O Brasil volta a campo neste sábado (17) contra Guiné. A bola rola às 16h30 no Estádio Cornellà-El Prat, em Barcelona. A partida é pouco convidativa para os torcedores. Reflexo do atual momento da Seleção Brasileira: em baixa. Tão empolgante quanto a 79ª posição do adversário no ranking da Fifa.
Ao que parece, perdura o luto pela eliminação precoce na Copa do Mundo do Catar, no ano passado. A tal renovação caminha a passos lentos e questionáveis. No banco de reservas está Ramon Menezes, técnico interino que acumula a função de comandante do Sub-20.
Na teoria, o velho conhecido do futebol baiano foi escolhido pela diretoria da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) só para o amistoso contra o Marrocos, em março desse ano. A vitória (2 a 1) também pouco empolgou. Na prática, não há previsão dele sair de cena. Irá para o terceiro jogo na função contra Senegal na próxima terça-feira (20), no Estádio José Alvalade, em Lisboa, capital portuguesa. Outro jogo sem qualquer apelo desportivo ou midiático.
Entre as críticas, há quem banque de que se trata de um evento 'indigesto' no qual descendentes de colonizados jogarão para os descendentes dos colonizadores. Portugal o primeiro país estrangeiro a pisar em solo brasileiro e senegalês. E é melhor nem adentrar nesse mérito no momento.
Substituto de Tite
O presidente da entidade, Ednaldo Rodrigues, mantém Ramon no cargo enquanto trabalha na substituição de Tite, que assinou a rescisão em janeiro último, após seis anos no comando técnico e fracassos em duas Copa do Mundo. Terminou 2018 em 6º lugar e 2022 em 7º.
'Seu Adenor', o Tite, assumiu a Canarinho em 2016. Saiu debaixo de críticas. Mesmo com surpreendentes 80% de aproveitamento adquiridos em 81 partidas. Foram 60 vitórias, 15 empates e somente 6 derrotas. Mas título é que conta. E só veio um: a Copa América de 2019. A de 2021 foi perdida em casa para a arquirrival Argentina, capitaneada por Lionel Messi.
A alegria momentânea de parte dos torcedores pela saída de Tite, rapidamente virou decepção e desconfiança. Cinco meses se passaram e a CBF ainda não definiu um substituto. Nomes não faltam. O de Carlo Ancelotti figura no topo da lista. O italiano tem contrato com o Real Madrid até junho de 2024 e deve renovar. Nada disso diminuiu o ímpeto de Ednaldo em trazê-lo para o Brasil.
O presidente da CBF admitiu que a meta é convencer Ancelotti a assumir a Seleção. Para ele, não há outro nome na mesa no momento tão competente quanto o italiano. "É um grande gestor de grupo. Aqueles atletas que jogaram com ele têm saudades, o elegem como o melhor treinador da carreira".
Jogadores começam a opinar
O atacante Richarlison é um dos que compõem o time pró-Ancelotti. Já o elogiou em diversas oportunidades e pontuou que a trajetória artilheira dele no Everton, da Inglaterra, teve participação direta do mister. Para o 'Pombo', a definição do técnico precisa ser logo, para dar início de uma vez na preparação para a próxima Copa. Outras estrelas da Canarinho, como Rodrygo e Vini Jr. também elogiaram o comandante. São até suspeitos para falar, já que estão sob comando de Ancelotti no Real Madrid.
Demora, descrédito e desconfiança
A demora na definição leva a CBF ao descrédito. Jorge Jesus chegou a atrasar negociação após saída do Fenerbahçe, da Turquia. Parece ter abandonado a expectativa. Segundo o jornal ‘A Bola’, o ex-Flamengo será o próximo técnico da Arábia Saudita e assinará por três anos, ou seja, até o fim da Copa 2026 no Canadá, Estados Unidos e México.
Outro português, Abel Ferreira, está entre os cotados. Pesa contra o técnico do Palmeiras a personalidade forte. Como se os problemas de relacionamento fossem maiores que os expressivos resultados dele. A diretoria alviverde, ciente da possibilidade de saída, já largou na mesa um contrato de renovação. Quer estender até 2027 o vínculo que termina em dezembro de 2024.
A desconfiança pesa ainda sobre as opções brasileiras. Fernando Diniz foi campeão carioca pelo Fluminense, mas o caldo começou a desandar pelo Brasileirão. A queda precoce na Copa do Brasil também não ajudou. Já Dorival Júnior acabou de assumir o São Paulo e parece arrumar a casa. É do perfil de técnico que raramente volta atrás após firmar contrato.
Maior período sem técnico
Diante de um cenário que começa a se tornar escasso, Ednaldo Rodrigues segue na política de tentar agradar a todos e se reuniu com os jogadores mais experientes da Seleção Brasileira em busca de opiniões. Quer um luz no fim do túnel. Só que bateu na mesma tecla. Levantou a possibilidade de esperar até julho de 2024 por Carlo Ancelotti.
Os presentes na reunião foram Casemiro, Danilo, Alisson e Marquinhos, zagueiro do PSG e único a falar sobre o encontro. "Tivemos uma conversa com ele e não cabe a mim dar informações sobre o passo a passo do que a Seleção está fazendo. Depende da maneira. Ele tem um plano a seguir, nós damos ideias, mas a decisão é dele", afirmou.
Caso opte por aguardar Ancelotti, a Seleção fará mais oito jogos com um treinador interino. E a tendência de longevidade para Ramon Menezes. Ele já protagoniza o maior período da Seleção Brasileira sem um técnico oficial. Antes desse momento, o maior foi entre 2002 e 2003, logo depois do pentacampeonato no Japão. Na ocasião, Luiz Felipe Scolari deixou o cargo em 9 de agosto de 2022 e, quase cinco meses depois, Carlos Alberto Parreira voltou ao cargo em 8 de janeiro de 2003.
Bagunça
Só que o ex-craque não está num céu de brigadeiro. A bagunça é tamanha que atrapalha até a Seleção sub-20, a qual ele oficialmente é técnico. Foram cinco convocações para definir os jogadores que disputariam o Mundial. Fruto da política de Ednaldo Rodrigues em evitar desagradar os clubes. A CBF deixou que fossem vetadas convocações à rodo. Pedrinho, do Corinthians, foi uma delas. Vitor Roque, do Athletico, também. Endrick, do Palmeiras, foi a gota d'água que escancarou o absurdo.
Na Seleção principal a situação não é tão diferente assim. Sem Neymar, por causa de uma lesão no tornozelo direito, a lista de convocados tem 14 remanescentes da Copa do Mundo do Catar e quatro estreantes: os laterais Vanderson e Ayrton Lucas, o zagueiro Nino e o meia Joelinton.
Pelo menos a política de tentar agradar alcança até aos torcedores. Foi atendido o clamor popular das presenças de Raphael Veiga e Rony, do Palmeiras, além da manutenção de Pedro, do Flamengo. Só que Ramon Menezes parece tão perdido na situação que tratou Malcom, do Zenit, como um novato na Seleção, mas ele já havia sido convocado duas vezes, embora não tenha atuado com a amarelinha ainda.
O deslize pode ser justificado pela falta de suporte. São tantas indefinições na CBF que no momento falta até um coordenador técnico. O cargo deixado por Juninho Paulista, junto com Tite, seria ocupado por Ricardo Gomes. Só que ele desfalcou a delegação que partiu para a Europa porque foi infectado pelo vírus da dengue. Na falta de um profissional, o gerente de planejamento Hamilton Correia tem acumulado funções. Como diziam os antigos: o último a sair, por gentileza, apague a luz.