De gestor de órgãos públicos a presidente do Esporte Clube Vitória. Essa foi a reviravolta que Fábio Mota viveu na sua vida profissional em menos de um ano.
Seu comando à frente do clube começou numa virada de chave, quando, em maio do ano passado, devido à saída de Paulo Carneiro, precisou assumir o clube de forma interina. Ainda que de maneira provisória, Mota sentou-se na cadeira da presidência e, de cara, já tinha um grande objetivo para alcançar: tirar o Vitória da Série C.
Passaram-se alguns meses e, em setembro, ele foi eleito com mais de 800 votos, como mandatário do Rubro-Negro para o triênio 2023 a 2025. Naquela época, o Leão ainda não tinha conseguido o acesso pra Série B. Mas no final, tudo deu certo. Ou não.
Neste início de ano, o dirigente vive uma das maiores pressões dentro do clube ocasionada pelos fracassos do time no Campeonato Baiano, no Nordestão e na Copa do Brasil. O caos é tanto que houve até a possibilidade de renúncia.
Sendo assim, Mota tem viso que gerir um clube não é nada fácil e, em entrevista exclusiva ao MASSA!, detalhou tudo do Leão sobre finanças, planos futuros, melhorias nas estruturas do Barradão, contratações, divisão de base e muito mais. Confira a entrevista completa:
Quais os planos a curto e médio prazo que você tem para executar enquanto estiver à frente do clube?
Fábio Mota - O Vitória precisa de renda e de novos recursos para manter a despesa que é muito alta. O Vitória gasta hoje R$ 9 milhões por ano com a base. E pra ter uma base forte, tem que ter essa estrutura. Então, a gente já fez o acesso à portaria, já fizemos a terraplanagem, e drenagem para a construção de seis campos de futebol ao lado da concentração. A gente pretende ter ali, dois mil alunos matriculados, para que a partir dessa renda a gente tenha R$ 500 mil por mês. Além disso, terá um bar temático, um restaurante, uma loja para produtos e também para fardas dos meninos que vão atuar. A ideia é cobrar cerca de R$ 250 pela mensalidade. Pretendemos ter esse projeto inaugurado até julho deste ano para que ele possa funcionar a partir de agosto. É uma fonte de renda, é um dinheiro novo que vai entrar no clube, voltado exclusivamente para a base. Não só do ponto de vista financeiro, mas que também, dessa escolinha saiam também novos talentos para as categorias de base do clube. O Vitória vai construir sua escolinha própria, acho que esse é o projeto principal que a gente tem nesse exato momento.
Pretende fazer algum tipo de reforma na estrutura do Barradão?
FM - Cobrir parte do Barradão, principalmente a dos sócios. E tem o terceiro que é um novo estacionamento que a gente está planejando que é em frente ao estádio. A prefeitura já nos cedeu a área. A gente precisa aumentar o nosso estacionamento com a mesma quantidade de vagas. Assim que a gente finalizar a academia, vamos fazer ele.
A expectativa é realizar dispensas após a chegada dos novos reforços neste momento?
FM - A missão de contratar não é fácil e essa missão sem dinheiro fica mais difícil. Então, a assertividade fica bem menor. E por isso acontecem os erros. Se eu tivesse aqui R$ 70, R$ 80 milhões para contratar, seria diferente. Esse ano, por exemplo, a gente começou com R$ 11 milhões negativo, ou seja, tinha que pagar para começar a contratar e inscrever. Erramos no início. Esses erros a gente está tentando consertar agora. Nós já dispensamos inclusive, esses jogadores. Eles sabem que não vão continuar no Vitória.
Como andam os processos de pagamentos de dívidas do clube com a Fifa referente às contratações feitas antes da sua gestão?
FM - Quando chegamos no clube ano passado, a gente não podia inscrever jogadores por causa dos ‘transfer bans’. Então, desde quando assumimos, até hoje, a gente tem dívidas passadas que impediram o Vitória de fazer contratações. Logo no primeiro momento a gente teve que pagar ao Boca Juniors, que devia, depois ao jogador Walter Bou. Tivemos que parcelar Jordy Caicedo, Universidade Católica. Tivemos que pagar o Red Bull Bragantino, referente ao lateral Fabiano, tivemos que pagar um time do Uruguai. Enfim, quando se soma isso tudo são R$ 11 milhões. Pagamos 80% e ainda temos algumas pra pagar, mas hoje, nesse momento, a gente não corre risco de ter novo ‘transfer ban’, em função de ter regularizado isso.
De que forma esses débitos impactam na gestão do clube?
FM - Isso atrapalhou em tudo no planejamento do elenco. Imagine se esses R$ 11 milhões não tivessem sido pra pagar a dívida onde ele estava? O nosso time seria bem melhor do que o que temos hoje. Isso impacta em tudo. Poderia ser usado também pra pagar outras dívidas. Quando assumimos o clube devia R$ 117 milhões de INSS, Imposto de Renda à Receita Federal. Porque existe uma coisa no futebol que se chama o Profut, onde você consegue parcelar. O Vitória perdeu o Profut por falta de pagamento. Então ficou praticamente inviável. A gente teve que readequar tudo isso.
Quais foram os principais desafios enfrentados no primeiro momento que assumiu o clube?
FM - Acho que a crise financeira. Eu estou no clube há um ano e quatro meses, sendo que no primeiro momento com o afastamento do presidente [Paulo Carneiro] e a renúncia do vice eu tive que assumir e o mandato mesmo pelo qual eu fui eleito eu assumi em janeiro. Nós assumimos o Vitória na Série C, sem cota de TV, com salários atrasados. Cinco meses com salários atrasados de funcionários, jogadores, com as condições patrimoniais e esportivas completamente degradadas. Os campos da base, por exemplo, não tinham condições de fazer treinamento porque não tinha drenagem. Qualquer chuvinha virava um pântano. O campo do estádio também completamente comprometido, a concentração do clube com muitas infiltrações, TVs queimadas, ar condicionados com problema. Eu assumi o clube na maior crise da história do Esporte Clube Vitória, que é uma instituição centenária.
Como foi a fase turbulenta que o Vitória viveu em 2022 antes do acesso?
FM - Difícil porque tudo isso vem do reflexo financeiro. Não adianta. Não se faz futebol profissional no Brasil sem dinheiro. Antes que acontecesse tudo isso a gente teve que trazer patrocinadores pro clube. Nós botamos aqui no ano de 2022 mais de R$ 10 milhões de patrocínios e aí possibilitou que a gente regularizasse salários de funcionário, salários de jogadores, pagassem os bichos, os fornecedores. Além disso, o time começou a vencer e a torcida passou a abraçar. Lógico que a torcida foi fundamental, mas se a gente não tivesse patrocinadores para pagar salário, hotel, passagem aérea, a gente ia pra Série D mesmo. Eu acho que deu sintonia. Houve uma união muito grande de toda diretoria que aqui estava com os jogadores e uma superação. Acho que tem a mão de Deus nisso e tem a superação. A gente trabalhou muito, acreditou muito. Nosso objetivo ano passado era voltar pra Série B, conseguimos com muito suor e ajuda da torcida que foi essencial para a coroação desse objetivo. Mas foi bem difícil.
Atualmente, mesmo com tanta cobrança decorrente das três eliminações, você considera que as coisas estão mais tranquilas comparadas ao ano passado?
FM - O ano passado foi bem pior porque a gente poderia ter caído pra Série D, e íamos virar um Santa Cruz, um Paraná. Com a estrutura que o Vitória tem, quase 500 mil metros quadrados de área aqui em Salvador, com sete campos de treinamentos, estádio, conta de energia alta. Tem alojamento para 150 meninos. Então o Vitória precisa de R$ 5 milhões para sobreviver todo mês. E na Série C ou D era impossível. Já está muito difícil na B, por isso que nosso objetivo esse ano é voltar para A. Então eu considero que esse ano está bem melhor porque a gente conseguiu manter os salários em dias, as condições do clube hoje são bem melhores. Temos academia que reformamos toda com nível bom, campos, concentração. Nosso desafio começa em abril, quando a gente estreia contra a Ponte Preta.