
O ultramaratonista aquático Heron Capinan fez história na última semana, ao completar o Desafio dos Quatro Faróis, travessia a nado pela costa baiana, começando pelo Farol da Praia do Forte, passando pelos de Itapuã e da Barra, e por fim, chegando no Humaitá. Sem os holofotes da grande mídia, o ‘aqua man’ baiano completou o percurso inédito de 96,5 km em impressionantes 28h40min36s.
Em setembro de 2024, Capinan já havia completado, em preparação para o feito, um desafio de 24 horas de resistência, percorrendo 67 km na piscina, e em novembro, disputou a prova dos Três Faróis (Itapuã, Barra e Humaitá), nadando 33 km, em um tempo recorde de 8h05min. Chegando para a prova, Heron estava 100% preparado, porém, as adversidades apareceram.
“Na minha cabeça eu já sonhava, eu me emocionava toda vez que eu tomava um banho porque eu só me via na chegada. Eu não me via não conseguindo ou tendo medo de não completar. Só que essa prova ela me desconstruiu. Foi algo que eu nunca imaginei que ia acontecer. Chegou em Itacimirim, foram duas horas e meia de corrente de retorno, eu não entendia o que era aquilo”, descreveu o focado atleta.
Além das dificuldades do clima, Capinan sofreu com um obstáculo mais natural: os animais. “Fiquei muito tempo sentindo caravelas, como se fosse um ferro de passar na orelha, no braço, na mão e na perna, uns crustáceos me mordendo. Na noite foi muito mais desafiador para mim, eu tenho muito medo de bichos marinhos”, revelou o soteropolitano.
Chegando mais perto de completar a prova, o que parecia ser um sonho cada vez mais real, foi virando pesadelo, quando Capinam lesionou o ombro e precisou nadar de Amaralina até o Cristo com um braço só. “Foi terrível, meu psicológico foi todo embora, chorei várias vezes ali. Por que na minha vez o mar tem que estar desse jeito? Todo o sonho, aquela energia que eu tinha, estava indo embora”, completou.
Mas foi justamente nas adversidades que Heron encontrou forças para sair vencedor. “Eu vou conseguir. Ombro saia, braço saia. Quanto mais eu nado, eu fico mais forte. Eu não sinto dor. Não tá doendo, mentalizei isso tudo”, relembrou com muita emoção o ultramaratonista baiano.
Quando chegou no Humaitá, não deu nem tempo de comemorar, em completa exaustão. “Quando completei a prova dos quatro faróis eu tirei um peso. Muita gente não dava valor, dizia: ‘É maluco, deixa para lá’. Mas não era isso, era meu sonho”, concluiu o salva-vidas.

Super-herói nas horas vagas
Aliado à vida de ‘super nadador’, Heron também tem o seu lado ‘super-herói’, que claro, também envolve o mar. Por trabalhar como salva-vidas, Capinan já criou esse senso de cuidado e percepção do mar, mesmo sem estar na hora de trabalho, ajudando outras pessoas. “Até no meu tempo livre não fico de costas para o mar, mesmo se não tiver trabalhando, se eu ver alguma coisa, vou fazer o resgate. Já tem esse gatilho de ajuda. Já fiz vários resgates assim”, destacou Heron, relembrando o dia que salvou uma grávida e um rapaz, quando foi almoçar com a família.

Tratamento para asma foi pontapé
Como um bom filme de aventura e esportes, a história de Heron Capinan com o mar começa com um obstáculo. O esporte entrou na vida do baiano em 1996, quando tinha 10 anos, como um tratamento para a asma, mas em pouquíssimo tempo se tornou uma relação inseparável. “Fui crescendo na natação, me destacando muito nas provas. Com 10 anos já era vice-campeão baiano em algumas provas e oitavo melhor do Nordeste”, detalhou o nadador.
Agora mais experiente e especialista em provas longas, Heron ainda convive com a asma, mas já sabe como lidera com ela. “Hoje em dia faço tratamento, tomo remédio de manhã e de noite. Só não tomei no dia da prova. Como estou acostumado, sei lidar melhor, na prova, depois de duas horas nadando, vou controlando a asma”, explicou.
*Sob a supervisão do editor Léo Santana
