Cadeiras, guarda-chuvas, caixas térmicas, água, sucos, sanduíches e camisas do Bahia. É com isso que mais de 100 pessoas se prepararam para dormir na fila, em frente à Bilheteria Sul da Fonte Nova, na noite desta quinta-feira (4). Eles aguardam a abertura da venda dos 1.500 ingressos restantes para o clássico Ba-Vi do próximo domingo (7), que decidirá o campeão baiano de 2024. A comercialização está prevista para começar às 8h de sexta (5).
No início da fila, alguns afirmaram ao Portal A TARDE que chegaram ao local por volta de meio-dia. Durante a tarde e, principalmente no início da noite, mais pessoas foram se juntando, após o fracasso na tentativa de compra de ingressos nos dias de venda exclusiva para sócios do Bahia.
O tricolor Robson Guimarães, de 43 anos de idade, explicou que o motivo para tamanha disposição e dedicação é o amor pelo Bahia, sentimento que cultiva desde a infância, influenciado pelo avô.
“É uma paixão, né? Falar do Bahia é um negócio que mexe com a gente, que arrepia os pelos do corpo, mexe com o coração, com a emoção, mexe com a cidade. Eu sou Bahia desde pequeno, meu avô era Bahia, então eu nasci sendo Bahia. E torcer para o Bahia é algo diferente. A gente só está esperando que o time esteja à altura do que a torcida”, relatou o torcedor, que declarou ainda estar confiante na conquista do título baiano.
Assim como outros 68 mil torcedores, Robson é sócio do Bahia. Agora, ele busca adquirir ingressos também para seu núcleo familiar, a quem ele deseja influenciar na paixão pelo Esquadrão, repassando assim o legado deixado por seu avô tricolor.
“Eu sou sócio do Bahia há mais ou menos um ano e meio. Consegui me associar. Estou vindo aqui para poder comprar ingresso para minha filha e para minha esposa”, afirmou, antes de responder com um “Bora, Bahêa” as buzinas de carros que passavam no local.
Mas não eram apenas torcedores os que estavam presentes na fila que se forma em frente à Fonte Nova. Alguns cambistas também buscam garantir seu lugar, inclusive pagando para que outras pessoas comprem ingressos para eles. Uma jovem, que não quis se identificar, confessou à reportagem do Portal A TARDE que deve receber R$ 100 pelos quatro bilhetes que poderão ser comprados por ela.
“Estou aqui na fila com fome e cheia de ódio. Mas, se eu receber meu cenzão, fica tudo certo”, disse a jovem, que estava acompanhada de pelo menos mais seis outras pessoas.
A atuação dos cambistas incomoda os torcedores do Bahia que estão apenas em busca de um lugar para torcer pelo Esquadrão no próximo domingo. David Luan, de 30 anos, reclamou da falta de organização do Bahia, que, segundo ele, estaria favorecendo os comerciantes ilegais de bilhetes em detrimento dos torcedores.
“Sou associado do Bahia desde que eu nasci e estou aqui esperando na fila agora, às 19h, para pegar um ingresso de manhã. Tenho dois dias tentando e não consigo. Isso é um absurdo. O Bahia deveria ter mais respeito pela gente”, reclamou David, que ainda sugeriu o uso da tecnologia para identificar quem é torcedor e quem é cambista.
“A biometria é essencial para poder resolver isso. Mas eu vejo que o pessoal interno provavelmente está ganhando dinheiro em cima disso aí, porque tem como controlar. Se 68 mil sócios fizerem a biometria, o Bahia vai ganhar o dinheiro dele e quem é torcedor mesmo vai estar no estádio. Dar dinheiro a cambista? Não existe isso, não”, apontou David.
Quem também sugeriu o uso da biometria para evitar a fraude dos cambistas na Fonte Nova foi Wellington, de 28 anos de idade. Segundo ele, a tecnologia já tem sido usada pelos grandes clubes do país, facilitando a vida dos torcedores na compra de ingresso e no acesso aos estádios.
“O que a gente está passando aqui é uma humilhação. Não tem necessidade de entrar em uma fila dessa aqui, em uma hora dessas, para poder comprar ingresso. Isso aí não existe, não. Isso só existe aqui em Salvador, na Bahia, velho. Na arena do Palmeiras, o ingresso é facial, por biometria. Você chega lá com sua biometria, você pega seu ingresso, você entra para assistir o seu jogo. No Corinthians, está sendo assim também. Na maioria dos times grandes, está sendo assim. Só aqui que não está sendo assim”, bradou o torcedor.
“Em uma hora dessa aqui, era para todo mundo estar em casa, a mãe e o pai de família estarem em casa. Mas estão aqui, ó, na fila, arriscando a vida, em tempo de passar alguém aí de carro, de madrugada, fazer até uma arte com a gente. Isso não existe não, pô”, acrescentou.
Wellington, que é sócio há mais de um ano, tentou comprar ingresso durante a manhã, em uma das lojas oficiais do Bahia instaladas nos shoppings da Região Metropolitana de Salvador. Mas, assim como a maioria dos tricolores, não teve sucesso.
“Fui no Iguatemi cedo. Cheguei lá, peguei uma fila imensa e quase ninguém conseguiu comprar ingresso. O site bugou. A menina falou que o sistema parou. Não deverem ter liberado nem 80 ingressos. Acho que venderam no máximo uns 50 ingressos. Depois de umas quatro horas na fila, começou a aparecer ingresso na mão de cambistas, de uma hora para a outra. Isso é uma vergonha para a gente que é sócio do Bahia”, lamentou.