
O coreógrafo e bailarino Zebrinha, e a cineasta Susan Kalik, provocaram uma reflexão sobre o mercado audiovisual durante a 6ª edição do Festival de Artes de Alagoinhas (FESTA), com a exibição do documentário ‘Ijó Dudu, Memórias da Dança Negra na Bahia’, na noite de quinta-feira (5), no Centro Cultural da cidade. Com o tema ‘Alagoinhas em Cena’, o evento destaca produções que exaltam a cultura e o protagonismo negros.
Após a exibição, Zebrinha e Susan Kalik participaram de um bate-papo com o público e com o Portal MASSA!, discutindo o processo de criação do documentário e as reflexões provocadas pela obra.

O filme mergulha na trajetória de homens e mulheres negros que utilizaram a dança como instrumento de resistência e afirmação, denunciando episódios de racismo enfrentados por esses pioneiros e revelando o processo de autodescoberta de suas identidades por meio da arte.

“Sempre tive vontade de contar o outro lado da história. Nossa história sempre foi contada do lado branco. Existe uma carência enorme dessa história ser contada por pretos, e foi isso que fiz. Eu não nasci pra ter dúvida, não nasci pra encarar nada como desafio. Pedra no meu caminho eu pulo”, disse Zebrinha, quando perguntado sobre os desafios de dirigir seu primeiro filme.

Susan Kalik contou que ficou reflexiva ao conhecer histórias até então desconhecidas por ela e defendeu o alcance do filme às crianças negras como forma de fortalecimento identitário.
“O que mais me provocou na escrita foi o fato de não conhecer essas pessoas. Eu conhecia levemente uma ou outra, como Mestre King. Para além da carreira e do trabalho, eu não sabia do pioneirismo. Por muitas vezes o documentário me atravessava, pois toda vez que eu assisto, eu choro de novo. O que eu quero é que esse documentário passe em tudo quanto é lugar. As crianças pretas precisam saber”, declarou a roteirista.
FESTA como ferramenta de fortalecimento cultural
Idealizador do Festival de Artes de Alagoinhas (FESTA), Nando Zâmbia afirmou que o evento é uma ferramenta para fortalecer a arte da região e promover o desenvolvimento da identidade artística da cidade.

“Para falar sobre o FESTA, tenho que falar sobre o impacto que o Festival Teatro Destaque fez na minha vida. Aluno de escola pública, vim para o teatro e minha vida mudou completamente. A tal liberdade interna, senti naquele momento, quando você, de forma responsável, sente que pode fazer tudo, que pode construir a sua narrativa. Então, com o FESTA acontecendo, a gente ainda não tem a dimensão do que é o festival, mas muitos artistas passaram por aqui e isso catapultou. Nossa missão é catapultar a obra artística alagoinhense, dar a essa obra o sentido de potência. Então, a cidade vai se elaborando a partir do festival. Você vai apresentar, falar sobre, entender e discutir sobre o seu fazer”, declarou.

Para a atriz e dançarina Fabíola Nansurê, natural de Alagoinhas, o evento é muito mais que uma exibição de filmes: é um espaço importante para visibilidade, fortalecimento e mobilização da classe artística.
“Desde a concepção, a gente já percebia o quanto o FESTA seria importante para celebrar nossa resistência, potência e o lugar que a gente ocupa. O evento muda a vida de Nando, por exemplo, e mostra o poder que temos de mobilizar pessoas. Nossa cidade precisava disso. Ver o crescimento do festival, artistas mostrando seu trabalho, ouvindo sobre suas criações, nos inspira. O FESTA diz: ‘Você pode fazer. E eu quero saber o que você está fazendo’”, afirmou.