feito seu papel e funcionado tão bem que têm atraído recursos e sendo bem administrados.
O Vitória pretende investir mais na divisão de base em 2024? Revelar mais atletas para o time profissional?
IR - Esse ano a gente já negociou alguns atletas que não colocaram nem o pé no profissional, então, isso aí mostra que o trabalho vem sendo bem feito na base. Para o ano que vem, a gente tem que fazer com que esses atletas da base saiam um pouco do eixo da Bahia ou do Nordeste, e passem a competir num nível maior. A partir daí sim, ter esses atletas mais preparados para serem utilizados no profissional.
Você acha que vai ter Ba-Vi na Série A de 2024?
IR - Como profissional, eu espero que sim. Porque eu acho que no final das contas todo mundo só tem a ganhar: de torcida, de rivalidade, de inspiração, de sempre querer fazer o melhor. Mas como torcedor do Vitória, a gente sabe que não é o desejo da nossa torcida, porque a torcida gosta da provocação, da brincadeira. Isso não preocupa. Não perco um minuto de tempo pra ver, nem pra torcer contra, nem pra assistir nenhum jogo no nosso rival, a não ser que tenha interesse em algum atleta que está jogando contra ele.
Acredita que com o retorno do clube à elite, jogadores passarão a demonstrar ou aceitar interesse em jogar no Vitória?
IR - Eu acho que quanto à questão financeira, sim. O que a gente tem que construir e aí depende muito do perfil dos atletas é que a gente vá fazer uma Série A consistente. Talvez, a dúvida do mercado seja muito mais quanto a isso. E a gente como negociador precisa estar muito bem organizado.
Qual mensagem deixa para o torcedor do Vitória visando 2024?
IR - Acho que tem sido uma marca esse casamento de torcida, clube, funcionários, todo mundo junto. Acho que ano que vem é importante a torcida ter consciência que será um ano muito duro, mas que ele continue fazendo esse papel de apoio porque é a fase boa passa, a fase ruim passa, aí vem a fase boa de novo.