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Polêmica - 22/11/2025, 07:00 - Artur Soares

Tremembé reacende debate sobre os limites das obras true crime

Série é acusada de romantizar criminosos que chocaram a história do Brasil

Tremembé reacendeu a polêmica sobreo gênero true crime
Tremembé reacendeu a polêmica sobreo gênero true crime |  Foto: Divulgação/Prime Video

Obras que focam em retratar crimes reais, mais conhecidas como true crime, sempre levantaram polêmicas sobre sua legitimidade. Com a estreia de Tremembé, série que aborda o cotidiano no presídio que contém criminosos de repercussão nacional, os debates acerca desse tipo de produção voltaram com tudo.

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Desde que a série estreou, Suzane Von Richthofen, que aparece como uma das personagens principais da história, decidiu voltar para as redes sociais e acumulou mais de 150 mil seguidores em sua conta no Instagram. A fama da criminosa dividiu o público, tendo aqueles que acham errado dar esse tipo de holofote para bandidos, enquanto outros acham interessante saber detalhes sobre crimes que chocaram o Brasil.

“Suzane Von Richthofen é protagonista de uma série de repercussão nacional, então é como se fosse uma pessoa famosa, uma artista. Qual é a pessoa que não quer eventualmente se encantar com um artista? Quando você traz glamour para uma atividade criminosa, é óbvio que as pessoas que te cercam vão te tratar não só pelo respeito e pelo medo, mas por uma admiração doentia”, argumentou o jurista Rogério Matos, em entrevista ao MASSA!.

Interpretada pela atriz Marina Ruy Barbosa, Suzane Von Richthofen é uma das protagonistas da série
Interpretada pela atriz Marina Ruy Barbosa, Suzane Von Richthofen é uma das protagonistas da série | Foto: Divulgação/Prime Video

Sendo especialista na área há 15 anos, Rogério defende que esse tipo de produção acaba colocando bandidos na posição de celebridades. Ele aponta que essa fama acaba influenciando o comportamento até dos próprios presos. “Na própria série mostra que ela [Suzane] vira uma celebridade dentro da cadeia. Esse tipo de exposição midiática, essa celebração dos bandidos, acaba fazendo ela ser ovacionada”, pontuou.

Veja o trailer da série:

Mas as consequências dessa fama não se restringem aos muros da penitenciária. Para Rogério, essa glamourização dos criminosos pode acabar incentivando pessoas a cometerem crimes. “Minha maior preocupação como jurista é você idolatrar o criminoso. Nessa série, os protagonistas são os assassinos, deixando de forma obscura quem deveria ter essa exposição, que são as vítimas”, afirmou.

Filmes e séries sobre criminosos estão se popularizando no mundo todo

Produções sobre o assassino em série Jeffrey Dahmer fazem sucesso na Netflix
Produções sobre o assassino em série Jeffrey Dahmer fazem sucesso na Netflix | Foto: Divulgação/Netflix

Antes da estreia de Tremembé, a Netflix já havia investido em séries sobre Jeffrey Dahmer, Lyle e Erik Menendez e Ed Gein, todos criminosos que marcaram a história dos Estados Unidos com sua brutalidade. O empenho em desenvolver mais produções desse gênero pode indicar uma crescente na busca do público por consumir true crime.

“Eu acho que aumentou, pelo simples motivo de que todos nós gostamos de histórias, sejam boas ou ruins. O true crime é um tipo de gênero que chama a atenção pelas reviravoltas”, apontou o influenciador literário Irving Bruno.

Influenciador literário Irving Bruno
Influenciador literário Irving Bruno | Foto: Reprodução/Instagram @irving_bruno

Além de ser um consumidor do gênero, Bruno também faz conteúdo sobre livros que abordam crimes reais. Para ele, esse tipo de produção acaba atraindo dois tipos de público. “Tem as pessoas que têm o prazer de consumir esse tipo de conteúdo e tem as pessoas que querem entender melhor como é esse universo do crime”, explicou.

O influenciador argumenta que esse tipo de obra precisa ser feito com uma atenção especial para não cair na romanização. “Eu acredito que todo tipo de conteúdo que envolve coisas negativas, como hábitos nocivos ou crimes, por um lado faz a gente compreender melhor certos aspectos que envolvem um crime e por outro lado existe uma certa fetichização daquilo”, pontuou.

O impacto psicológico de Tremembé

Imagem ilustrativa da imagem Tremembé reacende debate sobre os limites das obras true crime
Foto: Divulgação/Prime Video

A série também demonstra Suzane Von Richthofen como uma mulher sedutora, apesar dela não ser o único exemplo de um preso que conquistava corações. O Maníaco do Parque, outro criminoso que chocou o Brasil, recebeu diversas cartas de mulheres apaixonadas ao longo de sua estadia na prisão. A psicologia chama esse fenômeno de hibristofilia, que é quando alguém desenvolve interesse sexual ou amoroso por alguém que cometeu um crime. Séries como Tremembé podem servir como motores para intensificar essa condição.

“A hibristofilia é uma espécie de parafilia. Eu imagino que ela tenha fundamentos orgânicos e fisiológicos, como a maioria das parafilias, mas nenhum sintoma se manifesta sem um contexto cultural. Então sim, obras como essa se beneficiam e fomentam a expressão de comportamento como esses”, detalhou a psicóloga Júlia Amorim.

Série sobre o Maníaco do Parque teve o ator Silvero Pereira como protagonista
Série sobre o Maníaco do Parque teve o ator Silvero Pereira como protagonista | Foto: Divulgação/Amazon Prime

Para muitas pessoas, o true crime serve como uma forma de entender as justificativas de algo injustificável. Júlia explica que esse interesse pode ter origens psicológicas. “O horror e o absurdo são fascinantes justamente por serem incompreensíveis. Ao mesmo tempo que vivemos em um mundo bastante violento, as pessoas não conseguem raciocinar o que se passa por trás de atos tão violentos, daí surge esse fascínio por compreensão e aproximação daquilo que não se entende”, acrescentou.

A psicóloga alerta sobre os impactos que esse tipo de glorificação de bandido pode ter no público. Apesar disso , ela não se opõe à produção de obras do gênero. “Eu não acredito que as obras true crime devam ser censuradas ou que sua circulação deva ser suspendida. Eu acho que são uma fonte de entretenimento interessante, no entanto, me parece que o culto que é criado ao redor das figuras criminosas é um pouco preocupante”, disse.

O que o público acha?

Imagem ilustrativa da imagem Tremembé reacende debate sobre os limites das obras true crime
Foto: Divulgação/Prime Video

Apesar de todas as polêmicas, parte do público continua defendendo o true crime como uma forma de entretenimento como qualquer outra. Ana Clara, que consome o gênero ativamente, defende que esse tipo de obra não é capaz de influenciar ninguém a cometer um crime. “Eu acho que o que incentiva a cometer crimes é nossa própria sociedade e a desigualdade social que estamos vivendo. A partir do momento que vemos que um tem muitos e outros têm pouco, você fica tendo ideias que fica pensando que poderia realizar”, defendeu.

A jovem começou a se interessar mais por esse tipo de produção em 2018, quando escutou um podcast sobre a morte do menino Evandro Ramos Caetano, no Paraná. “Eu sempre me perguntei o que leva uma pessoa a matar a outra à sangue frio. Sempre que eu penso sobre isso, eu imagino que jamais faria isso, então sempre tive essa dúvida. Então, como eu sempre gostei de psicologia, eu sempre parei para estudar aspectos psicológicos dessas pessoas”, explicou.

Apesar de ser uma defensora do gênero, Ana não nega que existem algumas produções que acabam romantizando os crimes. Em casos como esse, ela garante que opta por não assistir. “Algumas obras acabam mesmo romantizando as pessoas. Quando eu vejo alguma crítica falando que a obra está romantizando ou quando eu começo a assistir e começo a perceber uma certa banalidade da situação, eu meio que evito”, declarou.

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