
A galera desceu em peso neste domingo (21) para acompanhar a final da quinta edição da Champions Largo, considerada a maior competição de golzinho de Salvador. Nada de gramado ou quadra: ali, a bola rolou no asfalto inclinado da Rua Nelson Maleiro no coração do Curuzu.
A decisão colocou frente a frente o Progresso, time da casa, e o FG Red Bull, da Fazenda Grande. Em um 'baba' disputado do início ao fim, o RB levou a melhor e venceu por 2 a 1, com gol decisivo de Miau, artilheiro da competição e nome da final.

O torneio mantém a essência do futebol de rua. O formato é 3 contra 3, com dois tempos de 20 minutos. As inscrições são ilimitadas, e o campeonato reuniu 16 times, divididos em quatro grupos.
Depois da fase de grupos, vieram quartas, semis e a grande decisão. A premiação também chamou atenção: R$ 10 mil no total, sendo R$ 7 mil para o campeão e R$ 3 mil para o vice, a maior da história do campeonato.
Da brincadeira ao maior 'golzinho'
Fundador da Champions Largo, Leonardo Souza contou que tudo começou quase sem querer, como uma brincadeira de bairro, inspirada no sobrinho, hoje cadeirante após um acidente.
"Meu sobrinho é ex-jogador e sempre jogou bola em outros bairros, e eu pensei: por que não fazer algo aqui no nosso? Essa rua sempre teve espaço. Começou como um golzinho de brincadeira e hoje está num nível muito elevado", afirmou.
A comunidade abraçou de verdade
Leonardo Souza
Segundo Leonardo, o crescimento foi tanto que, neste ano, foi preciso até deixar times de fora. “Hoje são 16 times, e eu tive que cortar equipe porque não cabia mais. Isso aqui virou um evento grande, que precisa de organização, apoio da comunidade, comerciantes, vereadores. A gente vai juntando de um lado e de outro. O mais importante é ver o sorriso da galera", completou.

A transmissão ficou por conta da TV Cebola, com narração que já virou marca registrada nas várzeas de Salvador. Para o narrador, o diferencial do campeonato está no público. "Aqui é diferente. Quando fala que vai ter Champions Largo, falta vaga para time se inscrever. A favela abraça de verdade. É isso que faz essa festa bonita, esse espetáculo", destacou.

Presidente do Progresso, time do Curuzu que ficou com o vice-campeonato, Walter oliveira valorizou a campanha e destacou a importância do torneio para o bairro. "A gente luta, mas futebol é detalhe. Aqui é família. Esse campeonato é muito importante porque a gente não tem quadra perto. É na ladeira mesmo, é futebol raiz, é nossa casa", disse.

Impacto na comunidade: comércio e renda extra
O campeonato não movimenta só a bola. Movimenta também o bolso de quem vive do comércio local. No Bar do John John, o fluxo aumentou durante todos os jogos.
"Ajuda muito. Não só aqui, mas quem vende churrasco, cachorro-quente, bebida. É um dinheiro extra, entra mais gente, fortalece o bairro", contou Jonathan Barbosa, responsável pelo bar.
Na loja Bonequinha Som, o paredão já começa antes da bola rolar. "A galera chega cedo, liga o som, curte. O campeonato traz entretenimento e dá visibilidade pra todo mundo. Todo comércio ganha", afirmou Pablo Lopes, dono da loja.

Depois da decisão, ninguém vazou. A comemoração seguiu com o Trio Massinha, que levou três atrações para a ladeira: O Pique é Único, Pancadão e Grupo P.S.
De olho na 'base'
O legado da Champions Largo vai além do campeonato. A iniciativa inspirou a criação de uma escolinha de futebol para crianças da comunidade. O projeto é tocado por John John, ex-jogador com passagens por Bahia, Vitória, Fluminense de Feira e Galícia.

"A ideia é tirar as crianças da rua, mostrar o caminho certo, estudar, crescer. Hoje temos cerca de 40 crianças, de 4 a 13 anos", explicou.
O futebol inspira. O campeonato ajudou a gente a criar a escolinha, e hoje todo domingo tem treino. É mais que bola, é futuro
John John
A mensalidade é simbólica, R$ 25, usada para manter a escolinha, comprar bolas, redes e garantir até o café da manhã da criançada.
